Megadeth – Resenha de “Dystopia” (2016)

 

E os primeiros ares de 2016 nos trouxeram um dos principais lançamentos musicais do ano no âmbito da música pesada, “Dystopia”, o novo álbum do Megadeth

Principalmente para nós brasileiros, “Dystopia” foi de ansiosa espera, afinal, a banda norte-americana recentemente adicionou o guitarrista Kiko Loureiro (Angra) à formação

Logicamente, este fator poderia gerar um terreno perigoso, alicerçado pelas armadilhas da expectativa.

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Megadeth, “Dystopia” (2016)

Ainda existiam os fãs que esperavam o retorno da formação clássica da banda (com Marty Friedman e Nick Menza) amparados por rumores que pipocavam nos veículos de comunicação, dando um empurrão para as saídas de Chris Broderick e Shawn Drover, guitarrista e baterista, respectivamente.

Mais tarde, saberíamos que toda esta atividade em torno  da reunião fora comandada pelo escudeiro de Mustaine, o baixista David Ellefson.

Águas turbulentas passadas, o gigante do Thrash Metal americano anunciou nova formação e novas composições.

E justamente quando somos expostos à densa, maciça e virtuosa carga de guitarras de “Dystopia”, vemos que o cenário de desventuras e rupturas foi superado, mais um vez, e enfim Dave Mustaine conseguiu oferecer aos seus fãs o melhor álbum do Megadeth, desde Youthanasia (1994), em uma nítida evolução de criatividade técnica musical.

A abertura com a furiosa The Threat Is Real já nos mostra um impressionante desfile de eficiência metálica, em andamentos de guitarra que ecoam os melhores momentos do álbum Killing Is My Business (1985).

Não pense que este fato imprime um sentimento de auto-referência saudosista, pura e simples. As guitarras trampadas, a bateria com força cavalar e o baixo conciso foram uma constante durante toda a carreira da banda, bem como os riffs e solos cortantes em linhas de guitarras inspiradas e recheadas de virtuosismo.

Neste contexto, “Dystopia” não apresenta nada de novo. Todavia, o Megadeth caminha por um trilha moderna, lançando mão do que melhor apresentou musicalmente ao longo de sua história.

A faixa título, que vem na sequência, corrobora de modo veemente este fato, encarnando espíritos da fase Rust In Peace (1990), com linhas vocais instigantes e guitarras furiosas que produzem riffs insanos.

Concordo que em alguns momentos a produção poderia soar mais orgânica, mas tendo em vista a temática gráfica de “Dystopia”, este clima levemente sintetizado que as faixas apresentam submerge os elementos típicos da banda em uma realidade musical alternativa.

Tudo soa como uma coletânea de um Megadeth oriundo de um universo paralelo ancorado numa distopia digital e inorgânica.

Dentro desta observação, os novos estilos impressos por Loureiro e pelo baterista Chris Adler (Lamb of God) foram indispensáveis para a sonoridade da banda ter uma vibração diferente das anteriores formações do Megadeth, principalmente pela técnica bestial (no bom sentido) que cada um demonstra em seu respectivo instrumento.

O próprio Mustaine em recente entrevista corroborou esse fato dizendo que “quando você adiciona Kiko e Chris, que são grandes músicos, o céu o limite”. 

Inclui-se também neste pacote a forma diferenciada e mais sombria que Mustaine apresenta suas linhas vocais, fugindo dos antigos “ganidos” angustiados.

De modo frio e direto, Dystopia vem expandir as fronteiras sonoras da banda, sem tirar sua identidade, mas modernizando ainda mais sua formatação, enquanto nos guia por uma viagem ao longo de sua alternativa discografia.

Fatal Illusion, por exemplo, é dinâmica, inteligente, multivariada e cheia de detalhes que remetem ao álbum Peace Sells (1986).

Já Death From Within poderia estar enfileirada em uma versão distópica de Youthanasia (1994), enquanto a belíssima Poisoness Shadows tem aquele tempero hard rock melancólico de Cryptic Writings (1997), com andamento mais cadenciado, melancólico e envolvente, detalhes vocais sagazes e um andamento final ao piano (registrado por Loureiro) de beleza fria, compondo uma das melhores faixas de “Dystopia”, ladeada pela sensacional instrumental Conquer Or Die.

Apesar de remeter em diversos momentos à sua própria obra, a banda não padece de auto-indulgência, pois remodelaram seus elementos característicos e até correram alguns riscos, saindo da sua zona de conforto em alguns momentos.

Definitivamente foram extremamente felizes ao forjar um conjunto de canções dinâmicas e oxigenadas, de audição fluida e nada cansativa.

A ótima Bullet To The Brain contribui fortemente para esta situação positiva, investindo em efeitos interessantes e um refrão que remete diretamente ao que Alice Cooper fez no álbum Dragontown (de 2001 e curiosamente um álbum conceitual ambientado numa espécie de distopia).

Outras contribuições para a variabilidade envolvente de “Dystopia” estão em Post American World (sombria e cadenciada), na direta The Emperor (com riffs roqueiros e remetendo ao injustiçado The World Needs A Hero [2001]) e na veia punk  de Foreign Policy.

Acredito que se esta formação se estabilizar ao longo dos próximos anos, a reformulação da sonoridade do Megadeth poderá ser positivamente amplificada pela maior homogeneidade da união de habilidades dos músicos e do entrosamento que só a estrada fornece.

É importante salientar que os quatro não haviam tocado juntos até começarem a produção de “Dystopia” e esta leve folga nas engrenagens das composições ainda é perceptível em alguns momentos, mas nada que venha a prejudicar o resultado final do álbum, que certamente será um dos melhores de 2016.

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