Ghost – Resenha de “Prequelle” (2018)

 

Este disco entrou em nossa lista de melhores de 2018, que você confere completa nesse link 

Ghost Prequelle
Ghost: “Prequelle” (Universal) NOTA:10

O Ghost veio adotar os órfãos daquela sonoridade sombria de conjuntos como Blue Oyster Cult, Pentagram, Saint Vitus, Trouble e Candlemass, conjurando uma discografia com apenas um deslize: “Infestissumam”, segundo disco lançado em 2013.

Muito além disso, o Ghost veio preencher a lacuna do rock no mainstream musical.

Para tal empreitada conjurou um amálgama sonoro que reúne tudo que deu certo no mundo do rock: mistério, ocultismo, músicas com base simples, mas muito bem adornadas em seus arranjos, refrãos infalíveis, riffs pegajosos e um verdadeiro espetáculo teatral em seus shows.

Com esta fórmula “mágica” arregimentaram, num curto espaço de tempo uma verdadeira legião de fãs.

E as composições do Ghost são o principal elemento desta meteórica popularidade, que transcende as fronteiras de público específico, graças a uma música criativa, que consegue ser única, mesmo abrangendo as mais diversas e familiares influências musicais.

Seguindo pela discografia, mesmo sendo “Meliora” (2015) um grande álbum – que resenhamos aqui – creio que “Prequelle”, quarto e mais recente trabalho da banda é o ápice da fórmula musical do Ghost, seja na capacidade de compor músicas envolventes, seja pelos detalhes diferenciais que conseguem imprimir e que dão um charme requintado a seu satanismo gótico (entenda as formas diferentes de satanismo nesse texto).

“Ashes”, a abertura, por exemplo, tem aquele clima apocalítico de filme de terror clássico, onde as sombras e o mal espreitam com requinte e elegância.

Acredito que o Ghost também leva vantagem ao utilizar inteligentemente o atrito de contrapontos. Se em “Meliora” a temática era futurista, a sonoridade embarcava num occult rock mais clássico e de detalhes barrocos.

Agora, em “Prequelle”, o conceito remonta à Idade Média, e a banda buscou inspiração na sonoridade dos anos 1980, mesmo com motivos musicais medievais na faixa “Helvetesfönster”.

Essa observação ganha ainda mais força quando prestamos atenção aos teclados, que abondaram as “texturas eclesiásticas” (que ainda aparecem discretos em “Life Eternal”) e seguiram rumo às sintetizadas formas oitentistas, e principalmente em faixas como “See the Light” (quase como um musical moderno, forte apelo pop, carregando um sentimento oitentista do AOR quando as guitarras aparecem), “Dance Macabre” (na melhor escola rock de FM), “Pro Memoria” (claramente influenciada por Alan Parsons Project), e “Miasma” (um típico hard rock/AOR com direito até a solo de saxofone).

O  heavy rock também está aqui, sem dúvidas. “Faith” traz um riff melódico mas incisivo, numa faixa pesada e envolvente pelos vocais bem ajambrados.

E  o melhor dos dois mundos pode ser resumido em “Rats”, uma das grande músicas de 2018 ao lado da já citada “Miasma”, e que serve de ligação com o álbum anterior.

Resumindo, “Prequelle” sai do futurismo de “Meliora” rumo a Idade Média, apostando em ganchos melódicos saborosos, quase de acessibilidade pop, mas sem diminuir o peso e as sombras dramáticas dos climas e das letras, num conjunto totalmente viciante, e muito bem ilustrado pela belíssima capa que corrompe o clássico retrato do Papa Inocêncio X, pelo prisma gráfico de “Bestial Devastation” do Sepultura.

Sendo assim, a mística da praga, do apocalipse e da Idade das Trevas está permeada em cada refrão grudento, cada riff de teclado ou guitarra.

Esse disco trouxe consigo inúmeras ocorrências de impacto para o Ghost. Processos e polêmicas com a saída de alguns integrantes, o “fim do mistério” em torno do líder da banda, e a interrupção do papado demoníaco refletiram na música apresentada nesse seu quarto disco.

Até por isso, creio que essa grandiloquência melódica supriu  a lacuna de força que outrora era preenchida pelo mistério em torno de Papa Emeritus.

Aos meus ouvidos, esse aspecto melódico é reflexo da maior liberdade que Tobias Forge tem agora apenas como Cardinal Copia, uma espécie de rebelde da própria revolução, com coragem o suficiente para incluir duas faixas instrumentais num disco claramente criado para a divisão de lados do formato LP.

“Prequelle” não lima a teatralidade da banda, pois Cardinal Copia é um servo sob a supervisão de Papa Nihil, que pode ascender ao trono papal satânico do Ghost. Ou seja, na verdade ele amplifica esse aspecto.

E essa tal pegada melódica não diminui o impacto das composições, tendo peso bem administrado com sobriedade climática e letras muito bem sacadas, como em “Witch Image”. 

O Ghost já cravou seu lugar no panteão do Rock e “Prequelle” só mostra sua capacidade de superar as adversidades do mundo da música e fazer disso inspiração para um trabalho que os está levando ao sucesso também fora do nicho heavy metal.

Mais do que isso, “Prequelle” dá uma resposta àqueles que se perguntavam se o Ghost não era apenas um reflexo da realidade musical atual: receitas requentadas dos tempos em que a música tinha originalidade. Este álbum mostra a força da personalidade do Ghost, principalmente!

E senhoras e senhores, “Prequelle” é viciante!

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