Hammathaz – Resenha de “The One” (2020)

 

Apesar de “The One” ser o primeiro álbum de estúdio da banda paulista Hammathaz, ele não é fruto de músicos novatos na cena.

Na verdade, a banda fundada na cidade de Sorocaba já tem uma década e meia de experiência na bagagem, tendo lapidado e evoluído sua identidade musical pelos palcos e pelas consistente coleção de EPs e singles lançados.

Após o hiato entre 2014 e 2017, o Hammathaz retornou determinado a fazer ainda mais e cravar seu nome dentro do metal nacional, entregando-se a uma sonoridade atualizada, mas sem abdicar do peso e da virulência.

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Hammathaz – “The One” (2020, Voice Music, Defense Records)

Musicalmente, o que ouvimos em “The One” é um metal moderno, forte e dotado de peso cavalar, sempre guiado por riffs poderosos e sustentado por uma seção rítmica maciça e versátil.

As influências são variadas dentro desta proposta musical agressiva e posso dizer que o Hammathaz as usa apenas como ponto de partida para construir sua sonoridade própria dentro do espectro musical que vai do thrash ao death metal.

Artifícios modernos advindos do metalcore e do death metal melódico estão bem harmonizados ao groove inerente ao thrash metal noventista e até a certa rispidez do black metal, gerando uma música tensa, bem trabalhada e acachapante.

Nesse sentido, vocais guturais, riffs secos e pesados desenhados por afinações baixas, blast beatsbreakdowns e passagens raivosas entrecortadas por arranjos melódicos são matérias primas que o Hammathaz usa para criar sua sonoridade.

A faixa de abertura, “Farewell”, já coloca todas essas cartas na mesa enquanto “Devil On My Shoulder” traz à tona toda a influência do death metal sueco, tanto da veia brutal da primeira geração quanto da verve melódica da geração seguinte.

Aliás, os vocais de Thiago Pasqualini me lembram um pouco o gutural sepulcral, mas bem definido, de Lars Göran Petrov, vocalista que gravou a maioria dos discos do Entombed.

Seguindo o repertório de “The One”, “From The Grave” nos mostra como o groove pode ser agressivo mas ao mesmo tempo melódico, sem perder a dinâmica impetuosa.

Dizer que criaram algo novo é um exagero, mas isso não elimina o fato de que a forma com que encaixam breakdowns, arranjos groovados, melodias e dissonâncias é muito particular.

O que confere uma identidade marcante e ímpar dentro do heavy metal.

E também cativante, afinal, o grande escritor Joseph Conrad já nos alertava de como o ruído profano nos é fascinante. No caso do Hammathaz, “ruído” seria um sinônimo para música brutal.

Isso já podia ser conferido no single “New Blood”, que está presente no repertório de “The One”, mostrando que, de fato, o Hammathaz cria seu próprio universo pela sua forma de expressão e pelas referências que escolhe.

O trabalho foi gravado no Estúdio Fusão em Cotia/SP com produção de Thiago Bianchi (Noturnall/Shaman), que foi capaz de dar impacto à sonoridade do Hammathaz sem perder os detalhes dos instrumentos.

Tudo pode ser ouvido com rigor, principalmente se você estiver em posse de bons headphones, o que torna a audição uma experiência ainda mais brutal.

Além disso, não trouxeram para “The One” a produção clínica que algumas de suas influências mais modernas insistem em usar e que tiram toda a espontaneidade da música. Mais um ponto positivo para o Hammathaz pela organicidade nas timbragens.

O repertório continua massacrante com o peso técnico de  “Bringing Hell” (com a melhor passagem com solo de guitarra do disco), o  groove selvagem de “Self-Chained” (onde, aliás, o Hammathaz mostra que tem algo diferenciado a oferecer), o ritmo primal e dissonante de “Tear The Walls”, a melodia arrojada de “Irrational Beings” “The End”, que soa como um apelo death metal para os novos tempos.

Por fim, fica a certeza de que esta é uma banda para se acompanhar de perto dentro metal nacional pois, se não dá pra servir a dois senhores (ou se é moderno, ou se é old-school), o Hammathaz escolheu, inteligentemente, o caminho meio no metal extremo.

FAIXAS:

1. Farewell
2. Devil On My Shoulder
3. From The Grave
4. New Blood
5. Bringing Hell
6. Self-Chained
7. Tear The Walls
8. Irrational Beings
9. The End

FORMAÇÃO:

Thiago Pasqualini – Vocais
Thales Stat – Guitarras
Rodrigo Marietto – Guitarras
Anderson Andrade – Baixo
Lucas Santos – Bateria

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