SLAM | Vamos Falar de Poesia?

 

Por Laira Arvelos.

Muitas vezes escuto as pessoas falarem que não conseguem gostar de poesia, acredito que seja pela forma como foi apresentado a ela na escola, (há sempre formas traumáticas possíveis), seja pela erudição por muito acompanhada a ela, seja por achar difícil entender.

Se você realmente acredita não gostar de poesia, eu gostaria que parasse um pouco e avaliasse a sua vida, por que tudo é poesia, viver é poesia, pois tudo serve a poesia como diria Manoel de Barros:

“Tudo aquilo que nos leva a coisa nenhuma

E que você não pode vender no mercado

Como, por exemplo, o coração verde

Dos pássaros, serve para poesia”

(…)

“Tudo aquilo que a nossa

Civilização rejeita, pisa e mija em cima,

Seve para poesia”

Uma vida sem poesia é cinza, metódica, controladora, embora possa se fazer poesia disso, poesia é liberdade, é um brincar com palavras, é tirar delas sons, sentimentos, construir através delas sonhos, mensagens, cores, ritmo, melodia, discurso; justiça.

Quando tenho a honra de estar diante dos poetas (lê se deuses), sinto a alma nua e a disposição pra bailar a valsa das palavras, quando Adélia Prado descreve a dor do amor, dizendo que ele fere é debaixo do braço de um vão entre as costelas. Que atinge seu coração  por esta via inclinada. Que ela poe o amor no pilão com cinza e grão de roxo e soca. Macera e faz dele cataplasma e poe na ferida”,  quando Bukowisky fala do pássaro azul que quer sair do peito, ahhh Bukoswski, sarcasmo, e sentimento de uma forma tão cruelmente humana, ou quando os milhões em Fernando Pessoa se eternizam em “Não sou nada, nunca serei nada. Não posso querer ser nada. A parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo”, quando Emicida vem com seus “passarinhos soltos a voar disposto a achar um ninho nem que seja no peito do outro”, ou quando Magiezi faz um livro que você jura de pé junto que tudo que ele escreveu estava na sua cabeça ou foi feito pra você…

A lista é infinda, mas a tradução do que não é tocável em palavras é fascinante.

E a identificação e conexão que é feita através delas é algo profundo, algo de alma.

Sabe aquele cheiro que você gosta, sabe o sorriso de alguém que você ama, sabe flores de árvores caindo, água que rola, multidão, solidão, saudade, eternidade, respiração; energia. Tudo é poesia.

Por mais que goste de poesia lírica, dramática, épica, odes, sonetos, ritmo, métricas e estrofes recentemente fui apresentada ao Slam, considerado um movimento de “nova forma de poesia” que diferente da forma clássica, é livre, onde o verso vem de inspirações do hip hop, rap e repente e que na maioria das vezes aborda questões políticas e sociais, foi um estalo pra ouvir, e porque não falar?

O slam é uma forma de dizer que todo mundo é sujeito criador e pode fazer poesia e tem direito a identidade cultural própria. O Slam é um movimento de resistência.

Este movimento foi criado nos anos 1980 em Chicago, nos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que  a cultura hip hop tomava forma, mas só chegou ao Brasil mais tarde, nos anos 2000.

O campeonato ZAP, Zona Autônoma da Palavra, foi o primeiro deles, trazido pelo Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, um Coletivo Paulistano de Teatro Hip-Hop. Atualmente, existem em torno de 30 slams como o “ZAP” no Brasil.

São Paulo tem o maior número de slams do país, como o Slam Interescolar e o Slam da Guilhermina, bairro da zona leste da cidade. Mas há competições em todo país e uma edição nacional, você sabe se na sua cidade tem slam?

Nesta competição de poesia falada, os poetas apresentam poesias de até três minutos, sem acompanhamento cênico e recebem  nota de zero a dez, pra além de uma competição o movimento é uma grande celebração e populariza e aproxima a poesia que durante tanto tempo foi abominada.

Durante horas no Youtube, ouvi e vibrei e às vezes até decorei as falas de Mariana Felix, uma slammer que representa bastante a mulher na poesia no cenário nacional, e a aproximação, com suas falas, mas uma vez veio de encontro a mim, me fazendo acreditar que era possível também brincar nessa dança das palavras.

Deixa estas amarras de lado, deixa os poréns e desculpas no canto, pegue o papel, a caneta, o computador e o word (ou outro app) para os mais novos, e se permita ser poesia.

Um aviso, só: O caminho não tem volta.

P.S.- E é bem provável que você não queira voltar!

Slam Poesia Mariana Felix ZAP, Zona Autônoma da Palavra Gaveta de Bagunças Cultura Pope e Underground Slam Poesia Mariana Felix ZAP, Zona Autônoma da Palavra Gaveta de Bagunças Cultura Pope e Underground Slam Poesia Mariana Felix ZAP, Zona Autônoma da Palavra Gaveta de Bagunças Cultura Pope e Underground Slam Poesia Mariana Felix ZAP, Zona Autônoma da Palavra Gaveta de Bagunças Cultura Pope e Underground Slam Poesia Mariana Felix ZAP, Zona Autônoma da Palavra Gaveta de Bagunças Cultura Pope e Underground Slam Poesia Mariana Felix ZAP, Zona Autônoma da Palavra Gaveta de Bagunças Cultura Pope e Underground Slam Poesia Mariana Felix ZAP, Zona Autônoma da Palavra Gaveta de Bagunças Cultura Pope e Underground Slam Poesia Mariana Felix ZAP, Zona Autônoma da Palavra Gaveta de Bagunças Cultura Pope e Underground Slam Poesia Mariana Felix ZAP, Zona Autônoma da Palavra Gaveta de Bagunças Cultura Pope e Underground Slam Poesia Mariana Felix ZAP, Zona Autônoma da Palavra Gaveta de Bagunças Cultura Pope e Underground Slam Poesia Mariana Felix ZAP, Zona Autônoma da Palavra Gaveta de Bagunças Cultura Pope e Underground Slam Poesia Mariana Felix ZAP, Zona Autônoma da Palavra Gaveta de Bagunças Cultura Pope e Underground Slam Poesia Mariana Felix ZAP, Zona Autônoma da Palavra Gaveta de Bagunças Cultura Pope e Underground Slam Poesia Mariana Felix ZAP, Zona Autônoma da Palavra Gaveta de Bagunças Cultura Pope e Underground Slam Poesia Mariana Felix ZAP, Zona Autônoma da Palavra Gaveta de Bagunças Cultura Pope e Underground 

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