Roger Waters: ‘Is This The Life We Really Want?’ – Um manifesto político!

 

Dos sentimentos anti-guerra às críticas ao capitalismo “Is This the Life We Really Want?” de Roger Waters é um manifesto político em forma de rock progressivo.

Nesta resenha mostramos porque “Is This the Life We Really Want?” é um álbum de protesto, com visões textuais agressivas quanto a ruína social da humanidade, dicotomicamente desenvolvida por melodias doces e harmonias hipnóticas, de tonalidades teatrais e cinematográficas, num exercício de paradoxos artísticos que refletem as contradições de nossa atualidade.

Dos sentimentos anti-guerra às críticas ao capitalismo "Is This the Life We Really Want?" de Roger Waters é um manifesto político em forma de rock progressivo.

Um ícone da história do Rock! Poucos são os músicos que vestem esta epígrafe com tamanha propriedade quanto Roger Waters. Como um dos membros fundadores, líder intelectual, e letrista do Pink Floyd, ele marcou o gênero progressivo, como precursor e desbravador, obtendo sucesso tanto comercial, quanto de crítica com álbuns irrepreensíveis como “The Dark Side of The Moon” (1973), “Wish You Were Here” (1975), e “The Wall” (1979).

Sua personalidade artística e musical sempre se mostrou confrontadora, e seu discurso profundo, cheio de alegorias, questionava as incongruências de sua época.  E neste “Is This The Life We Really Want?”, quarto álbum solo de estúdio, e o primeiro em vinte cinco anos com músicas inéditas (o último foi “Amused to Death” [1992]), Roger Waters promove um declarado manifesto anti-Trump, indo além da crítica gratuita, por versos inspirados.

“Is This The Life We Really Want?” de Roger Waters é um álbum politicamente carregado que aborda questões como guerra, capitalismo e desigualdade social. Com suas letras instigantes e mensagens poderosas, este álbum exige atenção e encoraja os ouvintes a questionar o status quo. Produzidas e mixadas por Nigel Godrich (Radiohead, Paul McCartney), estas 12 novas músicas contém “comentários inabaláveis sobre o mundo moderno e os tempos incertos”, emolduradas musicalmente por um rock progressivo esfumaçado, com as tradicionais digitais de Roger, e impregnado de uma lisergia distópica, sendo tão afável e suave quanto sombrio e denso.

Abaixo você tem ofertas de “Is This The Life We Really Want” e “Us & Them”, de Roger Waters, respectivamente, em discos de vinil.

Abrindo com a tradicional psicodelia adocicada, de melancolia paranoica, arranjos emocionais e voz que ecoa grandes clássicos do Rock, temos “Dejá vù”, uma obra-prima do rock progressivo contemporâneo, de beleza advinda da sombra emocional que explode e retrai como uma tempestade de sentimentos. A fórmula progressiva de Waters permanece envolvente e bela, mas também ousada e esmerada, tocante em seus mínimos detalhes, incluindo diálogos, violões, pianos, efeitos, e teclados. Porém, todos estes elementos se aglutinam em prol da música triste e requintada, mesmo em seu aparente minimalismo em certos momentos.

Claro que não faltam remissões à sonoridade clássica do Pink Floyd, de álbuns como “Animals” (de 1977, e que criticava as condições político-sociais da Inglaterra dos anos 70) e “The Final Cut” (de 1983, e que mais parecia um álbum solo de Roger Waters), principalmente nas faixas “Part of Me Died”, “Picture That” (uma das melhores do álbum, que consegue ser lisérgica e distópica ao mesmo tempo), e “Smell the Roses” (e sua ironia roqueira), mas nada que soe autocópia, pois o tempero é diferente.

Roger Waters tem personalidade própria, ousando e experimentando tempos, texturas, e harmonias, mesmo que sutilmente como em “The Last Refugee”, na hipnótica faixa-título onde o arranjo de cordas flui num suspense cinematográfico, e em “Bird in a Gale” (com sua intensidade incômoda).  Estas são mostras que “Is This The Life We Really Want?” é um álbum que consegue ser melancolicamente melódico e angustiantemente agressivo.

No geral, destacamos os backing vocals e os arranjos de cordas que roubam, junto ao piano, o protagonismo das guitarras, abrilhantando o álbum como um todo, num contraste com a “inorganicidade” das texturas eletrônicas vintages (“Picture That”, por exemplo, seria composta pelo The Doors se o universo fosse desenhado pelo escritor Philip K Dick), ao lado das usuais baladas de Rogers Waters desfiladas em “Broken Bones”, “The Most Beautiful Girl” e “Wait for Her”. Mas claro que nada que brote da criatividade de Roger Waters é simplório, pois existe muita profundidade emocional nestes temas.

A produção é orgânica, aconchegante, límpida, e honesta, dando a tonalidade perfeita para a musicalidade que se quer desenvolver, sendo moderno  e relevante dentro do Rock Progressivo, chegando a lembrar a incisividade, a eloquência, e o inconformismo musical dos últimos trabalhos de David Bowie, tanto musical quanto textual.

Um dos temas mais proeminentes em “Is This The Life We Really Want?” é um sentimento anti-guerra. Waters, conhecido por seu ativismo e franqueza em questões políticas, usa sua música para criticar o complexo militar-industrial e os efeitos devastadores da guerra. Em canções como “Déjà Vu” e “Picture That”, ele pinta um quadro vívido dos horrores da guerra e do preço que ela cobra de soldados e civis.

Sem dúvidas, Roger Waters é um dos grandes artistas ainda vivos que consegue transformar suas inquietudes e sentimentos, motivados pelo descontentamento com o mundo e com a realidade, em música. Quiçá, ele seja um dos últimos desta linhagem nobre  dentro da música e “Is This The Life We Really Want?”  é a prova disto. Um álbum de protesto, com visões textuais agressivas quanto a ruína social da humanidade, dicotomicamente desenvolvida por melodias doces, e harmonias hipnóticas, de tonalidades teatrais e cinematográficas, num exercício de paradoxos artísticos que refletem as contradições de nossa atualidade.

Leia Mais:

Abaixo você tem ofertas de “The Dark Side of the Moon” e “The Wall”, do Pink Floyd, respectivamente, em discos de vinil.
Abaixo você tem ofertas de “Meddle” e “Wish You Were Here”, do Pink Floyd, respectivamente.
Abaixo você tem ofertas de “Atom Heart Mother” e “Animals”, do Pink Floyd, respectivamente.

Outros Artigos que Podem Ser do Seu Interesse:

1 comentário em “Roger Waters: ‘Is This The Life We Really Want?’ – Um manifesto político!”

  1. Ninguém jamais conseguiu fazer uma obra questionadora do caos e males de nossa humanidade assim como Roger Waters conseguiu fazer em suas canções assim como “Money” aonde reporta poeticamente que o dinheiro representa a ganância e o mal de nossa espécie humana!

    A perspicácia do grande contador de estórias nas quais a sua maior sabedoria é a de sabiamente saber penetrar na obra, e assim tornando-se o personagem objeto dessa estória emprestando a sua voz ao personagem nessa catarse virando essência nessa figura de linguagem, para somente assim encarnando-se no próprio personagem da obra!

    Francisco Leite.
    1/6/2023

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *