O New Order é uma das bandas mais influentes de sua geração, moldando por experimentações uma personalidade eletropop diferenciada, que seria pioneira para a música eletrônica.
Infelizmente, a banda nasceu de uma tragédia.
Os fundadores do New Order foram Bernard Sumner (guitarrista e tecladista), Peter Hook (baixista e vocalista) e Stephen Morris (percussionista e baterista), todos egressos do Joy Division, um dos representantes mais fortes do rock cinzento advindo da cidade de Manchester, na Inglaterra.
Seu disco de estréia “Unknown Pleasures” (1979) é tido como um dos mais importantes e influentes da história do rock, com seguidores e imitadores até mesmo no rock nacional. A Legião Urbana que o diga!
Porém, o suicídio do vocalista e guitarrista Ian Curtis, em 18 de maio de 1980, pôs um “fim” ao Joy Division, inclusive tendo o seu segundo trabalho, “Closer” (1980), o disco que basicamente definiu o post-punk, lançado de forma póstuma.
Os três remanescentes do Joy Division fundaram o New Order dando uma nova dimensão à sua sonoridade sombria, melancólica, depressiva e melódica.
Nesta “nova vida” Bernard Sumner assume os vocais e ainda em 1980 Gillian Gilbert entra para o time de músicos no comando dos teclados e sintetizadores, o que representa bem o ímpeto dos remanescentes do Joy Division em seguir em frente.
Tanto que “Movement”, primeiro álbum do New Order, sai já em 1981, um ano após “Closer”, mas é recebido sem a mesma empolgação dos trabalhos do Joy Division, tanto por público quanto crítica.
Essa recepção fria talvez tenha se dado por ele ter muito ainda da sonoridade do Joy Division, cujo brilhantismo estava na figura de Ian Curtis, e o New Order não ter desenvolvido sua própria personalidade.
Além de algumas estranhezas eletrônicas que mostravam um horizonte promissor, aquele primeiro passo discográfico foi num primeiro momento ignorado.
Também creio que o fato de ter saído o duplo “Still”, com várias sobras de estúdio e o registro do último concerto do Joy Division, no mesmo ano, criou uma competição injusta para “Movement”.
Mas em 1983 isso mudaria com o sucesso de “Blue Monday”, single que fica entre as dez primeiras posições da parada de sucessos da Grã-Bretanha e o compacto de 12” que traz essa música ficaria entre os mais vendidos de todos os tempos (como vimos nesse artigo dedicado somente a esse single)
À partir daí, o New Order seria um nome que mudaria o jogo da música pop nos anos 1980, sendo aclamada como a mais importante banda independente do mundo em dado momento da carreira.
Um traço interessante de sua discografia é que muitos de seus grandes sucessos não figuram nos repertórios originais de seus discos de estúdio, ficando registrados em singles e EPs que saíam em paralelo, sendo incluídos nos discos oficiais apenas em reedições posteriores.
Hoje, queremos passear por sua discografia e escolher cinco discos do New Order que deveriam ser ouvidos, não necessariamente os melhores!
Vamos a eles…
1) “POWER, CORRUPTION & LIES” (1983)
Neste segundo disco já é possível ouvir o New Order com pouco, ou quase nada, da herança do Joy Division.
“Power, Corruption & Lies” ainda era heterogêneo no equilíbrio entre as timbragens dos sintetizadores e a organicidade dos outros instrumentos.
Existia uma crueza e um leve desequilíbrio na fórmula, mesmo assim não dá pra negar que esse é um disco brilhante e muito influente.
“Age of Consent”, “The Village”, “586”, “Your Silent Face” e “Ecstasy” exibiam influências diversas na sonoridade do New Order, que como uma banda independente gozava de toda a liberdade de ousar e retrabalhar ideias de Kraftwerk (principalmente do “Trans Europe Express“), David Bowie (da fase-“Low”, principalmente) e Giorgio Moroder por uma via mais melancólica e sombria.
Originalmente “Blue Monday”, não fazia parte do repertório do disco, mas foi incluída na edição de 1986, em CD e K7, assim como “Thieves Like Us” que viria na edição especial de 2008 junto a um caminhão de faixas bônus.
Não seria exagero dizer que utilizando guitarra, baixo e bateria, a banda inglesa inventou aqui o som eletrônico que seria emulado nas décadas seguintes de forma digital!
Além disso, o início da fuga da emulação do Joy Division foi a experimentação com as novas tendências dos instrumentos eletrônicos de “Power Corruption & Lies”. Essa fuga só seria consolidada em “Bizarre Love Triangle” lá em “Brotherhood” (1986). Mas no meio do processo ainda nos ofereceram um ótimo disco: “Low-Life” (1985).
2) “LOW-LIFE” (1985)
Na sequência de “Power, Corruption & Lies” (1983) o New Order lançou “Low Life” (1985) um disco que junto a “Brotherhood” (1986) estavam no ponto médio exato entre o rock depressivo e a música eletrônica.
Além disso, nesses dois discos estava, de fato, formatada a sonoridade que pensamos quando falamos em New Order, que trazia sombras góticas, frieza eletrônica e até mesmo algo de country para seu eletropop.
No caso específico de “Low-Life”, faixas como “Sunrise” (com sua intensidade e teclados poderosos), “Love Vigilantes” e “The Perfect Kiss” (o grande hit do disco) mostravam que o processo de amadurecimento de sua música estava num estágio avançado de desenvolvimento, lapidado num rock dançante, ainda que melancólico e com certo aroma de psicodelia, dando ao synthpop um sabor especial.
As linhas desenvolvidas pelo baixo de Peter Hook eram o diferencial numa época em que as guitarras ditavam as regras melódicas e harmônicas no rock, algo que seria ainda mais flagrante e bem feito em “Brotherhood”, disco seguinte e de longe o meu favorito do New Order.
Em “Low-Life” o experimentalismo abriu espaço para as harmonias mais envolventes, mas ainda possuem sua parcela por aqui, como em “This Time of Night” e principalmente no segundo lado do LP, em ótimas composições como “Sooner Than You Think” e “Face Up”.
No mesmo sentido, “Elegia”, com sua frieza sombria e clima bem criado mostrava que as declaradas influências de Kraftwerk já eram remodeladas por uma estética totalmente própria.
Na outra ponta do diâmetro musical “Low-Life” antecipa na faixa “Sub-Culture” a mutação eletrônica que o New Order faria na música pop à partir de “Blue Monday”, e seria finalizada em “Technique” (1989) de uma forma menos monocromática, mas ainda experimental.
Cabe mencionar que “Low-Life” foi gravado em apensa vinte e quatro horas, imediatamente após voltarem de uma cansativa turnê pela Inglaterra e deu a solidez que o New Order precisava para alavancar sua carreira.
Por isso tudo, “Low-Life”, o trabalho mais consistente do New Order até aquele momento, é essencial para entender como a entidade que fez “Movement” ou “Power, Corruption & Lies” evoluiu para o que ouvimos em “Technique” (1989).
Mas antes de falar deste álbum de 1989, uma parada em um coletânea obrigatória se faz necessária.
3) “SUBSTANCE” (1987)
Pulamos “Brotherhood” (1986) na sequência pois ele é tão apreciado por mim que dediquei um artigo só pra ele (que você confere aqui).
Mas vale a pena ressaltar que Brotherhood é uma das pedras fundamentais do dance rock inglês, além de conter o maior sucesso do New Order, “Bizarre Love Triangle”.
Apesar deste conjunto de canções poderoso, “Brotherhood” tem maior importância por ser o ninho onde as originais melodias de Peter Hook ao baixo se acomodaram confortavelmente aos power chords magistralmente retirados dos sintetizadores de Gillan Gilbert.
Não seria exagero dizer que esse disco só foi possível pela confiança adquirida em “Low-Life”, mas muitos acusavam o New Order de padecer de estagnação criativa, algo que seria logo revertido com o lançamento do single de “True Faith”.
Na sequência de “Brotherhood” o New Order ofereceu uma coletânea de singles e remixes que apontava o futuro do som da banda, servindo como um rico ponto de transição de sua musicalidade.
“Substance” veio quebrar uma certa estagnação da fórmula e renovar o pioneirismo do New Order. E até por isso justifica-se a sua inclusão nesta lista, afinal ele é o retrato da uma mutação de uma banda no instante em que ela está ocorrendo.
Antes de “Substance” o New Order era uma banda de roqueiros depressivos e experimentais, e após este álbum se tornaram um dos pioneiros da música eletrônica moderna, inserindo batidas frias e poderosas, e timbragens digitais ao lado de linhas de baixo intensas e pulsantes.
Além disso, é aqui que estão as versões definitivas de “Bizarre Love Triangle” e “Blue Monday”, só pra citar as duas faixas principais da primeira metade de sua carreira.
Compilados ainda temos os dois singles produzidos por Arthur Baker, à época o mais influente produtor de hip hop: “Thieves Like Us” (1984) e “Confusion” (1983)
Nos anos que se seguiram a “Substance” trabalharam com os melhores produtores do mercado fonográfico em singles de sucesso.
Em 1987, por exemplo, lançaram “True Faith”, produzida e co-escrita com Stephen Hague, o responsável por transformar o Pet Shop Boys num fenômeno mundial, também presente nesta coletânea.
No ano seguinte foi a vez de Quincy Jones remixar “Blue Monday”. Porém, essa reciclagem de velhas composições e alguns projetos paralelos geraram rumores de que a banda iria acabar.
Dentre os projetos paralelos destaque ao Electronic, de Bernard Sumner e Johnny Marr, do Smiths, também com a participação de Neil Tennant, do Pet Shop Boys, formado em 1989, mesmo ano que o New Order lançaria o histórico “Technique” e Peter Hook formaria o Revenge. No ano seguinte, a dupla Gilbert/Morris também apresentaria o projeto “The Other Two”.
4) “TECHNIQUE” (1989)
Até aqui já ficou claro como o New Order foi uma das bandas mutantes da história da música moderna.
Surgiram no dark rock do Joy Division, lançaram discos com clima melancólico misturando o rock gótico com música eletrônica e definiram como seria a música eletrônica nos anos 90 com este disco, “Technique”.
Até chegar neste divisor de águas, a banda já era consagrada nas rádios de todo o mundo como a banda alternativa mais bem sucedida até aqueles dias, graças a hits como “Blue Monday”, “Bizarre Love Triangle” e “Temptation”, músicas que se tornaram símbolos do grupo inglês nos anos 1980.
Mas aqui as coisas mudam um pouco.
A introdução com “Fine Time” é totalmente eletrônica e abre um disco que se tornaria um retrato da geração acid house (que seria uma batida feita com um Roland 303 unido a sonoridade de estilos eletrônicos como o house, balearic e techno), imerso em muito ecstasy e LSD.
O grande hit “Round & Round” se tornou um clássico das pistas de dança levando o quarteto de Manchester novamente para a vanguarda da música pop.
Ainda pode-se notar traços do passado. Canções como “All The Way” (a melhor faixa do álbum pra mim), “Run”, “Loveless” e “Guilty Partner” carregam traços fortes das canções antigas.
Mas é nas canções eletrônicas que o álbum tem seus maiores sucessos. Basta ouvir o lado B do disco com “Vanishing Point”, “Dream Attack” e “Mr. Disco” para ver que a partir daqui tudo mudaria no Eletropop.
A Factory, gravadora que financiava o estúdio, quase decretou falência por causa das festinhas que a banda promovia durante as gravações em Ibiza. Os ingleses preferiam ficar na farra ao invés de se trancafiar no estúdio de gravação. Tanto que este seria o último disco do New Order pelo selo independente.
“Technique” é uma das pedras fundamentais do fenômeno acid house que explodiu na Inglaterra na virada dos anos 1980 para os anos 1990, definindo-o e colocando o New Order na linha de frente da maior revolução musical que Inglaterra via desde o advento do punk rock.
O fato é que “Technique” amainou a sensação de fim de banda, ao menos externamente, pois internamente o quarteto entrava em seu período mais ciclotímico e conturbado.
No verão de 1990 alcançavam o primeiro posto das paradas britânicas com o single “World in Motion”, curiosamente acompanhado da seleção inglesa de futebol num ano de Copa do Mundo.
Uma mudança importante se deu nos shows, que ficariam mais vibrantes, consistentes e longos, o que consequentemente trouxe mais desgaste ainda entre os músicos.
Mesmo assim, nunca houve um fim oficial do New Order, mesmo com todos os rumores, que mais uma vez foram abafados com o anúncio de um novo álbum em 1991: “Republic”, que só sairia em 1993 e seria o seu mais inconsistente trabalho desde “Movement”, soando uma continuação mais sombria e introspectiva de “Technique”.
5) “MUSIC COMPLETE” (2015)
As duas décadas que seguiram do lançamento de “Republic” foram conturbadas, mas ainda assim produtivas.
Logo após aquele trabalho os músicos retomaram seus projetos paralelos, com destaque ao Monaco, de Peter Hook, formado em 1996, que marcou a segunda metade dos anos 1990 com a ótima canção “What Do You Want From Me?”.
O New Order só voltaria aos palcos em 1998 para uma série de shows que agora trazia composições do Joy Division. Mesmo assim a primeira música inédita só veio em 2000: “Brutal”, composta para a trilha sonora do filme “A Praia”, de Danny Boyle.
Disco novo mesmo só em 2001. Intitulado “Get Ready”, o trabalho trazia como grande atrativo apenas uma parceria com o Chemical Brothers, diferentemente do próximo e excelente “Waiting for the Sirens’ Call” (2005) que ilustrava a ótima fase criativa da banda.
Tanto que desse disco sobrariam mais sete composições que seriam lançadas em 2013, sob o título “Lost Sirens”.
Todavia, os problemas entre os integrantes permaneciam. Os rumores de conflitos sobre o direcionamento da banda crescia desde os anos 1980, após o lançamento de “Brotherhood”. Nos início do novo milênio Gillian Gilbert saiu da banda por motivos pessoais e pouco tempo depois Bernard Sumner anuncia que eles não gravaria mais sob o nome New Order.
A volta aos palcos só se deu em 2009, com Gillian Gilbert, mas sem Peter Hook que preferiu se concentrar no livro que estava escrevendo sobre os tempos de Joy Division e sua nova banda batizada de the Light.
O novo disco, após gastarem as sobras de estúdio em “Lost Sirens” (2013), só em 2015: “Music Complete”, com Tom Chapman (também baixista do Bad Lieutenant, projeto paralelo de Bernard Sumner) no lugar de Peter Hook e adicionados do guitarrista Phil Cunningham.
O single “Restless” já anunciava que a tradicional sonoridade dance/rock do New Order, desenvolvida na clássico “Brotherhood” (1986), estaria intacta.
As linhas da baixo continuam sendo a alma da banda, enquanto os power chords aos teclados são responsáveis pela magia musical. A grande vantagem que o New Order levava dentro da cena atual é o fato de suas partes eletrônicas soarem bem orgânicas para os novos tempos.
Por outro lado, “Music Complete” é também uma viagem pelo que a banda desenrolou em toda a sua discografia.
Por exemplo. “Singularity” é um mix da era sombria com o que foi desenvolvido no clássico “Technique” (1989), enquanto “Plastic” resgata a era em que o New Order ajudava a forjar os princípios do eletropop. Já “People on the Night” é uma típica canção disco music.
Além disso tudo, ainda ecoam muitos elementos da fase setentista do Kraftwerk pelas linhas de teclado. Ou seja, o New Order nos presenteou com um álbum de celebração da música pop/eletrônica, que pode não ser o melhor da carreira, mas agradou demais.
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