Savatage – “Handful of Rain” | Você Devia Ouvir Isto

 

“Handful of Rain”, clássico primeiro disco da banda SAVATAGE após a morte de Criss Oliva, é nossa indicação de hoje na seção VOCÊ DEVIA OUVIR ISTOcuja proposta você confere nesse link.

Savatage - Handful of Rain (1994, 2019, Shinigami Records) Resenha Review

Definição em um poucas palavras: pesado, melódico, progressivo, guitarra, classudo².

Estilo do Artista: Heavy Metal

Comentário Geral:  O Savatage tem momentos-chave em sua trajetória que refletiram diretamente em discos importantes.

Primeiramente foi de a chegada de Paul O’Neill, em  “Hall of the Mountain King”, trazendo um norte para o heavy metal do Savatage, mostrando aos irmão Criss e Jon Oliva que dava pra ser pesado e cativante ao mesmo tempo.

Até aquele momento haviam lançado três discos de estúdio e um EP, onde claramente tateavam em busca de sua personalidade dentro do heavy metal, indo do peso de “Sirens” (1983) ao apelo comercial de “Fight for the Rock” (1986).

Após  “Hall of the Mountain King” o Savatage estava confiante para ir além, e ousou em discos como “Gutter Ballet” (1989) e “Streets – A Rock Opera” (1991), buscando ainda mais o senso da Broadway mesclado ao heavy metal pesado, deixando a sonoridade bombástica e dramática.

O segundo momento-chave na carreira do Savatage é a chegada de Zak Stevens, que deu uma nova gama de possibilidades e um tom mais profissional e seguro às linhas vocais do Savatage, deixando para Jon Oliva apenas as composições a preocupação com os teclados.

Esse momento-chave refletiria no histórico “Edge of Thorns” (1993).

E apesar do destaque ao novo vocalista, o brilho do disco estava no guitarrista Criss Oliva, executor de um trabalho impecável, tanto em solos quanto em riffs. Técnica e criatividade em sua máxima expressão em prol do heavy metal tradicional.

Até por isso, sua morte trágica, em 17 de outubro e 1993, foi tão traumática para o heavy metal noventista e o momento-chave mais impactante dentro da biografia do Savatage. Tanto que não se sabia o que ia ser da banda dali em diante.

Esse terceiro momento-chave refletiria diretamente em “Handful of Rain”, disco do Savatage lançado em 1994, cercado de tristeza, luto e excelência musical.

O próprio Jon Oliva assume que esse “é o disco mais difícil e o mais emocional álbum o qual eu já trabalhei.”

Durante anos circularam histórias de quem havia tocado nas sessões de gravação do disco, e qual era a formação do Savatage naquela época de incerteza.

Após um período de luto, Jon Oliva se reuniu com Paul O’Neill para discutir a situação do Savatage e compor uma música para homenagear Criss, que viria a ser “Alone You Breath”. Esta faixa fecharia “Handful of Rain” com tom épico e emocional.

Porém, quando ela foi composta, ainda não havia a proposta de um novo álbum do Savatage naquele momento, algo que mudaria rapidamente e a dupla Oliva/O’Neill logo rumaria novamente para a cidade de Tampa, na Flórida, entrando no estúdio Morrisound apenas com aquela música e o desejo que manter o legado de Criss vivo.

O restante da banda, entretanto, ainda não havia superado a tragédia e não se engajou no projeto iniciado por eles. O que não os impediu de começar a compor para aquele que viria a ser seu oitavo disco de estúdio, frutificando em faixas como “Watching You Fall”, “Stare Into the Sun” “Castles Burning”.

O primeiro integrante a fazer contato com a dupla foi o vocalista Zak Stevens, que chegou após metade do álbum estar escrito para ajudar com os vocais.

Jon Oliva acabou gravando bateria, baixo, algumas guitarras, além dos teclados e chamando o amigo Alex Skolnick, guitarrista do Testament, para gravar as partes de guitarra mais complexas.

Egresso do Testament, Alex Skolnick ficaria apenas para esse disco e faria a turnê, mas à época ele estava mais ligado ao fusion e ao jazz com seu Alex Skolnick Trio.

No disco, como era de se esperar, o trabalho de Skolnick é espetacular, longe de querer emular o estilo de Criss Oliva, e colocando toda a sua técnica em prol da musicalidade pesada e progressiva do Savatage.

Anos mais tarde, Jon Oliva testemunharia sobre a formação que gravou “Handful of Rain”:

“Neste álbum tem fotos de todos os músicos, mas somente eu, Paul, Zak e Alex trabalhamos no disco. Alex gravou todos os solos e eu gravei a bateria, o baixo, teclados e as guitarras”.

Mesmo assim, Oliva teve crédito oficial apenas como tecladista por causa de um antigo problema contratual com o ex-empresário, o mesmo que o impediu de ser creditado no álbum anterior.

“Handful of Rain” abre com o peso furioso de “Taunting Cobras” (que esbarra no thrash metal com força nos riffs e dinâmica noventista nas linhas vocais) e o contraponto de luz e sombra da faixa-título (que chega na sequência apostando numa dramaticidade profunda e carregada), deixando nítido desde o princípio que este certamente era o disco mais obscuro e denso do Savatage até aquele momento.

“Taunting Cobras” trazia a inspiração de Criss Oliva nos arranjos de guitarra, assim como ouviremos mais tarde em “Nothing’s Going On”, ambas revelando não só o lastro que o guitarrista deixou na forma de compor da banda, mas também como o som do Savatage continuava técnico, pesado e catártico.

Musicalmente, o disco é brilhante e não deve em nada ao grandes trabalhos da carreira do Savatage, à começar pela produção primorosa que conseguiu capturar todas a sombras e melancolia que cercam as composições e potencializar o peso dos momentos mais intensos.

A excelência musical que virou sinônimo do Savatage está aqui, em cada movimento, mas é melhor encapsulada na belíssima “Chance”, uma composição que chega com toda a herança que eles têm da obra do Queen e dos musicais da Broadway

Essa música seria uma espécie de ponto de transição na forma de compor do Savatage sem Criss Oliva e seria uma espécie de molde para várias outras composições dos vindouros trabalhos da banda.

Não só “Chance”, mas principalmente ela, inseriria na musicalidade criado por Jon Oliva e Paul O’Neill em “Edge Of Thorns” (1993), novos elementos sinfônicos e de formas, além de explorar os contrapontos vocais, que seriam ainda mais utilizados nos próximos álbuns.

Mesmo assim, é inegável que este é um disco com a marca do Savatage, um pouco menos pesado que outrora, mais trabalhado, progressivo e melódico, como percebemos nas já citadas “Stare into the Sun” (com cacoetes bluesy), “Castles Burning” “Watching You Fall” que carregam um clima sombrio.

O Savatage ainda lançaria ótimos discos como “Dead Winter Dead” (1995), o espetacular “The Wake of Magellan” (1997) e o épico “Poets and Madmen” (2001) trazendo nas guitarras Al Pitrelli e Chris Caffery.

Para muitos, a perda de Criss Oliva quebrou a magia da banda de uma forma irrecuperável, mas talvez “Handful of Rain” merecesse mais atenção desses tantos, e por isso VOCÊ DEVIA OUVIR ISTO!

Ano: 1994

Top 3:  “Chance”, “Taunting Cobras” “Handful of Rain”

Formação: Jon Oliva (teclados, guitarra, baixo, bateria), Alex Skolnick (guitarra) e Zachary Stevens (vocais).

Disco Pai: Queen – “A Night At The Opera” (1975)

Disco Irmão: Rage – “Lingua Mortis” (1996)

Disco Filho: Trans-Siberian Orchestra – “Beethoven’s Last Night” (2000)

Curiosidades: O baterista Steve Walcholz não seguiu nem mesmo em turnê. Ele saiu da banda por um problema auditivos poderia deixa-lo completamente surdo se continuasse a fazer shows, por causa do volume alto. Em seu lugar entrou Jeff Plate.

Pra quem gosta de: Recomeços, arte como remédio para o luto e discos-solo.

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