RESENHA | Scum Noise – “Era Absurda” (2021)

 

“Desde que o momento absurdo é reconhecido, ele se torna a mais angustiante de todas as paixões”. Esta citação de Albert Camus está na em seu clássico “O Mito de Sísifo” e na contra-capa de “Era Absurda”, quarto álbum da banda brasileira de hardcore/crust  Scum Noise.

Lançado pelo selo Heavy Metal Rock em parceria com Fuck It All Records, “Era Absurda”, tem na citação de Camus um eufemismo filosófico para o som de revolta que o disco representa como um todo.

Scum Noise - Era Absurda (2021, Heavy Metal Rock, Fuck It All Records)

Desde que foi formada no interior paulista no início dos anos 1990, a banda Scum Noise tem como premissa discutir as mazelas da humanidade, com foco maior na realidade dura dos países de terceiro mundo, em letras emolduradas  por músicas rápidas, pesadas e incisivas.

Até por isso, é possível ouvir influências claras de Ratos de Porão, Cólera, Lobotomia, Discharge e nomes escandinavos como Rattus, Crude S.S. e Anti Cimex, ao longo de todas as quatorze músicas de “Era Absurda”, que bradam contra a violência urbana, a desigualdade social e corrupção da classe política, numa visão sócio-política bem resumida em  pauladas como “Raça Humana”, “Estado de Sítio” “Desordem e Regresso”.

Primando pela liberdade de expressão, os gritos de revolta impressos em “Disturbio Mental” (rápida, seca e direta), “Terra de Ninguém”, “Facada na Costa” são destaques imediatos do disco, pela forma com que canalizam a energia do discurso através das timbragens barulhentas e da execução violenta dos temas, impressos por uma produção orgânica e crua.

Já outras faixas, como a introdução instrumental “Sars- Cov-2”, “In You We Don’t Trust” (que refrão!), “Controlled Life” “Fake News” trazem algo de thrash/crossover para o jogo, principalmente nos riffs pesados e na forma relativamente mais versátil de elaborar sobre sua fórmula musical.

Ou seja, o Scum Noise não perde a agressividade inerente aos protestos musicados e se mantém incólume como forte representante do underground paulista, justificando a receptividade que banda tem entre seus pares, seja no Brasil ou no exterior.

Cabe aqui menção ao excelente trabalho do guitarrista Giovani, que consegue transitar por estilos de modo direto, sem perder o fio da meada dentro da personalidade bem definida da banda, seja nos riffs pesados e rápidos (como pode ser conferido em “P.C.R.”) ou nos solos cheios de energia e pegada metálica.

É fato, também, que o timbre sujo e old-school da sua guitarra ajuda muito no peso das músicas e potencializa ainda mais a remissão do timbre do vocalista Sérgio aos de Tom G. Warrior, do Celtic Frost, e Max Cavalera, ora ou outra, principalmente nas músicas em inglês.

Não há muito mais o que dizer sobre esse petardo de pouco menos de quarenta minutos, além de que ouvi-lo é uma ótima forma de exorcizar os sentimentos negativos causados por uma realidade moderna nada confortável!

“Era Absurda”, até por isso, é um disco indicado para quem gosta de se revoltar contra tudo isso que está aí!

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