“Comalies”, terceiro disco da banda LACUNA COIL é nossa indicação de hoje na seção VOCÊ DEVIA OUVIR ISTO, cuja proposta você confere nesse link.
Definição em um poucas palavras: pesado, moderno, alternativo, gótico, climático.
Estilo do Artista: Gothic Rock/Metal
Comentário Geral: O Lacuna Coil já chegou grande ao mercado fonográfico.
Seu trabalho de estréia, um EP autointitulado lançado em 1998, já saiu pela Century Media, à época a maior gravadora de heavy metal do mundo.
Com apenas um ano de atividade a banda impressionava já nessas primeiras composições, principalmente pela dinâmica envolvente e criatividade muito acima da média
A musicalidade era liderada pelo atrito das vozes masculina e feminina que se alternavam sobre uma base instrumental contundente, oscilando entre a profundidade melancólica e o peso melódico.
Logo embarcaram numa turnê européia com os portugueses do Moonspell e pouco mais de um ano depois do lançamento do EP ofereciam seu primeiro full lenght, intitulado “In a Reverie”, lançado em fevereiro de 1999, já mostrando uma evolução vertiginosa em comparação às primeiras composições.
Nesse primeiro álbum completo os vocais de Cristina Scabbia ganha o protagonismo, deixando menos partes para as linhas agressivas de Andrea Ferro, além de trazer “My Wings”, uma das melhores músicas da carreira da banda, com um refrão indefectível.
Mesmo com todo o crescimento que este trabalho e o seguinte, “Unleashed Memories”, garantiram ao Lacuna Coil, o fato é que eles tinham ainda os problemas de uma banda underground, principalmente os financeiros.
A turnê do segundo disco foi desgastante física e mentalmente, mas a vontade de produzir era ainda maior. Tanto que rumaram para a Alemanha com o intuito de gravar o próximo disco ao lado do produtor Waldemar Sorychta.
As músicas que viriam a integrar o disco “Comalies” começaram a ser compostas ainda em Milão, na Itália, transformando as emoções e o desgaste da turnê em algo produtivo.
“Comalies” foi lançado em outubro de 2002 e chamou a atenção pela maturidade que o Lacuna Coil apresentava em tão pouco tempo.
Um disco que abria com músicas como “Swamped” e “Heaven’s a Lie” deixava claro que o Lacuna Coil era o grande nome de sua geração quanto ao potencial de sucesso comercial.
Estas duas faixas estão entre as melhores música da banda com toda a certeza e no início de “Comalies” garantiam que o Lacuna Coil já estava musicalmente muito à frente daquele que apresentou, três anos antes, o disco “In a Reverie” (1999), principalmente a vocalista Cristina Scabbia que se apresentava como uma nova diva do heavy metal.
Os duetos vocais com Andrea Ferro ganharam mais destaque pelo atrito de forma e conteúdo e os arranjos soavam mais sofisticados que antes, com climas bem criados, ao mesmo tempo que se apresentavam mais pesados.
Não seria exagero dizer que com “Comalies” eles conseguiram mesclar o que era moderno musicalmente naquela época com o gothic metal e uma dose de rock alternativo, sobre estruturas básicas desenvolvendo melodias cativantes, principalmente nas linhas vocais, e poucos solos.
Até por isso, era relativamente difícil rotular a banda, como a própria vocalista Cristina Scabbia declarou em entrevista ao site Resenhando: “Não somos apenas gothic metal, então é muito difícil dar um nome ao estilo do Lacuna Coil.”
Ela ainda completa:
“Para mim, o Lacuna Coil é uma mistura de gótico, rock e heavy metal com um toque moderno. O fato é que todos na banda gostam de diferentes estilos, da música clássica ao metal extremo, então colocamos todas as nossas influências nas composições que elaboramos. É por isso que você encontrará rock e metal misturados com arranjos que nada têm a ver com o gótico.”
Essa seria exatamente a fórmula musical que anos mais tarde faria do Lacuna Coil o único nome sobrevivente ainda relevante e pouco alterado em sua essência da cena heavy metal da virada do milênio, que trazia vocalistas femininas e uma aura gótica envolvente.
Foi nessas músicas que eles começaram a desviar sua sonoridade para uma forma mais moderna e emocional, desenhando elementos que seriam indeléveis de sua personalidade ousada, agressiva e melódica.
A faixa-título, por exemplo, mantinha a tradição das letras em italiano e os grandes destaques, “Heaven’s a Lie”, “Swamped” junto com “Daylight Dancer”, “Unspoken” e “Tigh Hope” nos dão a impressão de que o Lacuna Coil era uma banda moderna, forte e intensa, ainda com alguns resquícios das influências de discos como “Draconian Times”, do Paradise Lost, e “Mandylion”, do The Gathering.
Além disso, os teclados traziam uma estética oitentista para a sonoridade do Lacuna Coil, algo que percebemos muito bem na introdução da cadenciada “Humane”, com suas claras inspirações no The Mission e no Killing Joke.
Já “Aeon” mostrava alguma influência progressiva com profundidade e clima bem criado, assim como a brilhante “Angels Punishment”, enquanto “The Ghost Woman and The Hunter” ensinava como seguir os clichês do gothic metal de forma envolvente e decente, e “Entwined” trazia a verve mais alternativa do gothic rock para o jogo sinuoso e cadenciado.
“Comalies” enfim elevou o Lacuna Coil a um patamar de destaque dentro do mundo do metal, confirmando o promissor potencial de seu início de carreira como realidade dentro da cena. Tanto que a próxima parada seria no festival norte-americano Ozzfest.
O disco se tornou um dos mais vendidos da história da gravadora Century Media até então, o que os levou também a uma extensa turnê.
Um novo trabalho somente quatro anos mais tarde. “Karmacode” seria mais um passo na metamorfose da banda rumo à estética obscura e groovada da atualidade.
Mas aí já é assunto para um outro artigo!
Ano: 2002
Top 3: “Swamped”, “Heaven’s a Lie” e “Comalies”
Formação: Cristina Scabbia (vocais), Andrea Ferro (vocal), Marco Coti Zelati (baixo), Cristiano Migliore (guitarra), Marco Emanuele Biazzi (guitarra) e Cristiano Mozzati (bateria e percussão)
Disco Pai: The Gathering – “Nighttime Birds” (1997)
Disco Irmão: Within Temptation – “Mother Earth” (2000)
Disco Filho: Flowing Tears – “Razorbliss” (2004)
Curiosidades: Cristina Scabbia, a vocalista, foi contratada para ser baking vocal, mas a sua voz encantou os outros integrantes da banda, e ela foi contratada como um membro da banda, sendo hoje a imagem do Lacuna Coil.
Pra quem gosta de: literatura gótica, filmes do Tim Burton, alternativo ma non troppo, rock com peso moderno e vocais femininos.
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