Sigue Sigue Sputnik | A Vanguarda Cyberpunk do Synthpop Oitentista

 

Misturando elementos que dominavam o mundo da cultura pop na década de oitenta, o Sigue Sigue Sputnik, grupo oriundo da cinzenta Londres, conseguiu destaque muito cedo, muito porque contava com o apadrinhamento de Giorgio Moroder. A música, a imagem e a inspiração da banda vêm de uma variedade de bandas eletrônicas e glam, como Suicide e New York Dolls e musicalmente misturavam timbres eletrônicos, rockabilly e punk rock.

Sigue Sigue Sputnik Synth Punk Pop Cyberpunk

Sigue Sigue Sputnik | A Vanguarda Cyberpunk do Synthpop Nos Anos 1980

Formado em 1982 o Sigue Sigue Sputnik é uma banda formada pelo guitarrista e baixista Tony James, egresso do Generation-X, de Billy Idol, e que idealizava um grupo fictício após a dissolução de sua antiga banda. Desde a estreia ao vivo, em Londres, no ano de 1985, o time completado por Neal X (guitarra), Martin Degville (vocais), Ray Mayhem (bateria) e Chris Cavanaugh (bateria) chamou a atenção pela proposta multimídia, com forte apelo visual e maciço esquema de autopromoção.

Cabe menção de uma curiosidade interessante do início do Sigue Sigue Sputnik. Tony James, enquanto procurava um vocalista para sua nova banda, fez audições com Andrew Eldritch (futuro líder do The Sisters Of Mercy) e Annie Lennox (vocalista do Eurythmics).

As intenções de Tony James e seu Sigue Sigue Sputnik eram declaradas e pretensiosas. “Queremos que o Sigue Sigue Sputnik seja a maior banda de rock n’ roll, tão lendária quanto Elvis. O grupo vai unir música, moda e cultura jovem. Vamos criar um movimento”, declarou o vocalista Martin Degville.

“Somos uma banda de rock n’ roll no sentido tradicional. Fazemos a síntese entre a tradição e as novidades tecnológicas. Usamos todos os recursos ao nosso dispor para incorporá-los a uma música que também resgata elementos do passado. Queremos um som com o qual as pessoas se identifiquem hoje”. Assim Tony James definiu o Sigue Sigue Sputnik em seu início.

Ainda em 1985 eles já estampavam as capas de várias publicações inglesas, sem nem ter um contrato com gravadora e muito menos lançado um disco. O primeiro compacto só chegaria em 1986, pelo selo EMI, para a emblemática “Love Missile F1-11”, uma canção repleta de samples, efeitos especiais e a luxuosa produção de Giorgio Moroder para fundir um synthpop/glam/punk intenso e frenético. Uma curiosidade sobre a produção é que Moroder foi a terceira sugestão da banda para a EMI. As duas primeiras escolhas eram David Bowie e Prince, que negaram o convite.

“Flaunt It” (1986), O Primeiro Álbum

Com este primeiro single já chegam ao Top 10 da parada britânica e aproveitando o embalo, em junho de 1986, o Sigue Sigue Sputnik lança “Flaunt It”, um disco que chama a atenção desde a capa, mas principalmente pelo clima frio, eletrônico, agressivo e distopicamente futurista, capturando os excessos da noite do tecnológico mundo oriental.

Entretanto, apesar do destaque dado ao outro single, “21st Century Boy”, boas músicas como “Massive Retaliation”, “Teenage Thunder”, “Rockit Miss U.S.A.” e “Atary Baby” foram ignoradas como excelentes amostras do exagero eletro/pop/rock oitentista, mezzo Synth Pop mezzo Eletro Punk, e este disco é mais lembrado por ser o primeiro a trazer anúncios publicitários entre as faixas.

“Flaunt It” é pontuado por alguns anúncios reais (para a revista iD e Studio Line da L’Oréal), alguns falsos revestidos de ironia para algo chamado The Sputnik Corporation (“o prazer é nosso negócio”) e o jogo de computador Sigue Sigue Sputnik (que nunca existiu).

A justificativa dada por Tony James recentemente do motivo de inserir propagandas entre as músicas do Sigue Sigue Sputnik é perfeita: “o Sigue Sigue Sputnik era o som de 200 aparelhos de televisão tocando simultaneamente. Então, naturalmente, televisão e anúncios comerciais, bem como amostras de filmes, faziam parte do som.”

Em 1986, poucas bandas eram tão controversas e conflituosas quanto Sigue Sigue Sputnik, tanto que as críticas da mídia especializada foram recebidas com uma dose extra de arrogância por parte de Tony James: “assim que você chega no número 1, todo mundo te odeia. É a política do jornalismo, pelo menos na Inglaterra.

Apesar de gravar o álbum em Los Angeles, em termos de vendas, “Flaunt It” fracassou nos EUA, mal chegando ao Top 100. Uma complicação foi que os samples dos filmes não foram liberadas oficialmente o que travou o lançamento por lá. Preocupada em não descartar as falas do lançamento nos Estados Unidos, a EMI decidiu contratar atores parecidos para replicar os diálogos.

Todavia o resultado final, opina James, foi bem ruim: “Nunca soou o mesmo”, diz ele, arrependido. “Quando você ouve a voz de Malcolm McDowell em ‘Laranja Mecânica’ dizendo ‘Ultraviolência, ultraviolência’, você compra todas as imagens e o sentimento daquele filme. Se é apenas outra pessoa dizendo isso, isso não funciona.”

Mesmo assim, pouco antes do álbum chegar às lojas norte-americanas, o diretor de cinema John Hughes lançou “Ferris Bueller’s Day Off” (no Brasil, “Curtindo a Vida Adoidado”), um clássico adolescente instantâneo que trazia “Love Missile F1-11” como parte de sua trilha sonora. Mas por algum motivo, o estúdio decidiu não lançar um disco com a trilha sonora”, diz Tony James. “Então, embora a faixa estivesse no filme, não havia LP da trilha sonora. Portanto, não nos ajudou tanto quanto esperávamos.”

“Dress For Excess” (1988), o Segundo Álbum

No mercado fonográfico inglês as vendas também foram um fiasco, tanto que as 150 mil cópias vendidas no Brasil superaram e muito as da terra natal do banda. Essa vendagem expressiva no Brasil levou o produtor brasileiro Liminha a trabalhar com eles no single “Rio Rocks” e também na ótima faixa “Jayne Mansfield” que estaria no vindouro segundo disco, “Dress For Excess” (1988), guiado pelo single “Success”.

“Do meu ponto de vista, foi um gesto pop irônico, uma daquelas brincadeiras ao estilo McLaren”, diria Tony James anos mais tarde refletindo sobre a tentativa com o single e o clipe de “Success”. “Em retrospecto, foi um erro porque todas as regras que eu já fiz para o Sputnik, como nunca teríamos fotos à luz do dia, só seríamos fotografados em situações futuristas, que queríamos fazer registros futuristas, e aqui estávamos nós, fazendo um disco que soa como Dead Or Alive.”

Dress For Excess” (1988) trazia na capa a frase “This time is music” (desta vez é música) em resposta às críticas ferozes quanto à extravagância e à pretensão daquele primeiro disco. “No segundo disco, tentamos nos concentrar na música” afirmou Tony James.

Não seria exagero dizer que eles atingiram certa maturidade sonora com “Dress for Excess”. Os samples e efeitos continuam entremeados aos arranjos, mas agora são melhor colocados e contextualizados. No álbum anterior, “Flaunt It” (1986), este artifício se mostrou pouco fluido e natural dentro da música do Sigue Sigue Sputnik.

Dois ótimos exemplos desta evolução são “Jane Mansfield” e a melhor faixa do álbum, “Super Crock Blues”. Este último um rock n’ roll aliado a efeitos eletrônicos de modo coeso formatando uma das melhores canções roqueiras da década, com efeitos muito bem alocados, duelando com solos de guitarra e finamente adornada com belos backing vocals.

A abertura do álbum com “Albinoni Vs Star Wars” também é digna de nota por seu ritmo empolgante e introdução arrebatadora, assim como “Rio Rocks”, que fecha o lado A do LP com um clima festeiro. Mas nem só de rock eletrônico festeiro vive o álbum. O lado cadenciado é apresentado na ótima “Boom Boom Sattelite” e na emocional “Dancerama”. As faixas menos brilhantes do álbum são “M.A.D.” e “Orgasm” (uma canção, digamos, espirituosa), mas que ainda possuem seu valor.

Confesso que “Dress for Excess” é um disco que gosto muito, mostrando que o Sigue Sigue Sputnik tinha muito a oferecer se continuassem da ativa. Isso fica claro no desfecho do disco, onde temos um belo tema introspectivo (inspirado no melhor do pós-punk, com elementos de Kraftwerk e David Bowie) intitulado “Is This The Future?” e de longe a melhor faixa do trabalho, que é um dos grandes álbuns incompreendidos da década de 1980.

Infelizmente, apesar de este disco ser melhor do que o primeiro, o fracasso de vendas foi ainda maior. Tony James confessaria que “ficamos desiludidos com o fracasso inesperado do segundo disco”. Mesmo assim, “Dress For Excess” alcançou a posição 53 na parada de álbuns do Reino Unido com os singles “Dancerama” e “Albinoni Vs Star Wars” atingindo as posições 50 e 75, respectivamente.

O Fim do Sigue Sigue Sputnik

Tentando aproveitar o sucesso no Brasil a banda inicia a turnê mundial por aqui em maio de 1989, passando, inclusive, no palco do programa de Fausto Silva. Todavia, os fracassos de mídia e público levaram  ao fim do Sigue Sigue Sputnik em 1990, após lançarem “The First Generation”.

Este disco era um compilado de versões demo de músicas do primeiro LP, junto a três faixas inéditas e um cover para “Rebel Rebel” de David Bowie, um confessa influência da banda. Tanto que Tony James dizia que eles “eram os filhos bastardos de Ziggy Stardust”. Neste mesmo ano Tony James é convidado e integrar o Sisters of Mercy e Chris Cavanagh ruma para o Big Audio Dynamite II, ao lado de Mick Jones.

Em 1995, após Tony James sair do Sisters of Mercy, ele e Neal X formaram uma nova versão do Sigue Sigue Sputnik com o vocalista Christopher Novak e o tecladista John Green, conseguindo algum destaque no Japão com a música “Cyberspace Party” impulsionando as vendas do disco “Sputnik: The Next Generation” (1996) por lá.

Na verdade, “Sputnik: The Next Generation” não é realmente um disco do Sigue Sigue Sputnik, mas sim um desdobramento conceitual – um projeto de música pop/house usando o estilo e o conceito da banda, mas usando músicos diferentes sob a produção de Neal X e Tony James, que, por sua vez, não tocaram no disco.

“Quando revivemos a ideia, a internet tinha acabado de surgir e havia muitos sites dedicados ao Sigue Sigue Sputnik”, diz James. “Tínhamos um grande culto de seguidores e pensei que talvez pudesse fazer o Sputnik existir no ciberespaço. Mas, é claro, quando você olha para trás, um grupo jovem e sexy que se parece com Ziggy Stardust, simplesmente não funciona quando você é mais velho. Então, embora tenhamos feito alguns shows, aquela magnífica nave estelar chamada Sputnik não deveria estar aparecendo em pequenos clubes.”

Três anos depois, Degville retornaria aos vocais da banda que logo começou a se apresentar novamente, o que resultou nos lançamentos de “Piratespace” (2000), “Blak Elvis vs. the Kings of Electronic Rock and Roll” (2002) e “Ultra Real” (2003). Porém, os problemas com Neal e Tony recomeçariam e ele sairia novamente em alguns anos e até montaria outras versões do Sigue Sigue Sputnik, batizadas de Sputnik 2, Sputnik 2 – The Future, e Sigue Sigue Sputnik Electronic. Porém, oficialmente a banda não existe mais, sendo seu último lançamento o disco “Ray of Light” (2007).

A verdade é que o Sigue Sigue Sputnik era um espécime musical à frente do seu tempo e a postura chocante junto a uma massa sonora vanguardista para os padrões derivativos do pop oitentista não foi realmente compreendida e absorvida. Tanto que os dois primeiros discos não soam anacrônicos até hoje como o próprio Tony James concorda:  “Ainda acho que nossos discos soam à frente de seu tempo”. “Acho que ninguém mais havia conceituado a ideia de uma banda de rock and roll futurista”, ele completa.

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