Oranssi Pazuzu – Resenha de “Mestarin Kynsi” (2020)

 

Quando recebi “Mestarin Kynsi”, do Oranssi Pazuzu, para resenha, eu não fazia ideia do que ia ouvir, mas a capa me remeteu diretamente à de “Obscured By Clouds”, do Pink Floyd, numa versão à lá Clive Barker.

Depois que li o obi encartado junto à edição nacional, à cargo da Shinigami Records, essa remissão se reforçou.

Afinal, “Mestarin Kynsi” é anunciado como o “quinto álbum da banda finlandesa de black metal psicodélico. Uma combinação de black metal, rock psicodélico, space rock e metal progressivo”.

Na minha mente brotou a imagem musical de uma fusão de Pink Floyd e Hawkwind com Mayhem e Enslaved.

Oranssi Pazuzu - Mestarin Kynsi (2020, Shinigami Records, Nuclear Blast)
Oranssi Pazuzu – “Mestarin Kynsi” (2020, Shinigami Records, Nuclear Blast)

Digamos que minha ideia não estava muito longe da verdade, mas ainda assim, esta quimera desenhada por mim se mostra incompleta dentro da proposta vanguardista e transcendental do Oranssi Pazuzu.

Como podemos ver já pela faixa de abertura, “Ilmestys”, e por “Tyhjyyden sakramentti” (a fusão perfeita do Hawkwind com “De Mysteriis Dom Sathanas” (1993), do Mayhem) que chega na sequência.

Já “Uusi teknokratia” leva a urgência experimental e espacial de alguns temas do Pink Floyd, para a incisividade áspera e primitiva do Darkthrone, pincelada por leves elementos do folk metal.

Em “Oikeamielisten sali” temos até elementos de música erudita com arabescos melódicos carregados de tensão e suspense pelo ritmo bem marcado culminando num pesadelo gótico musicalmente desenhado pela estética black metal do Oranssi Pazuzu.

Ruptura, desconstrução e reconstrução parecem ser os lemas da rebelião musical que esses finlandeses propõem, desde as letras em norueguês (obrigado Google Tradutor) de “Mestarin Kynsi” (que significa “A garra do Mestre” em finlandês), e que soam filosóficas à sua própria maneira enquanto discutem sobre o controle das massas.

Até por isso as seis faixas deste disco parecem um tour de force pelo labirinto sombrio de uma mente atormentada por demônios lisérgicos e paranoicos.

Ou seja, inquietante é o adjetivo a ser cravado em “Mestarin Kynsi”. 

Outro ponto que salta aos ouvidos é a capacidade de usar o fato da nossa consciência se dar por contrastes para amplificar o resultado do choque de elementos orgânicos e primitivos, advindos do metal extremo com as texturas sintéticas dos efeitos, dos sintetizadores e dos elementos eletrônicos.

Alguns efeitos eletrônicos, inclusive, parecem absorvidos das formas frias do Kraftwerk, causando um desconforto pela estranheza sintética junto com as dissonâncias da massa sonora do black metal.

Com isso, a música do Oranssi Pazuzu desenha imagens pela mente que nos remetem aos deuses cósmicos lovecraftianos que assombram os pesadelos, ao mesmo tempo que parece nos lembrar que os demônios também podem ser gerados pela frieza calculada das inteligências artificiais.

Com isso, temos frutos opostos dentro da proposta musical da banda como a obsessividade linear de “Kuulen Ääniä Maan Alta” contrastada com a dramaticidade épica de “Taivaan Portti” no final do disco.

O mais interessante é que eles conseguem ser claustrofóbicos, opressivos, e depois de dois arranjos apresentarem sonoridades transcendentais e abertas.

Confira já!

FAIXAS:

1 Ilmestys 7:14
2 Tyhjyyden sakramentti 9:19
3 Uusi teknokratia 10:20
4 Oikeamielisten sali 8:01
5 Kuulen ääniä maan alta 7:12
6 Taivaan portti 8:06

FORMAÇÃO:

Ontto (baixo, sintetizador e trombone)
Korjak (bateria)
EviLL (sintetizador, teclados, efeitos e vocais)
Jun-His (vocal e guitarra)
Ikon (guitarra, efeitos, sintetizadores e samplers)

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