“The Perfect Element, part 1”, clássico terceiro disco da banda PAIN OF SALVATION, é nossa indicação de hoje na seção VOCÊ DEVIA OUVIR ISTO, cuja proposta você confere nesse link.
Definição em um poucas palavras: Classudo, progressivo, emocional, urbano, conceitual.
Estilo do Artista: Prog Metal.
Comentário Geral: Se seus ouvidos nunca experimentaram a odisseia que á apresentada neste álbum, não se limite a descartar esta experiência apenas pelo estilo listado no item anterior. Geralmente, quando falamos em heavy metal progressivo nossas mentes nos levam diretamente ao som praticado pelo Dream Theater, mas não se engane, a proposta aqui é diferente, apesar das intricadas harmonias que exigem músicos do mais alto gabarito.
Se tivesse que resumir este álbum em uma única frase, esta seria: “versatilidade técnica em prol da sensibilidade musical“. A música aqui apresentada é a mais pura e genuinamente progressiva, variando da peculiaridade alternativa do Faith No More, indo à melodia do Queensryche, delineado pela sensibilidade musical de bandas como Pink Floyd, King Crimson e Gentle Giant e perfumado com toda classe jazzistica que a proposta desta banda permite. Ou seja, a audição deste colar de pérolas em forma de álbum musical é imprevisivelmente deliciosa.
Quando do lançamento desta obra-prima, o quinteto sueco já havia lançado dois outros álbuns (“Entropia” e “One Hour By The Concrete Lake”) que ajudaram a formatar uma sonoridade única, densa e que associava técnica e sensibilidade com maestria. Neste dois passos iniciais uma tradição já estava sendo construída com os álbuns conceituais.
Assim como os dois álbuns precedentes, “The Perfect Element part 1″ trazia um conceito desfilado nos seus versos, mais precisamente a história de duas crianças que tentam sobreviver num cruel e imperdoável mundo moderno cujas vicissitudes são apresentadas em cada uma das doze faixas compiladas na obra.
Musicalmente, é quase impossível comentar de modo geral, tamanha a particularidade de cada composição em suas harmônias e influências que formam um todo musical homogêneo e consistente. A abertura com “Used” transita da veia alternativa vocal do Faith No More ao melodioso refrão que se mostra como um sopro aliviador diante da claustrofóbica melodia dos versos principais.
O solo desta canção é uma obra de arte e esta abertura já evidencia a amplitude e qualidade vocal de Daniel Gildenlow, um dos mais versáteis da história recente do heavy metal. Fato ainda mais notório na faixa seguinte, “In The Flesh”, cuja harmônia casa de modo perfeito ao relato da fuga de casa por parte de uma das crianças, sendo esta um dos maiores destaques do álbum ao lado da seguinte canção, “Ashes”. Densa, de influências multivariadas, é possível sentir a emoção tangenciando nossos sentidos de modo quase concreto em seu andamento cadenciado.
Beleza imaculável é o único adjetivo necessário para descrever “Morning On Earth”. Quaisquer outras palavras são tentativas vãs de descrever esta obra de beleza sem par. Simplesmente sinta-a, pois esta é uma canção além da simples audição. A sonoridade progressiva mostra sua cara em “Idioglossia”, cuja identidade está nos refrões recheados de groove e fluidez, fugindo rapidamente do ufanismo técnico desnecessário e retomando melodias de “Ashes”.
Com o passar do álbum é inquestionável a habilidade em compor harmonias belíssimas e executá-las com naturalidade, em canções longas, porém nada cansativas e “Her Voices” é uma das canções que corroboram tal afirmação. Alternado melodias acalentadoras com momentos de guitarras furiosas, seus quase oito minutos passam rapidamente, culminando na singela “Dedication”. É possível segurar a fragilidade impressa nesta canção guiada por acordes límpidos de violões e vocais irrepreensíveis.
O desfile de obras-primas continua implacável, elencando melodias belíssimas, contrastando com momentos furiosos, empregando toda a técnica no único objetivo de criar canções de qualidade.
Nesta toada, “Reconciliation” (que traz a melodia de “Morning on Earth” injetada de fúria e velocidade, vocais angustiados), “King Of Loss” (talvez a faixa menos brilhante do álbum), “Song for the Innocent” (mais uma demonstração de delicadeza musical imersa em momentos densos, cujo solo remete diretamente ao estilo do Pink Floyd), a instrumental “Falling”, que além de nos remeter indiscutivelmente ao que David Gilmour executava no Pink Floyd, serve de abertura para a épica “The Perfect Element” (quiçá, a melhor faixa do álbum, de arranjos intrincados e misturando todos os ingredientes que forjaram a alquimia do álbum), completando uma da maiores obras da música progressiva moderna.
Apesar de ser um álbum conceitual, não existe perda com a audição de cada faixa em separado e apesar de não encontrarmos solos intermináveis, é a união de talentos que faz deste, um perfeito elemento do rock/metal progressivo.
Ano: 2000
Top 3: “Ashes”, “Morning On Earth” e “In The Flesh”.
Formação: Daniel Gildenlöw (vocal, guitarra), Johan Hallgren (Guitarra, Vocal), Kristoffer Gildenlöw (Baixo, Vocal), Frederik Hermannson (Teclado), Johan Langell (Bateria, Vocal).
Disco Pai: Queensryche – “Operation: Mindcrime” (1988)
Disco Irmão: The Flower Kings – “Adam & Eve” (2004)
Disco Filho: Pain Of Salvation – “Scarsick” (2007)
Curiosidades: Depois desta brilhante obra-prima, a pressão para que uma segunda parte fosse lançada era enorme e a banda suportou-a bem lançado ótimos álbuns que fugiam do conceito de “The Perfect Element part 1″. Entretanto, a segunda parte só veio ao mundo em 2007, no álbum “Scarsick”, mas a magia musical não foi a mesma.
Pra quem gosta de: vinho branco, histórias tristes e para quem não gosta de Dream Theater.
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