Mötley Crüe é um das bandas que melhor honrou o trinômio “sexo, drogas e rock n’ roll”, ao mistura heavy metal, punk rock e pop rock com um excesso nunca antes visto na música moderna. Hoje escolhemos cinco discos para representar toda a sua discografia.
O Mötley Crüe é uma das mais emblemáticas bandas da geração oitentista! Tanto que sua foto estampa a capa do livro “The Big Book of Hair Metal”, de Martin Popoff. Entretanto, a força de sua imagética vai além do hard rock, gênero ao qual se dedicavam.
A banda é sim uma entidade da cultura pop daquela década, pelos escândalos que protagonizaram (casamentos, divórcios, prisões, acidentes de carro com vítimas fatais, overdoses), pelo culto à tríade do sexo, drogas e rock n’ roll usando a Sunset Strip como templo, e também pela moda, tanto visual, quanto musical, que ditaram dentro do rock n’ roll.
Fama, dinheiro, e excessos estavam lado a lado com a música na biografia do Mötley Crüe. Foram mais de três décadas de atividades do quarteto formado por Tommy Lee, Mick Mars, Nikki Sixx e Vince Neil (em sua maior parte do tempo). Já teve até o anúncio (duvidoso?) do fim das atividades, com direito a uma Final Tour, mas o recente filme baseado na história da banda produzido pela Netflix pode fazer com que esse fim seja apenas mais um hiato em sua biografia.
Com nove álbuns na bagagem (todos diferentes um do outro e cada um com sua particularidade), acumularam um legado gigantesco dentro de uma das mais interessantes cenas da história do rock. Se tivemos nomes como Guns N’ Roses, Skid Row, Bon Jovi, Poison, e afins, foi pelo pioneirismo na forma glam e suja do hard rock norte-americano.
E se o Aerosmith tinha os Toxic Twins, o Mötley Crüe tinha os Terror Twins, na dupla Nikki Sixx e Tommy Lee, que protagonizaram algumas das mais absurdas histórias de abuso de drogas e álcool do rock.
Formada em 1981, pelo baixista Nikki Sixx e pelo baterista Tommy Lee, o Mötley Crüe merece uma repassagem pela sua história, e para isso, resolvemos eleger cinco discos imperdíveis da banda. Mas nos demos o direito de comentar os outros também!
1. “Too Fast for Love” (1981)
O grande mérito deste disco, além de introduzir a discografia do Mötley Crüe, é a mistura musical inteligentíssima das timbragens sujas e primitivas dos grandes momentos do Rolling Stones (a capa já remete à de “Sticky Fingers”) e do Aerosmith, com o poderio melódico do glam rock do Sweet e do power pop do Cheap Trick. Além do visual do New York Dolls.
O próprio Vince Neil declarara que quando a banda se formou, ele era fã do Sweet, e Nikki era fã de New York Dolls, além do fato do vocalista ser egresso de uma banda cover do Cheap Trick quando se juntou ao Mötley Crüe.
Com essa fórmula musical, um visual glam carregado, e atitude das ruas, o Mötley Crüe entrou no mercado fonográfico com este “Too Fast For Love”, dando o pontapé inicial de todo o glam/hard rock dos anos 1980, em clássicos como “Live Wire”, “Public Enemy #1”, “Merry-Go-Round”, “Piece of Your Action”, “Too Fast for Love” e “On With the Show”.
O único porém deste “Too Fast For Love”, talvez esteja na produção. Vince Neil já chamou a atenção para o fato de que esse álbum era basicamente uma demo-tape, mais tarde relançada quando conseguiriam um contrato com uma gravadora.
Mas até isso é parte da “mitologia roqueira” criada pelo Mötley Crüe em seu princípio, quando ainda era uma banda independente, e tocava em bares de Hollywood. Toda quarta-feira à noite eles estavam no histórico Troubadour ao lado do Ratt, por exemplo.
Nessa época, a banda estava em constante contato com a cena local e com Brian Slagel, e quase apareceram na coletânea Metal Massacre, mas quando a coletânea ia ser lançada eles já tinham lançado “Too Fast For Love” de forma independente. Quem entrou no lugar deles na coletânea foi o Metallica.
“Too Fast For Love” vendeu 20 mil cópias em seis meses, levando o Mötley Crüe a assinar com a Elektra Records, e ao número 157 nos charts da Billboard. Nada mal para uma banda iniciante. Segundo Nikki Sixx, “eles estavam numa rebelião contra aquilo que acontecia em Los Angeles”.
Na verdade, esse sucesso todo catapultou uma cena musical em Los Angeles, e antes do fim de 1982, além deles, bandas como Ratt, Quiet Riot e Dokken já tinha contratos assinados com grandes gravadoras.
2. “Shout at the Devil” (1983)
Em 1983, aquelas bandas que formavam a cena já consolidada do hair metal tinham encontrado suas identidades musicais. Nesse contexto, o segundo passo discográfico do Mötley Crüe manteve os aspectos de crueza em contraste com a melodia, ao mesmo tempo que exibiu tangências fortes com o heavy metal e uma produção brilhante. Enfim tiveram uma experiência profissional em estúdio.
O quarteto manteve a intensidade e a vibe suja das ruas enquanto mostrava o amadurecimento como compositores, mas sem polir demais sua fórmula musical. Na verdade, o Mötley Crüe se colocava à frente dos seus congêneres do hard rock naquele momento.
A polêmica como o título do álbum foi uma via de mão dupla, aumentando as atenções em cima da banda, para o bem ou para o mal. A capa preta cravada com um pentagrama invertido, o título, e as letras chamariam a atenção do Parents Music Resource Center (PMRC), que incluiria a faixa “Bastard” dentre as suas Filthy 15, uma lista das quinze músicas mais ofensivas à sociedade americana naquela época. Ao seu lado nessa lista estavam Judas Priest, Madonna, Prince, W.A.S.P., Mercyful Fate, Def Leppard, dentre outros.
Já a faixa-título é uma das cinco melhores composições da história da banda. E ainda temos “Looks That Kill”, “Too Young to Fall in Love”, “Bastard” e um cover poderoso para “Helter Skelter”, dos Beatles. Clássicos indiscutíveis da primeira fase do Mötley Crüe. Ainda destaco a ótima “Knock Em’ Dead Kid” apesar de ser uma faixa pouco lembrada, e “God Bless the Children of the Beast” como uma preciosidade a ser redescoberta.
“Shout At the Devil” teve influência auto-declarada em muitas bandas de black metal, e rendeu algumas das melhores histórias do rock na turnê ao lado de Ozzy Osbourne. Sobre a acusação de satanismo, Vince Neil desconversou dizendo que estavam fazendo o mesmo que antes, só que agora tinham mais dinheiro e a imagem chamava mais atenção. Já Nikki Sixx garante a faixa-título não tem nada a ver com satanismo e sim política, era uma música sobre Ronald Reagan.
Foram outros os problemas que atingiram a banda. Logo o abuso de álcool e drogas refletiu nas composições e, após dois discos iniciais poderosos, o Mötley Crüe lançaria o mediano “Theater of Pain” (1985), que chamaria a atenção com o sucesso “Home Sweet Home” e pelo cover de “Smokin’ in the Boys Room”, mas não cria empolgação para ser incluído nessa lista, afinal queriam claramente dirigir sua sonoridade para algo menos crú e pesado, mais glamouroso e teatral.
Nikki Sixx definiria “Theater of Pain”, que foi quatro vezes platina, como influenciado por drogas, álcool e groupies. Cabe lembrar que em dezembro de 1984 o baterista do Hanoi Rocks morreu num acidente de carro, decretando o fim da banda. Quem estava ao volante era Vince Neil, o que só aumentou ainda mais a imagem de bad boys do Mötley Crüe.
3. “Dr. Feelgood” (1989)
Após “Theatre of Pain” (1985), o Mötley Crüe se tornou uma das bandas mais bem sucedidas de sua geração, influenciando todo um segmento musical que só crescia em popularidade e atenção da mídia.
Sem exageros, em 1987 a banda talvez fosse a maior dentro dos Estados Unidos. E depois que o Bon Jovi mostrou, com “Slippery When Wet”, ao mercado fonográfico o potencial comercial do pop metal, o Mötley Crüe resolveu definir o que era o hair metal!
Muito da estética musical e imagética do hard rock oitentista (prazer, substância ilícitas, loiras peitudas, carrões, motocicletas e festas dionisíacas) foi encapsulada em “Girls, Girls, Girls” (1987), a “bíblia” do hard rock “made in Sunset Strip”. Um disco que retomava o viés de subida após o fraco disco de 1985. “Wild Side” e a faixa-título que o digam! Mas a banda estava em péssima forma, e os excessos cobravam seu preço nesse período. Nikki Sixx até precisou ser ressuscitado após uma overdose.
E mesmo com a quase chegada ao topo comercial, a sensação de que poderiam dar mais em termos de composição ainda existia. Além disso, em 1988, o Mötley Crüe já tinha rivais poderosos em termos comerciais, como Bon Jovi, Aerosmith, Guns N’ Roses e Whitesnake, por exemplo. “Dr. Feelgood” veio para ser a indiscutível retomada do ápice da banda como compositores, o álbum definitivo do que chamamos de glam metal.
À começar pelo excelente trabalho de estúdio à cargo de Bob Rock, moderno e que ditaria normas no início da década seguinte (dizem que o Metallica trouxe Bob Rock para a produção de “Black Album” por causa deste disco). Claro que a sobriedade da banda no estúdio ajudou bastante. A sensação era que até aqui os quatro estavam brincando e com a chegada de rivais fortes pelo trono do hard rock, eles resolveram jogar o jogo musical de forma séria! Como se “Dr. Feelgood” fosse seu primeiro esforço sério em termos de composição.
Consequência? Esse foi o trabalho de maior sucesso comercial do Mötley Crüe. Foram seis Discos de Platina para “Dr. Feelgood”, que desbancou toda a concorrência e os colocou no zênite do hard rock em 1989. Faixas como “Sticky Sweet” (com Steven Tyler nos backing vocals), “Without You” e “She Goes Down” traziam a identidade do Mötley Crüe, ao mesmo tempo que “Slice Of Your Pie” olhava para suas influências e trazia menções aos Beatles. Todavia, as grandes gemas estão nas preciosas “Dr Feelgood”, “Same Ol’ Situation”, “Kickstart My Heart” e “Don’t Go Away Mad (Just Go Away)”.
Os quatro estavam numa fase tão prolífica que saíram da pré-produção com vinte e quatro composições na bagagem, e a vontade de lançar um disco duplo, ideia que foi logo recusada pela gravadora. Porém, nem toda essa excelência conseguiu segurar a relação conturbada entre seus integrantes, e durante os próximos cinco anos veríamos importantes mudanças de formação. Em 1992 a banda já estava esfacelando, principalmente pelas tensões entre Vince Neil e Tommy Lee. O resultado foi a saída (demissão?) do vocalista, que inclusive gravaria um disco solo em 1993, intitulado “Exposed”.
4. “Mötley Crüe” (1994)
O Mötley Crüe entrou os anos 1990 numa situação conturbada. Tanto que seu primeiro disco naquela década chegou quando o grunge já havia causado um estrago enorme na cena glam metal/hard rock. “Mötley Crüe” chegava em 1994 apresentando os vocais de John Corabi em um disco que continuava a alta qualidade de composições e produção, ainda à cargo de Bob Rock.
Não havia dúvidas de que Corabi era um vocalista melhor que Vince Neil, mas o “loiro solitário” da banda era parte de sua identidade e os fãs torceram o nariz. Não que as mudanças musicais fossem tão grandes assim. A sonoridade ainda tinha aquela vibração suja do sleaze, a atitude roqueira, mas contextualizado às timbragens dos anos 1990.
É fato que John Corabi trouxe mais energia e agressividade para a identidade musical do Mötley Crüe, que buscou por uma sonoridade ainda mais suja, sombria e madura, sem a aura festeira e inconsequente, mais técnica e com os tons mais baixos que o usual (ouça “Hypnotized”, faixa bônus da edição remasterizada de 2003 e entenda o que quero dizer).
“Power To The Music”, por exemplo, seria louvada se lançada em qualquer um dos discos anteriores da banda, “Uncle Jack” levava o sleazy às raias do heavy metal, enquanto a marcante “Hooligan’s Holiday” imprimia um groove certeiro naquela que se tornaria a única faixa que sairia incólume das críticas a esse disco. “Smoke The Sky” também se destaca pelo riff brilhante de Mick Mars.
Mas a estrela da banda aqui é Tommy Lee, com uma performance avassaladora. Uma pena que essa formação só rendeu esse disco. Vince Neil voltaria em janeiro de 1997, para gravar o patético “Generation Swine”, lançado ainda naquele ano. O disco não tinha um direcionamento e nem sombra do que a banda produziu até 1989. Parece que até o Mötley Crüe incorreu no erro das bandas de hard rock que se renderam às libertinagens e despojamento do grunge, soando alternativo, modernoso e fraco nas timbragens. Não deu certo!
Nessa época ainda tivemos uma gravação pornográfica caseira de Tommy Lee e sua esposa, Pamela Anderson, disseminada na internet. Mais um escândalo pra conta! Ah! E ele também ficaria preso por uma boa parte do ano de 1998 por espancar a esposa. Se for correr o risco de conferir “Generation Swine”, antes dê preferência ao material que John Corabi produziu com o Union após suas saída do Mötley Crüe, ou aos recentes e ótimos discos do Dead Daisies.
5. “Saints of Los Angeles” (2008)
Após a falta de direcionamento de “Generation Swine”, o Mötley Crüe mostrou um sopro de esperança com “New Tattoo”, lançado em 2000, e que tinha faixa de abertura, “Hell On High Heels”, seu melhor momento, apesar do forte sabor datado de suas músicas. Talvez o trauma de tentar ser “diferentão” no álbum anterior foi grande e a banda resolveu recorrer aos clichês mais ordinários (na acepção da palavra) de sua obra.
“New Tattoo” marcaria a estreia da banda pelo próprio selo e também o registro de Randy Castillo com a banda em estúdio, substituindo e excêntrico Tommy Lee, que, após mais um capítulo da rusga com Vnce Neil e um tempo de cadeia, estava mais interessado no discutível projeto Methods of Mayhem. Infelizmente Castillo faleceria em 2002, o que traria Tommy Lee de volta à banda em 2004, numa reunião da exaltada formação original. Musicalmente, em estúdio, a redenção só viria em 2008, com o ótimo “Saints of Los Angeles”.
No mesmo ano, AC/DC, Metallica e Guns N’ Roses também lançaram discos de inéditas, mas nenhum deles conseguiu impactar tanto os fãs como “Saints of Los Angeles”. Aquele hard rock perigoso, malicioso e sujo estava de volta, com produção impecável, além da alta octanagem das composições. Claro que os problemas entre Tommy Lee e os outros membros complicaram as coisas, mas até isso deu mais vontade de produzir algo novamente com a vibração das ruas, que remetesse aos melhores movimentos da banda nos anos 1980, mas sem ser datado!
“Face Down the Dirt” já espalha a tal sujeita pelo oxigenado hard rock do Mötley Crüe, enquanto “What’s It Gonna Take” joga um pouco de groove e melodia na fórmula que segue faixa após faixa olhando para sua herança musical, mas com explosão moderna, com em “The Animal in Me” e na poética “Chicks = Trouble”. Porém, a grande estrela da companhia é a faixa-título, que carrega todo aquele sentimento de força e poder que o hard rock pode injetar em nossas veias usando a adrenalina como condutor. “Saints of Los Angeles” foi sucesso de público e crítica e fez o Mötley Crüe sair de cena em alta!
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Apenas colocaria o” girls girls girls” no lugar do fraco Saints of Los Angeles.Este é muito moderninho,não empolga.