Ozzy Osbourne – “Blizzard of Ozz” (1980) | Clássico da Música

 

“Blizzard of Ozz” é o primeiro álbum solo de Ozzy Osbourne, um dos pais do heavy metal, lançado em 1980. Figura chave em ao menos duas gerações dentro do gênero, ele estava lá na sua criação e na década seguinte ajudou a renová-lo e popularizá-lo. Seu nome está ao lado de Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward em todos os discos da primeira década do Black Sabbath e que ajudaram a inaugurar e definir o heavy metal como um gênero além do hard rock.

Podemos dizer que Ozzy começou sua carreira profissional no Black Sabbath, mesmo tendo algumas bandas anteriormente, e desde essa época já aprontava das suas, sendo preso por assaltos mal sucedidos antes de fazer sucesso com a música.

Ao longo da sua carreira, Ozzy Osbourne usou sua maior arma para encantar as gerações de ávidos consumidores do heavy rock: seu inconteste carisma de louco engraçado.

Neste artigo queremos falar sobre seu clássico primeiro álbum solo, “Blizzard of Ozz”, lançado em 1980, em meio ao momento mais conturbado de sua carreira. Passaremos rapidamente pela sua fase no Black Sabbath dando foco à sua saída da banda e a construção da marca Ozzy Osbourne ao lado do parceiro Randy Rhoads.

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OS ÚLTIMOS DIAS NO BLACK SABBATH

Como estilo musical, o marco zero convencionado para o nascimento do heavy metal é o lançamento do primeiro e auto-intitulado álbum do Black Sabbath. O quarteto de Birmingham, completado por Ozzy Osbourne, Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward, investia nos mesmos acordes menores do Blues, e improvisos jazzísticos,  mas com psicodelia ocultista, tempos mais lentos que amplificavam o peso, e clima funesto, épico, obscuro, e teatral.

Após o primeiro disco, o Black Sabbath ofereceu uma sequência de cinco clássicos inquestionáveis com Ozzy nos vocais, mas, à partir de 1976, com “Technical Ecstasy”, a situação começava a ficar crítica, e iniciava-se a decadência da primeira fase da principal banda de heavy metal daqueles dias.

Em 1977, o pai de Ozzy morre e aliado ao consumo de drogas e bebidas o vocalista surta, briga com todo mundo na banda e chega a deixar o posto. Num primeiro momento voltaria atrás, gravando “Never Say Die” (1978), mas seria sacado da banda por um misto de vontade de experimentar novos horizontes e um convite para sair por parte de Tony Iommi.

A RESSUREIÇÃO DE OZZY OSBOURNE

Foi um período complicado entre a saída do Black Sabbath, em 1979, e o primeiro disco solo, “Blizzard of Ozz”, lançado em 1980 na Inglaterra e no ano seguinte nos Estados Unidos. Ozzy sumiu do cenário musical, se encastelou em um hotel e alguns chegaram a cogitar sua morte.

Após a saída do Black Sabbath, o plano de Ozzy era voltar para Birmingham e trabalhar na construção civil, assim que conseguisse  “beber e cheirar” todo o dinheiro que ganhou. Porém, os planos de Don Arden e sua filha Sharon eram outros, bem mais ambiciosos: queriam lançá-lo em carreira solo.

O primeiro passo foi conseguir um hábil guitarrista e em torno dele criar uma banda sólida para sustentar o vocalista. Ozzy ressurgiu com alto poder de fogo acompanhado por um verdadeiro supergrupo.

Quando “Blizzard of Ozz” foi lançado, em setembro de 1980, o sucesso veio, com boas posições nos charts e uma vendagem expressiva, mostrando que Ozzy renascia um ano depois de sua demissão do Black Sabbath.

RANDY RHOADS

O guitarrista escolhido para a banda de Ozzy foi Randy Rhoads.

Randy Rhoads é hoje um mito dentro da história do heavy metal, com a mística amplificada por seu trágico falecimento. Mas quando foi indicado por seu amigo Dana Strum para fazer o teste para a banda de Ozzy Osbourne ele quase recusou.

Randy não era um fã de Black Sabbath, mas bastou desenvolver um pouco sua técnica num breve aquecimento que Ozzy o contratou sem nem parar para pensar. Era o destino encaixando seu curso.

Randall William Rhoads nasceu no sexto dia de dezembro de 1956, em Santa Mônica, na California. Sua veia musical veio de seus pais e desde o início era um estudioso da música, unindo seu talento nato a um dedicação quase que monástica a desenvolver sua técnica.

Em 1975 ele ajudou a fundar o Quiet Riot, onde gravou seus dois primeiros discos, mas, infelizmente, não veria a explosão da banda que ajudou a fundar com o clássico “Metal Health”, que seria lançado um ano após sua trágica morte.

Randy era um guitarrista técnico e encarava a música como arte, mas também tinha um senso único para criar melodias cativantes e feeling de poucos para construir seus solos e riffs. Em “Blizzard of Ozz” ele gravou um belíssimo interlúdio erudito intitulado “Dee” (dedicado à sua mãe Dolores), mostrando seu real amor: a música clássica.

Ele gravaria os dois primeiros trabalhos solo de Ozzy Osbourne e se tornaria uma lenda, influente até os dias de hoje, passando para a eternidade após um fatídico acidente aéreo em 19 de março de 1982.

Acredito que Ozzy não conseguiria ressurgir no mundo do rock como o fez, rivalizando com sua ex-banda, o Black Sabbath (que lançava o não menos clássico “Heaven and  Hell” [1980]) sem a peça fundamental que Randy Rhoads se tornou.

BLIZZARD OF OZZ, O SUPERGRUPO DE OZZY OSBOURNE

Com a peça-chave de sua banda escolhida, Ozzy partiu para as composições. A primeira música que a dupla Ozzy/Randy trabalhou junta foi “Goodbye to Romance”, um tema construído à partir de uma melodia composta por Ozzy, onde ele confessa toda a sua influência nos Beatles.

Enquanto trabalhavam nas composições, a banda que à priori se chamaria Blizzard of Ozz, numa clara alusão “chapada” ao Mágico de Oz, começava a ganhar corpo. O time foi completado por Bob Daisley (Rainbow), Don Airey (Rainbow, Gary Moore) e Lee Kerslake (Uriah Heep), um verdadeiro supergrupo do heavy rock que logo começou a compor como uma banda.

Nesse momento o talento de Randy Rhoads despertou e ao lado de Ozzy e Daisley ele ajudou a compor um dos discos mais emblemáticos da história do heavy metal, o aclamado “Blizzard Of Ozz” que trazia clássicos do heavy metal como “Crazy Train”“Goodbye To Romance” e “Mr. Crowley”.

Um disco de heavy metal puro, clássico, e sem frescuras, essencial em qualquer coleção de respeito!

“BLIZZARD OF OZZ”, O PRIMEIRO ÁLBUM SOLO DE OZZY OSBOURNE

Todavia, teríamos uma pequena mudança nos planos. O que era pra ser o primeiro álbum da nova banda de Ozzy Osbourne, acabou se tornando o primeiro passo da sua carreira solo. A ideia original foi revista pela gravadora que determinou que o nome na capa do disco deveria ser o do vocalista.

Desta forma, “Blizzard of Ozz” inaugura a carreira solo de Ozzy mudando definitivamente sua posição dentro do cenário do heavy metal mundial e seu maior trunfo tinha um nome: o talento de Randy Rhoads.

Claro que a experiência de Lee Kerslake e Bob Daisley contavam à favor, tanto que a produção ficou à cargo do quarteto, mas o jogador diferenciado desse time era o guitarrista. Duas provas disso residem nos dois primeiros singles do disco: “Mr. Crowley” (inspirada no ocultista Aleister Crowley) e “Crazy Train” (com solo quase neo-clássico de Randy Rhoads e um riff eterno).

Além destas duas clássicas composições, Ozzy ainda nos dava pérolas do heavy metal bem feito como “I Don’t Know” (com melodias inspiradíssimas de Randy Rhoads), a já citada balada “Goodbye To Romance” (cuja mensagem tem endereço certo), “Revelation” (uma faixas sombria, cheia de andamentos, com arranjos e solo inspirados, e pouco lembrada), “Steal Away (The Night)” “Suicide Solution”, essa última, um metal puro e sem floreios lembrando os primeiros tempos do Black Sabbath.

“SUICIDE SOLUTION”

A música “Suicide Solution” acabou se tornando um dos destaques negativos do disco, não por sua qualidade musical, mas por problemas fora do âmbito musical. Composta em homenagem a Bon Scott, ela acabou sofrendo por associações nefastas motivadas pelo conservadorismo do pensamento norte-americano da época.

Em 1985, os pais de John McCollum processaram Ozzy e a gravadora CBS por causa do suicídio do filho após ouvir “Suicide Solution”. Isso iniciou uma fase conturbada para Ozzy que passou a ser visto como ameaça à sociedade e acusado por induzir um suicídio. Logo os fanáticos religiosos aumentaram o tom das acusações de satanismo contra ele e judicialmente ele foi salvo da acusação dos McCollum pela Primeira Emenda.

A LENDA

Nessa época, Ozzy continuava consumindo quantidades colossais de álcool e isso provocou uma das maiores lendas da história do heavy metal. Com o objetivo de estimular a CBS a trabalhar mais a carreira de Ozzy no mercado norte-americano, ele e Sharon (ainda Sharon Arden), que gerenciava sua carreira, decidiram fazer uma reunião no escritório da gravadora, em Los Angeles.

Às onze da manhã Ozzy já estava bêbado e se irritou com a encarregada das relações públicas e como reação pegou um dos pombos preparados para uma apresentação completamente diferente, arrancou a cabeça da ave com os dentes e a cuspiu no colo dela.

Obviamente, Ozzy foi atirado na rua, mas a imprensa fez daquilo um ataque ultrajante de Ozzy ao mercado fonográfico, o que só aumentou as vendas de seu disco.

OZZY OSBOURNE X BLACK SABBATH

Enquanto Ozzy reconstruía sua dignidade e sua carreira nos Estados Unidos, Tony Iommi mantinha vivo o legado do Black Sabbath em altíssimo nível. Para substituir Ozzy o guitarrista trouxe ninguém menos do que Ronnie James Dio, um dos maiores vocalistas da história do rock, apresentado a Tony Iommi por Sharon Arden, mais tarde, a Sra. Sharon Osbourne.

“Heaven & Hell”, lançado 25 de abril de 1980, é o primeiro álbum de Dio no Black Sabbath, e um dos três melhores discos da história da banda, fato confirmado por colecionar alguns dos melhores riffs de Tony Iommi, e os vocais dramáticos que renovaram e revitalizaram a sonoridade dos inventores do heavy metal.

As comparações entre os dois discos era inevitável e o próprio Ozzy Osbourne já admitiu que existia uma competição velada com sua ex-banda. Mesmo com quase seis meses de distância entre os dois discos (“Blizzard of Ozz” sairia em 20 de setembro de 1980), não é exagero dizer que Ozzy levou a melhor no primeiro round contra sua ex-banda, ao menos no quesito “posição nos charts“.

A TURNÊ E OS PROBLEMAS COM LEE KERSLAKE E BOB DAISLEY

A turnê se estendeu de setembro a novembro de 1980 na Europa, iniciando-se na Inglaterra, e de abril a setembro de 1981 nos Estados Unidos. Nesse meio tempo entre as duas pernas da turnê, a banda rumou para o estúdio para gravar o próximo disco de Ozzy Osbourne e com isso aproveitar o embalo do sucesso do primeiro trabalho.

Nesse mesmo período em que gravavam o novo trabalho Bob Daisley e Lee Kerslake se desentenderam com o staff de Ozzy Osbourne (leia-se Sharon Arden), por causa de alguns direitos autorais, como pagamento de royalties e créditos de composição. O resultado foi a demissão da dupla e um processo judicial que se arrastou até 2003 com ambos derrotados.

Com isso, a banda de Ozzy foi reformulada com Rudy Sarzo no baixo, outro ex-Quiet Riot, e o baterista Tommy Aldridge. O próximo disco só sairia em novembro de 1981, após o fim da turnê de “Blizzard of Ozz” e se chamaria “Diary of Madman”, mas aí já é assunto para um outro artigo.

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