BOMBAY GROOVY | Vanguarda Musical e Mitologia em Novo Single

 

Bombay Groovy saturnalia devi
Bombay Groovy: “Saturnalia/Devi” (2019, Independente)

Foram três anos de silêncio por parte do Bombay Groovy.

Desde o lançamento do excepcional “Dandy do Dendê” (resenhado por nós aqui), em 2016, o trio entrou num hiato quanto a novas composições, quase como um período para tomar fôlego após os eventos que se sucederam em sua biografia recente, como o chocante falecimento do  baixista Danniel Costa, em 2015.

Agora, Rod Bourganos, Jimmy Pappon, e Leonardo Nascimento não só nos brindam com duas novas composições no single recém-lançado, como nos mostram uma nova formação, adicionada do baixista Otávio Cintra, advindo da ótima banda Hammerhead Blues.

Como uma das bandas mais interessantes dentro do cenário nacional na atualidade, a palavra vanguarda seria ideal para definir a proposta musical ousada e técnica que apresentaram nos dois discos que registraram.

Todavia, basta uma única audição em “Saturnalia” e “Devi”, as duas novas composições, para colocarmos o termo maturidade bem ao lado de vanguarda se tivéssemos que defini-las em poucas palavras.

A proposta destemida e quase inédita no rock nacional continua intacta, sem mascarar uma mudança. Sendo assim, a sonoridade permanece exótica, dona de alta capacidade técnica e sensibilidade para expandir tal exotismo, por uma abordagem progressiva e jazzística, de tempero musical indiano.

Ao mesmo tempo que tudo isso permanece no diálogo musical, este par de novas músicas aponta para uma nova direção.

“Saturnalia” é, além de uma herdeira de “Dandy do Dandê”, uma referência a Frank Zappa, à começar pelo título. Musicalmente ela é um jazz/fusion de sabor setentista, que beira a imprevisibilidade fruto do instinto licoroso.

Não à toa essa faixa tenta capturar a lascívia dionisíaca da celebração romana do Solstício de Inverno, em honra a Saturno.

As influências de Zappa se mostram ainda no groove técnico e malicioso. Até por isso, aconselho uma maior atenção à seção rítmica, principalmente na bateria de Leonardo Nascimento, que pulsa num polirritmo vertiginoso.

Já os teclados de Jimmy Pappon, inflamados, instilam adrenalina no fusion vigoroso ao mesmo tempo em que subverte harmonias e aspectos sinfônicos pelas distorções lisérgicas.

O polivalente Rod Bourganos cultua os deuses do fusion em suas linhas de guitarra, mas principalmente insere em “Saturnalia” sua verve roqueira na fórmula, como se Jimmy Page participasse de uma frenética e incendiária versão do Steely Dan.

E se num primeiro momento a mitologia romana foi usada como conceito para “Saturnalia”, sua contra-parte neste single, intitulada “Devi”, buscou a mitologia hindu.

“Devi” se inspira nas histórias de Durga, presente nos textos védicos e que cultua o sagrado feminino. A faixa se concentra em sua batalha contra o exército de Raktabija, quando se transforma em Kali Ma, a Deusa Mãe ligada à criação.

Conhecida como Mãe Negra, Kali carrega a cabeça e a espada de um demônio que ela matou. Kali também é mãe e seu amor é tão intenso quanto sua ira.

Por todo esse conceito, explica-se em “Devi” a busca por um maior “tradicionalismo” aos preceitos musicais  orientais, guiado pela sitar, e invocando a estética musical do primeiro trabalho.

Não só isso, esta contextualização dá ainda mais sentido ao ritmo bem marcado desta faixa, quase hipnótico, e de tempero oriental mais aflorado.

Talvez, num primeiro momento, “Devi” soe menor que “Saturnalia”, em decorrência da vibração mais astral e da sua menor intensidade. Porém, com o passar das audições, as camadas, os detalhes e as sobreposições de texturas (como as espaciais do desfecho) vão emergindo e se mostrando altamente criativas.

O Bombay Groovy fatalmente deu um foco ainda maior à sua musicalidade, como uma versão inteligente do rock progressivo instrumental, de referências orientais e improvisação jazzística.

Por aí, vemos como a maturidade de evoluir sua fórmula, sem mascarar uma mudança e subverter sua identidade, foi atingida, principalmente nos aspectos orientais de sua música, que se reforçam como efeito nos arranjos e não como causa, algojá esboçado no álbum “Dandy do Dendê”.

O single foi registrado no Estúdio Play It Again, por Caio Torrezan e Rafael Thémes, e a produção certeira também revela uma banda mais ácida e crua, pisando fundo em virtuose, melodia e atrito entre velocidade e técnica.

Se o propósito de um single é antecipar um novo trabalho, ou experimentar num redirecionamento da personalidade musical de um artista, criando um ponto de transição na discografia, podemos dizer do Bombay Groovy, à julgar por estar duas novas faixas, que estão para entrar em sua fase mais autoconsciente em termos musicais.

Confira as faixas na íntegra abaixo, ou na plataforma digital de sua preferência clicando aqui.

 

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