Sepulchral Voice | Entrevista com o guitarrista Luiz Sepulchral

 

Sepulchral Voice é um nome tradicional dentro do underground metálico nacional.

Nascida na era de ouro do metal extremo mineiro, nos fim dos anos 1980, a banda ajudou a consolidar uma cena que tinha como representantes Sarcófago, Witchammer, Holocausto, Sexthrash, dentre outras.

Infelizmente, as pedras e obstáculos do underground, além das dificuldades da época, impediram o Sepulchral Voice de lançar seu primeiro full lenght, que só chegou após mais de três decadas de sua fundação, o recém-lançado “Evil Never Rests”.

Conversamos com o guitarrista e fundador Luiz Sepulchral sobre essa longa trajetória, o lançamento do aguardado primeiro disco e toda a filosofia old-school que envolve o Sepulchral Voice, na entrevista que você confere a seguir.

Sepulchral Voice - Entrevista com guitarrista Luiz

 

Sepulchral Voice – Entrevista com Luiz Sepulchral

Primeiramente, agradeço o tempo cedido para essa entrevista e atenção com o site Gaveta de Bagunças. Apesar de ter nascido no fim dos anos 1980, o primeiro álbum de estúdio só saiu agora, em 2020. Qual a sensação de ter “Evil Never Rests” concluído e lançado?

Luiz Sepulchral: Para nós, é um prazer conversar com vocês. Em relação a pergunta estamos com sensação de dever cumprido, visto que conseguimos trazer a mesma atmosfera dos anos 80  sem ser algo artificial.

 

Como está sendo a repercussão de “Evil Never Rests”?

Luiz: O álbum tem recebido boas críticas dos veículos especializados e o público entendeu a proposta da banda. Temos recebido muitos elogios dos fãs que aguardavam há tempos um álbum do Sepulchral Voice.

 

No release o álbum é definido como “dez faixas poderosas do mais puro caos violento e agressivo Death Metal mineiro”. Acredita que existe uma forma particular em Minas Gerais de praticar o death metal? Se sim, quais seriam as principais características do death metal mineiro?

Luiz Sepulchral: A forma como surgiu o metal em Minas Gerais, onde havia o desejo de se rebelar aos dogmas impostos pela sociedade mineira (sociedade altamente religiosa com rígidos padrões de educação, família, enfim, uma merda), acabou por despertar em uma geração a vontade de demonstrar este descontentamento e a música parece que refletiu bem esta experiência. Entendo que o metal mineiro foi forjado na vontade pois no início quase ninguém possuía técnica pra tocar de forma profissional, etc.  Entendo que a fórmula mineira para fazer metal é a preocupação em soar mais visceral que técnico.

 

Antes de entrarmos nos detalhes do álbum gostaria de passear pela trajetória da banda e voltar ao fim dos anos oitenta, quando foi fundada, na histórica cena de Belo Horizonte/MG, junto com Witchammer, Holocausto e muitas outras. Quais as lembranças daquela época?

Luiz Sepulchral: Época bem difícil onde aparelhagem era muito cara, não havia instrumentos de qualidade que não fossem importados, fazíamos ensaios num quarto em casa  e na época acredito não ter estúdio para ensaios ou se houvessem o custo disso estaria além das nossas condições. De todo, apesar das dificuldades, as bandas acabaram por tornar parceiras. Tivemos contato trocando ideias e até apoio em shows e ensaios do pessoal do Holocausto (grandes parceiros). Contato com o pessoal do Mutilator, Witchammer, pessoal do Butcher, Decapitation, Disease, Mark do Chakal. Frequentávamos alguns ensaios do Holocausto inicialmente no Bonfim onde membros destas bandas que citei compareciam também e posteriormente o Holocausto passou a ensaiar no estúdio onde ensaiavam Mutilator e também tinham encontros nesses locais, batíamos ponto na Cogumelo pra acompanhar os lançamentos e conversar com a galera, haviam shows onde a galera comparecia em peso.

 

Por que você acha que o Sepulchral Voice não obteve o mesmo destaque dos principais nomes daquele período? E o que levou ao fim da banda após a demo tape “Unreal World”?

Luiz Sepulchral: A questão do destaque é que sempre nos associavam a outros lançamentos com destaque na época. Esta situação não foi somente com o Sepulchral Voice. Existiam muitas bandas despontando no cenário e a gravadora que apostava nelas era a Cogumelo, então várias bandas acabaram por ficar numa longa fila de espera para um lançamento de coletânea, e depois um álbum. Ficamos em atividade de 1987 a 1992, creio que não deu tempo pra sermos vistos como a próxima atração que teria seu álbum lançado.

 

Foram quinze anos até retorno das atividades em 2017. Fora a tecnologia e as várias possibilidades de divulgar a trabalho da banda, quais as principais diferenças que a cena atual tem com aquela do fim dos anos 1980?

Luiz Sepulchral: Nos anos 80 as bandas lançavam material físico seja uma demo ou um álbum, as pessoas adquiriam ou pegavam emprestado e ouviam todo material. Hoje apesar dessas possibilidades de postar em streamings, as pessoas ouvem de forma aleatória, ou seja, ouvem vários artistas de uma só vez entre eles uma das suas músicas nele. As apresentações ao vivo as pessoas compareciam aos shows, hoje elas aguardam o vídeo do show na integra ou partes deste.  Por outro lado, naquela época os shows eram poucos, qualidade muito a quem. Hoje temos mais possibilidades e melhores recursos. Precisamos encontrar o ponto de equilíbrio entre as coisas positivas dessas gerações.

 

Após esse retorno, vocês gravaram uma demo-tape autointitulada. Por que não um primeiro álbum logo de cara?

Luiz Sepulchral: Precisávamos gravar este material para sentir se realmente estávamos no caminho certo daquilo que traçamos desde o início da banda. Como dito anteriormente, a banda não teve seu álbum nos anos 80 e com isso não obteve o mesmo destaque das bandas da época, então não poderíamos arriscar um álbum sem a certeza destes objetivos traduzidos nas composições. Temos certeza que quem ouve o disco pensa que se tivéssemos lançado nos anos 80 estaríamos em destaque também. Então, foi uma questão apenas temporal.

Sepulchral Voice - Evil Never Rests (2020)
Sepulchral Voice – “Evil Never Rests” (2020,
Dies Irae Records)

Em “Evil Never Rests” a banda registra as quatro faixas dessa demo-tape de 2017. Existe material mais antigo, da primeira fase da banda, retrabalhado para este primeiro disco?

Luiz Sepulchral: Neste álbum fizemos 2 releituras do material antigo. “In Storm” é uma música da primeira demo da banda e “Unreal World” da última demo antes do hiato.

 

As outras seis composições do disco me pareceram mais puxadas ao death metal sujo e direto em comparação aos aspectos mais thrash metal das músicas que vieram da demo-tape de 2017. Estou certo?

Luiz Sepulchral: Sim. Ocorre que as composições são após a demo de 2017 e apresentando mais uma guitarra. Quando finalizamos a demo de 2017 percebemos que as músicas ficaram ótimas, porém faltou aquele peso ou sujeira ao fundo que encorpa o som. Então trouxemos o Ronaldo Ron Seth para a banda e pude criar arranjos de fundo com a guitarra dele dando esse efeito. Ficou mais death do que thrash.

 

São dez composições em “Evil Never Rests” carregadas de peso e clima old school, direto e sem espaço para modernidades, até mesmo na produção e na capa. A intenção era realmente trazer aquela vibração oitentista para o disco? 

Luiz Sepulchral: Exatamente, foi pensado desde as músicas até a concepção de capa. Como disse não seria verdadeiro ressurgirmos fazendo um som contrário a essência inicial da banda. E em segundo plano colocamos o nome da banda no rol dos nossos contemporâneos.

 

A faixa “Evil Never Sleeps” foi lançada como lyric-video. Você acredita que essa música é a ideal para apresentar o som de vocês para quem ainda não conhece? Já adianto que as minhas favoritas seriam “In The Storm” e “Conjuration Of Zumbies”.

Luiz Sepulchral: Essa faixa possui um coro que dá destaque a mesma, além de levar o tema do disco. Na verdade todas as músicas representam a banda bem. Temos recebido elogios e comentários sobre as melhores músicas e não há uma unanimidade o que nos parece que o disco está todo nivelado com 10 boas músicas, isso é muito gratificante, geralmente a expectativa são 03 músicas de destaque unânimes e outras boas músicas. (N.E.: confira o lyric video de “Evil Never Sleeps” aqui)

 

Fale um pouco sobre o tema das letras, existe algum direcionamento especifico ou um conceito nelas?

Luiz Sepulchral: As letras falam sobre a essência da raça humana (pior essência). Falamos do ódio entre os povos por raça, cor etc. A destruição do planeta pelo busca de poder e lucros, religião manipulando as pessoas em troca de dinheiro, alienação das pessoas e a manipulação de massa. Também há letras com temas diversos como terror. Geralmente surgem ideias nos ensaios e até alguns temas históricos que acabam sendo exploradas.

 

A banda está engajada com o projeto social “Comida que Abraça”. Queria comentasse um pouco sobre essa iniciativa que é muito importante nesse momento difícil que passamos em 2020.

Luiz Sepulchral: Este projeto nasceu por intermédio do nosso baixista, o Pepê Salomão, juntamente com sua esposa. Eles possuem um restaurante e apresentaram um projeto para fornecer marmitex para as pessoas em exclusão social. Abraçamos a ação que neste momento de pandemia torna-se ainda mais necessário.  Foi criado um canal para recebimento de doações em dinheiro para apoio na aquisição dos insumos para os marmitex. Acessem o endereço e lá terão maiores informações sobre o projeto: https://www.vakinha.com.br/comida-que-abraca

 

Tendo em mente todos os percalços causados pela pandemia que vivemos, já existem metas de longo e médio prazo para a Sepulchral Voice?

Luiz Sepulchral: Alguns shows de lançamento do álbum tiveram que ser adiados. Já temos composições para lançamento de novo material, geramos alguns conteúdos como clipes, vídeos, etc. Provavelmente, tudo será lançado no decorrer do desse e do próximo ano.

 

Para finalizar, agradeço novamente a oportunidade da entrevista, e fique à vontade para pontuar algo que queira mencionar fora das perguntas acima.

Luiz Sepulchral: Agradeço a oportunidade de passar aqui algumas informações e obrigado ao Gaveta de Bagunças pelo espaço para divulgarmos cada vez mais nosso tão amado metal nacional! Curtam e sigam nossas mídias sociais, isso nos ajuda muito!

 

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