Mayhem – “Ordo Ad Chao” (2007) | Você Devia Ouvir Isto

 

Dia Indicado Pra Ouvir: Sexta-feira.

Hora do dia indicada para ouvir: Próximo da meia-noite.

Definição em um poucas palavras: pesado, infernal, desarmônico, odioso, ríspido e desesperador.

Estilo do Artista: Black metal.

Mayhem - Ordo ad Chao
Mayhem – “Ordo ad Chao” (2007 | Season of Mist, Shinigami Records)

Comentário Geral:  A biografia do Mayhem é tão interessante que parte até rendeu um filme, o bom “Lords of Chaos” (sobre o qual escrevemos aqui).

Mas pensando em termos musicais, em sua primeira década eles criaram fama em cima de uma imagem provocativa, e até de uma sequência de crimes e tragédias sem precedentes no mundo do heavy metal, apesar de um excelente primeiro disco de estúdio, o clássico “De Mysteriis Dom Sathanas” (1994).

Esse disco foi um dos pilares do black metal moderno e até que viesse o segundo trabalho, “Grand Declaration of War” (2000), o Mayhem era uma espécie de versão black metal do Sex Pistols.

Ou seja, produziram o primeiro disco influente, tocaram (literalmente no caso do Mayhem) fogo na cena, mas vivam mais do mito criado em torno da banda, explorando singles, compilações, e materiais ao vivo, que propriamente músicas novas.

Tanto que após “Grand Declaration of War” (2000), um disco mais voltado ao industrial, a expectativa era que o Mayhem acabasse de vez!

Contrariando em previsão, “Chimera” chegou trazendo de volta a rispidez e o black metal de outrora. Do primeiro trabalho apenas o baterista Hellhammer ainda era o nome envolvido, pois os dois discos haviam que se seguiram tiveram os vocais de Maniac.

Até por isso, “Ordo ad Chao” pode ser encarado como o disco que os fãs queriam desde “De Mysteriis Dom Sathanas” (1994), afinal Attila Csihar estava de volta com seus vocais odiosos e desesperadores.

No que tange ao clima, “Ordo ad Chao” traz aquela crueza decrépita e doentia tão característica do black metal do Mayhem, mas a diferença estava na forma com as músicas foram concebidas.

Veja bem, o mentor intelectual do Mayhem em sua era mais aclamada havia morrido e os membros remanescentes haviam amadurecido sua visão como músicos e compositores.

Agora, ser brutal e inconsequente já não bastava mais para ser incômodo.

A solução foi expandir as parcelas dissonantes de sua música, deixando o fascínio pelo estranho, o negativismo, e o desconforto da desarmonia serem os elementos-chave, tanto em composição quanto em produção.

Essa produção é justamente o elo com o passado desolador enquanto a banda dá contornos mais requintados à estética sombria, rápida e pesada, indo e voltando pelo ruído sistemático.

O resultado é um Mayhem mais cerebral e vanguardista do que ultrajante e belicoso, impresso em estúdio de forma crua, soando diletantemente abafado. Mas não se engane, é tudo claramente conceitual.

Mesmo assim, “Deconsecrate”, um dos destaques do disco, é´uma ode à desarmonia e e ao caos.

De saída, “A Wise Birthgiver” já imprime o clima maléfico, infernal, atonal e estranho que ouviremos por todo o disco, e faixas como “Wall of Water” “Anti” (uma das melhores músicas do Mayhem) trarão a decrepitude obscura do primeiro disco à nossa mente, mesmo que aquela inconsequência e violência de outrora já não seja mais tão caótica e psicótica.

Os vocais de Atilla fazem a diferença na sonoridade por sua versatilidade nas passagens mais climáticas e estranhas, urrando  como uma alma atormentada.

Até por isso, aos meus ouvidos, nesse “Ordo ad Chao” o Mayhem trouxe à tona influencias de Hellhammer e Celtic Frost, como em “Illuminate Eliminate”, uma herdeira de “Triumph of Death”, mostrando uma face mais dramática do Mayhem, retrabalhando essa influência por uma forma vanguardista à começar pelo belo trabalho de bateria.

Já “Psychic Horns” traz passagens mais cadenciadas e carregadas com uma pegada mais thrash metal que até me lembrou algo do Slayer nos anos 1990.

“Great Work of Ages” “Key to the Storms” (com seus urros e grunhidos cheios de angústia) revelam uma estrutura familiar só que amadurecida, abusando de dissonâncias e loucuras sobre bases variadas.

Como o black metal deve ser, este disco traz todos os espíritos negros para respirarem sobre seu ombro e te imprime sensações sombrias pela negatividade em estado puro, não tendo como não sair angustiado e cheio de sombras ao término do trabalho.

Em certa medida o Mayhem também retomava neste disco, sem a inspiração industrial, o que haviam feito em “Grand Declaration of War” (2000), reforçando o fato de ter se tornado um conceito de desarmonia, até mais do que uma banda de heavy metal.

Aproveite que a Shinigami Records relançou esse disco e vá atrás deste excelente trabalho do Mayhem, pois VOCÊ DEVIA OUVIR ISTO!

Ano: 2007

Top 3:  “Anti”, “Deconsecrate” e “Illuminate Eliminate”.

Formação: Necrobutcher (baixo), Attila Csihar (vocais), Blasphemer (guitarra) e Hellhammer (bateria)

Disco Pai: Hellhammer – “Apocalyptic Raids” (1984)

Disco Irmão: Gorgoroth – “Ad Majorem Sathanas Gloriam” (2006)

Disco Filho: Cultes des Ghoules – “Henbane, …or Sonic Compendium of the Black Arts” (2013)

Curiosidades: A expressão “ordo ad chao” é uma corruptela da frase em latim “Ordo AB Chao”, que seria algo como “a ordem vinda do caos”. Essa seria outra ligação com o primeiro álbum de estúdio, afinal, a frase “De Mysteriis Dom Sathanas” é também uma corruptela de uma frase em latim para “O Ritual Misterioso do Senhor Satanás“.

Pra quem gosta de: Vanguarda, filosofia, misantropia, e “A Divina Comédia” de Dante.

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