R.I.V. – Resenha de “Prog-Core” (2018)

 

Prog-Core

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R.I.V.: “Prog-Core” (2018, Independente) NOTA:8,0

Vinda da riquíssima cena metálica mineira, o Rhythms In Violence, que atende pela abreviação R.I.V., apresenta o primeiro full lenght após a retomada das atividades em 2015.

Historicamente, o R.I.V. é considerado um verdadeiro percussor de um amálgama entre o death metal de alta técnica e cunho progressivo, com elementos do que viria a ser rotulado como metalcore, há mais de duas décadas, quando o termo ainda não era utilizado.

Foram aproximados vinte anos de hiato até que pudéssemos ouvir novamente esta forma ousada de praticar os modos mais pesados do heavy metal, em “Welcome to Prog Core”CD demo de 2016 (resenhado por nós aqui), que antecipava o que ouvimos agora, nessas 12 faixas de “Prog-Core”.

A proposta musical ainda é bem definida no título deste mais recente álbum: desconstruir o crossover e reconstruí-lo por uma geometria progressiva, no ambicioso projeto de criar um novo subgênero do heavy metal.

 O início de “War Flames” nos mostra que teremos altas doses de agressividade, mas por um execução diferenciada. Um ataque impiedoso e caótico que se desenrola também por “Headache” (violenta e groovada), “Testicle Man” (um punk metal arrasa quarteirão) e “Ashes” (atenção às guitarras dessa música).

Entre a gravação de “Welcome to Prog-Core” para o full lenght “Prog Core” existem diferenças consistentes na formação, que passa a ser um trio, o que pode explicar a orientação para crueza do instrumental. Algo que pode ser percebido nas quatro faixas do CD demo que foram regravadas neste novo álbum, ainda mais rápidas.

Porém, o maio problema de “Prog-Core” é a produção e seu papel conflitante entre forma e conceito.

Vou tentar explicar.

De saída, a produção soa muito crua, principalmente na sonoridade da bateria. Se você se incomoda com o som da bateria de Lars Ulrich no álbum “St. Anger” (2003), do Metallica, então pode não ser muito receptivo a faixas como “No… P.A.S.”, por exemplo.

O que causa estranheza, se medimos o esmero das composições, com detalhes e variações claramente bem pensadas. Inclusive, facilmente percebemos que existe uma estrutura de LP na ordenação das faixas, dando a impressão de que “Caligula 2332 d. C.” seria a abertura do lado B.

Além disso, uma rápida conferida no trabalho gráfico do digipack só reforça essa impressão de cuidado com o resultado final.

Pra se ter uma ideia, o encarte é riquíssimo, com letras e ilustrações conceituais, além de painéis contínuos com uma ilustração que reúne o tema de todas as músicas, dialogando ainda com a capa.

O que me leva a questão do quanto essa produção é parte da estética do prog core que o R.I.V. quer desenvolver?

Pois se ela estranha no início, ao menos pra mim, se tornou parte da honestidade crua das camadas de peso e velocidade sobrepostas, gerando um atrito de organicidade primal sobre uma estrutura assimétrica, e na segunda metade do trabalho eu nem lembrava que a produção me incomodou de início, principalmente na sonoridade das guitarras.

Mesmo assim, dá pra perceber  a criatividade da banda em composições pesadas, complexas e entrópicas numa mistura dinâmica de crossover com metal extremo.

O R.I.V. foge do padrão metálico, tanto em detalhes quanto em estruturas, criando um surrealismo-distópico-tecnológico em certos momentos.

As quebras de tempo e a exploração instrumental me fez questionar também o quanto de crossover existe aqui? Afinal, “Prog-Core” soa como prog metal construído com jazz metal, Hardcore (como na ótima “Rainbow Warrior’s Mayday”), e thrash metal.

Talvez, a maior parcelo crossover do álbum se encontre em “Freaks In Action”.

A afinação baixa, o tempo, e as levadas por vezes me lembraram uma mistura de Ministry, com Coroner (nas guitarras rápidas e intrincadas) e Sepultura (principalmente nos vocais agressivo). Ou como se o Nailbomb fosse capitaneado pelo Frank Zappa.

Não existem passagens climáticas, ou respiros nos arranjos. É pedrada atrás de pedrada.

Dentre os destaques, “Delicious Nham! Nham!” tangencia o death metal ao mesmo tempo que me lembrou do clássico da escatologia metálica “Jack Daniel’s and pizza”, do saudoso Carnivore, e “Spiral” com refrão certeiro, algo raro na proposta do R.I.V.

Pode ser exagero dizer que estão criando um novo subgênero do metal, mas também é fato que é difícil encontrar paralelos para comparação. Nesse sentido, a faixa “Progressive Core” além de definir bem a proposta do trio, é a melhor do trabalho.

Porém, mesmo com essa personalidade forte, sendo parte da sonoridade ou não, creio que a produção pode ser um elemento a ser repensado, pois o conceito tecnológico e as mudanças quase matemáticas pedem um aprimoramento para ganharem ainda mais potencial, pois da forma que está, pode dar a errada impressão de ser um material diletante.

Existem exageros? Sim, assim como várias arestas que pode ser aparadas no futuro, como acontece em todo trabalho que tem a coragem de fazer uma exploração musical. E não creio que estes exageros tirem os méritos da vontade de se sair da zona de conforto, do mais do mesmo.

Ao fim da audição, quando o abismo do silêncio se escancara aos pés do ouvinte, sobram apenas as orelhas zunindo e a sensação de ter ouvido algo diferente e instigante!

TRACK LIST

01. War Flames
02. Headache
03. No… P.A.S.
04. Rainbow Warrior’s Mayday
05. Progressive Core
06. Testicle Man
07. Caligula 2332 D.C.
08. Freaks In Action
09. Animal
10. Delicious Nham! Nham!
11. Ashes
12. Spiral

FORMAÇÃO

Helbert Sá – vocais, guitarras
Ana Lima – contrabaixo
Ricardo Bicalho – bateria

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