Lanny Gordin | O Primeiro Guitar Hero do Rock Nacional

 

Lanny Gordin é conhecido como o “Jimi Hendrix Brasileiro”, tamanha sua técnica e seu feeling demonstrados desde sua estréia na Boate Stardust, na Praça Roosevelt, no centro de São Paulo, em meados da década de 1960.

A casa noturna pertencia ao pai de Lanny, e era lugar de constantes apresentações de geniais nomes da música brasileira, como Hermeto Pascoal e Heraldo Do Monte, as inspirações declaradas de Lanny Gordin.

Nascido em Xangai, na China, em 1951, Alexander, um filho de um russo com uma polonesa, passou a infância em Israel, até que se mudou para São Paulo. Ao entrar na adolescência já era Lanny e estava às voltas com o violão tentando, de ouvido, tirar os fraseados do lendário violonista Garoto, ao mesmo tempo que assimilava o blues norte-americano e britânico.

Era o fim das tentativas de sua avó de fazer dele um pianista e com o passar da idade começou a absorver os revolucionários da música, como Jimi Hendrix, John Coltrane e The Beatles, enquanto refinava sua técnica autodidata nas seis cordas, cheio de personalidade, um certo exotismo e foco nos riffs.

Mesmo falando um português arrastado, exibir seu talento nos estúdios nacionais era questão de tempo e já em 1968, aos 16 anos, ele estava inserindo suas linhas vibrantes e diferenciadas em discos que formatariam a música pop do Brasil na década seguinte.

Seu talento pincelou uma verve roqueira diferente em discos de gente como Rita Lee, Gilberto Gil, Gal Costa, Erasmo Carlos, Jards Macalé e Caetano Veloso. É de Lanny Gordin aquele timbre de guitarra tão característico dos solos nos discos dos tropicalistas, com destaque ao brilhante projeto Brazilian Octopus ao lado de Hermeto Pascoal.

Sua técnica era muito influenciada por Jimi Hendrix, mas sua identidade própria era indiscutível como podemos ouvir na versatilidade de suas linhas nos discos que edificaram o tropicalismo, afinal, à partir de 1969, trouxe o blues rock para o movimento antropofágico de Gilberto Gil, Caetano Veloso e Gal Costa.

Sua assinatura de timbre, melodias e exotismo é destacada nos dois discos de Gal Costa lançados em 1969, onde ele desenhava o rock psicodélico britânico à moda brasileira, e também no ao vivo “Fa-tal: Gal a todo vapor”, de 1971, onde Lanny se apresenta como o primeiro guitar hero brasileiro.

Uma curiosidade, na turnê deste trabalho ao vivo de Gal Costa, Lanny ouviu de João Gilberto, o expoente da Bossa Nova: “Você tem muito talento. Continue tocando de acordo com seu estilo.” E ele seguiu este conselho à risca.

Um exemplo disso, vem antes mesmo desde conselho, na sua atuação em “Build Up”, de Rita Lee, lançado em 1970, que merece ser redescoberta. Este é o primeiro álbum solo de Rita, ainda como integrante dos Mutantes, e a guitarra de Lanny foi eficiente em transformar a estética dos Mutantes em algo mais pop e simples. Por falar em pop, sua guitarra está no sucesso “Chocolate”, de Tim Maia.

A guitarra de Lanny ainda está em clássicos da psicodelia brasileira como “Carlos, Erasmo”, disco de 1971 de Erasmo Carlos, o clássico e “maldito” primeiro álbum de “Jards Macalé” (1972), além de “Araçá Azul”, de Caetano Veloso e “Expresso 2222”, de Gilberto Gil.

A vida de Lanny mudaria quando foi acompanhar Jair Rodrigues numa turnê pela Europa. Ao fim das datas ele foi com a namorada para Londres e se hospedou na casa de um hippie que deu a ele LSD. Nas palavras do guitarrista:

“Foi um efeito psicodélico. Quando eu tomei, vi tudo colorido. A realidade colorida. Aí eu pensei que entrei em outro mundo só de paz e amor. Eu era muito criança para conhecer a realidade”

Ele queria experimentar esta viagem de novo, mas na sétima dose em seis meses veio a bad trip. Infelizmente, todo o brilho de talento foi ofuscado pelo uso de drogas. Lanny Gordin nunca retornou perfeitamente de uma bad trip causada por LSD, em 1974.

Desde então, ele passou a sofrer com esquizofrenia e pesadelos que levaram a passagens em sanatórios, tratamentos com eletrochoques e comprimidos psicotrópicos. “O meu psiquiatra explicou que, como sou esquizofrênico, o ácido foi o gatilho, engatilhou os meus problemas interiores e pôs tudo pra fora”, contou Lanny à Folha de São Paulo.

No início dos anos 1980, ensaiou uma volta com a Banda Performática, um projeto de Arnaldo Antunes, predecessor ao Titãs, com o artista plástico Aguillar. Já no anos 1990, o guitarrista participou discos de artistas como Vange Milliet, Chico César e Jards Macalé. Em 2002, ele se reuniu com os jovens músicos do Projeto Alfa, sua banda com Guilherme Held, na guitarra, Fábio Sá, no baixo acústico, e Zé Aurélio, na timbatera.

10 Discos Essenciais Pra Conhecer Lanny Gordin

  1. Brazilian Octopus – “Brazilian Octopus” (1969)
  2. Rita Lee – “Build Up” (1970)
  3. Erasmo Carlos – “Carlos, Erasmo…” (1971)
  4. Gal Costa – “Fa-tal: Gal a todo vapor” (1971)
  5. Jards Macalé – “Jards Macalé” (1972)
  6. Gilberto Gil – “Expresso 2222” (1972)
  7. Caetano Veloso – “Araçá azul” (1973)
  8. Chico César – “Aos vivos” (1995)
  9. Lanny Gordin – “Duos” (2006)
  10. Kaoll & Lanny Gordin – “Auto-Hipnose” (2010)

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