Enslaved – Resenha de “E” (2017)

 
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Enslaved: “E” (2017, Shinigami Records, Nuclear Blast) NOTA:9,5

Oriunda da cena black metal norueguesa, a banda Enslaved moldou sua sonoridade ao longo de álbuns tão marcantes quanto diferenciados, inserindo, com a chegada crescente de maturidade musical, o seu metal extremo numa forja criativa, experimental e moderna.

Por seus discos podemos ver que ampliaram sua abordagem musical, rompendo as paredes de um gênero rígido, tendo como limite apenas um aberto horizonte de possibilidades que nos brindou recentemente com álbuns excelentes como este “E”, o décimo quarto da carreira da banda.

Um título simples, mas que carrega um significado forte. Dentro desta aparência singela está a força da runa ehwaz. Muito além de um alfabeto nórdico usado antes dos colonizadores cristãos chegarem à Escandinávia, as runas, culturalmente, possuem um sentido mágico, dando significados específicos para determinados objetos. Neste sentido, a runa que intitula este álbum  invoca um conceito de simbiose, cooperação  relação entre seres humanos, opondo-se ao individualismo da sociedade de hoje.

Musicalmente, alguns podem até torcer o nariz, mas o Enslaved se tornou uma banda de extreme/prog metal, como se fundisse sua sonoridade primal com o King Crimson e o Neurosis. Ou seja, temos variações de texturas, velocidades e pesos, em arranjos que se transmutam dentro de cada composição, promovendo uma viagem de alta intensidade e beleza gélida, numa masa sonora fria, que consegue ser melancólica e malévola, tanto quanto é imprevisível.

Confira o clipe de “Storm Son”… [youtube https://www.youtube.com/watch?v=GRlhMyXmTYQ&w=560&h=315]

Imprevisibilidade que se tornou o padrão da banda, pois se em “In Times” (2015), disco anterior, a banda invocava demônios espaciais ancestrais em suas músicas, agora, os sentimentos sombrios e humanos estão não só nos temas das letras, mas também nos arranjos que trocam a tensão e a densidade por melancolia e intensidade emocional, bem impresso por uma produção orgânica e limpa.

Os teclados estão aliados a bons riffs e harmonias de guitarra brilhantes, que oscilam da classe para a agressividade com fluidez, os climas estão bem alocados dentro das composições dinâmicas, e os backing vocals carregam a grandiosidade épica. Já os vocais se dividem entre a melancolia limpa e a agressividade dos trejeitos do black metal.

Por faixas como “Sacred Horse”  e “Feathers of the Worlds” vemos que o Enslaved não se fia a regras e barreiras, sendo que a primeira se destaca por ser uma faixa intensa, com teclados que dariam gosto ao Deep Purple e ao Yes, além de cânticos hipnóticos e força metálica em seus mais de oito minutos de viagem musical turbulenta!

Já “Hiindiight”, a melhor do trabalho (junto à bônus “Djupet” com seu peso climático), mescla death/doom depressivo e sorumbático, com um sax ora à moda jazz, ora criando o clima. Assim como “Axis of the Worlds”, que se apresenta como um metal extremo dissonante, melancólico e com pontualidades interessantes nos arranjos.

Juntas, estas serão duas composições  que mostrarão como a alta liberdade musical se dá, ora mais adequada ao black metal, ora mais encaixada à forma alternativa, uma divisão melhor compreendida na envolvente “The River’s Mouth”.

Confira o clipe de “The River’s Mouth”… [youtube https://www.youtube.com/watch?v=Y8HX_vGPCz8&w=560&h=315]

Daí já podemos ver como a banda possui sua música sob controle, por mais caótico que possa parecer seu padrão, amalgamando hard rock, metal extremo alternativo, usando a ousadia e liberdade do progressivo para estabilizar suas oscilações entre agressividade e melodia.

Abrindo o trabalho, “Storm Son” surge dando a ideia de que o álbum terá um tom cinematográfico e épico. Sim, existirá, afinal este é conjunto de composições mais dramáticas, porém estes sentimentos serão trabalhados de formas diferentes em cada faixa. Na outra ponta do tracklist temos um interessante cover para “What Else Is There”, do grupo de música eletrônica Röyksopp.  

Ao todo, são oito faixas que vão do minimalismo melancólico ao orgástico progressivo, com a ousadia de exploradores musicais e a maturidade daqueles que possuem quase três décadas de carreira na bagagem! Mais um disco impecável do Enslaved!

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