Uma das evoluções musicais mais interessantes de se observar é a que acontece com as bandas de heavy metal extremo da primeira metade dos anos 1990, principalmente das cenas black metal e doom/death metal.
Tome como exemplos, Enslaved, Arcturus, Anathema, Amorphis, Opeth e Paradise Lost, que evoluíram das catacumbas sombrias do heavy metal, para uma sonoridade trabalhada, algumas delas investindo mais em elementos progressivos, outras em incursões mais modernas, mas sempre com maturidade e exploração musical, abusando do bom gosto e oferecendo álbuns de alta qualidade.
Dentre este grupo seleto, podemos adicionar o Katatonia, que sempre apresentou elementos diferentes em cada um de seus álbuns.
Partindo do sombrio “Dance Of December Souls” (1993), passando pelo gótico “Discouraged Ones” (1998), e chegando ao moderno “Viva Emptyness” (2003), percebemos de modo claro que a transformação musical do Katatonia sempre seguiu de modo ininterrupto, sem oferecer um déjà vu discográfico sequer.
Mesmo assim, em meio a esta linearidade evolutiva sempre mesclaram melodias melancólicas e letras provocativas em meio a andamentos climáticos e reflexivos, numa sobreposição de ideias que apareciam no passo anterior, mas sempre com olhos à frente.
Neste décimo álbum de estúdio esta condição permanece, sendo o produto final das parcelas musicais multiplicadas à partir de 1996, dando mais tempero progressivo às melodias tradicionais.
Tiraram um pouco da frieza natural à sonoridade sueca, imprimindo mais calor à melancolia, fugindo da tristeza e se aproximando do alívio após o desabafo por vias musicais psicodélicas e quase experimentais.
Algumas guitarras e passagens mais pesadas referenciam os tempos pregressos (como na proximidade ao tradicionalismo gótico misturado ao rock alternativo de “Serein”), mas a banda agora é outra, investindo em pianos confortáveis, instrumentação diferente e densa orquestração
Mesmo assim, a música se torna palatável e acessível, que, como uma pintura impressionista, apresenta um conjunto nítido por meio de pinceladas difusas.
Neste contexto, a metamorfose do Katatonia se assemelha à praticada pelo Opeth e pelo Anathema em direção ao progressivo, sendo que este “The Fall Of Hearts“, soa como um álbum de transição para a sonoridade bem cerebral e musicalmente intelectual.
Um fato refletido no manejo das excentricidades musicais, que gera seus pontos altos nas faixas mais fortes, com guitarras proeminentes e menos experimentação, como “Sanction” (faixa melhor construída dentro da proposta), “Serac” e “Last Song Before The Fade”.
Dentro da variação exploratória do álbum, temos até mesmo andamentos de fusion e efeitos eletrônicos, tendo em “Takeover”, “Old Hearts Falls” e “Residual” faixas que traduzem magnificamente a proposta atual do Katatonia.
“The Fall of the Hearts” é o último estágio de uma evolução musical, onde a banda mescla as sonoridades dos dois álbuns anteriores, “Dead End Kings” (2012) e “Dethroned & Uncrowned” (2013), expandindo vertiginosamente seus horizontes.
O que dificulta na obtenção de um retrato verbal fiel à musicalidade deste álbum, onde nem toda a complexidade das texturas sonoras conseguiu fazer com que o álbum deixasse de ser acessível aos apreciadores dos mais diversos subgêneros do rock, nos deixando extremamente curiosos sobre qual será o próximo ponto de virada na discografia do Katatonia (que é justamente “City Burials”, de 2020).
Esqueça a banda que você ouviu em álbuns como “Dance Of December Souls” (1993), “Discouraged Ones” (1998) e “Viva Emptyness” (2003), ela já não existe há tempos, mas não deixe que sua vontade de ser um “headbanger malvadão” o prive de ouvir um dos grandes álbuns progressivos da última década.
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