Michael Monroe – Resenha de “One Man Gang” (2019)

 

Um vocalista loiro afetado, um guitarrista virtuoso, um baixista preciso e um baterista espalhafatoso eram integrantes obrigatórios para formar uma banda de hard rock nos anos 1980.

De Twisted Sister a Guns N’ Roses, passando por Motley Crue, Cinderella, Poison, Warrant e Skid Row, esse era praticamente o modelo base do glam metal norte-americano.

Mas, ao contrário do que se pensa, esse foi um modelo retirado de uma banda finlandesa: o Hanoi Rocks.

Que não só influenciou o hard rock oitentista em termos de visual e postura, mas também musicalmente, pois o clássico “Bangkok Shocks, Saigon Shakes, Hanoi Rocks”, lançado em 1981, é praticamente uma bíblia do estilo.

Sabe quem era o tal vocalista loiro afetado do Hanoi Rocks? Exatamente. Michael Monroe!

Michael Monroe - One Man Gang (2019, Hellion Records)
Michael Monroe – “One Man Gang” (2019, Hellion Records)

O vocalista já tem uma longa carreira solo, inciada ainda nos anos oitenta, sendo este “One Man Gang” seu nono álbum de estúdio, mantendo exatamente o que ele sempre fez de melhor: hard rock se dividindo entre o apelo oitentista e o despojamento punk.

Sucessor de “Blackout States” (2015), este mais recente álbum foi gravado e mixado por Petri Majuri, na Finlândia, e chama a atenção já pelo ótimo trabalho em estúdio, com produção captaneada pelo próprio vocalista e pelo guitarrista Steve Conte.

A dupla foi muito feliz no quesito produção, conseguindo amplificar as qualidades das composições e a habilidade dos músicos, deixando tudo orgânico, mas não datado, enquanto recuperava algo do clima vintage do hard rock.

Nesse sentido, se você gosta desse tipo de sonoridade, certamente irá se render à malícia de uma faixa como “Wasted Years”, talvez a melhor do disco!

A energia destas doze composições é alta, gerada pelo atrito de hard rock/AOR com punk que nos é entregue desde a faixa-título, responsável também por abrir o disco com uma simplicidade cativante.

Por algumas vezes, esse disco chegou a me lembrar algo do Demolition 23, um projeto de Michael Monroe nos anos 1990.

Aliás, “simplicidade cativante” poderia ser a definição deste disco, onde tudo soa honesto e sem maiores pretensões além de praticar o bom e velho hard rock como uma versão “junkie” do power pop.

Uma balada como “Midsummer Night” (ótima, aliás), a cadenciada “In The Tall Grass” (essa não tão boa assim) e a grudenta “Hollywood Paranoia” são sínteses disso!

Porém o grande trunfo deste disco mora na dinâmica entre composições mais trabalhadas, como “Junk Planet” (uma das melhores e com uma gaita sensacional à cargo do próprio Monroe), “Low Life In High Places” e “Heaven Is a Free State” (com um trumpete criativo num hard rock malicioso), junto a outras mais diretas como “Last Train to Tokyo”, a ótima “The Pitfalls Of Being An Outsider” e a nervosa “Black Ties And Red Tape”, todas recheadas de malícia e cadência, com refrãos grudentos e guitarras marcantes.

O trabalho da dupla de guitarristas, Steve Conte e Rich Jones, busca de artíficios conhecidos para instilar todo o conhecimento adquirido estudando os cânones do hard rock estruturados sobre as possibilidades do blues. 

Sua linhas são comuns, despretensiosas, mas sempre certeiras, tanto em riff quanto em solos, não economizando na versatilidade e no feeling das linhas que trincam os andamentos despojados e bem sustentados pela seção rítmica (que brilha em “Helsinki Shakedown”).

Já Michael Monroe entrega exatamente o que se espera dele: voz característica, curtida em álcool e tabaco!

Em suma, “One Man Gang” não é nunhuma oitava maravilha do mundo moderno do rock/metal, mas é uma festa de ganchos melódicos provocativos, adrenalina hard rock, depojamento punk e malícia glam.

FAIXAS:

1. One Man Gang
2. Last Train To Tokyo
3. Junk Planet
4. Midsummer Nights
5. The Pitfalls Of Being An Outsider
6. Wasted Years
7. In The Tall Grass
8. Black Ties And Red Tape
9. Hollywood Paranoia
10. Heaven Is A Free State
11. Helsinki Shakedown
12. Low Life In High Places

FORMAÇÃO:

Michael Monroe – lead vocals
Steve Conte – guitars
Rich Jones – guitars
Sami Yaffa – bass
Karl Rockfist – drums

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