Green Day – Insomniac (1995) | Você Devia Ouvir Isto!

 

“Insomniac”, esquecido e brilhante quarto disco da banda norte-americana GREEN DAY, é nossa indicação de hoje na seção ‘Você Devia Ouvir Isto’. A proposta desta nossa seção você confere nesse link.

Green Day Insomniac

Definição em um poucas palavras: Punk, Pop, Guitarra, Anos 1990

Estilo do Artista: Pop Punk

Comentário Geral:  “Insomniac” era o quarto álbum do Green Day e tinha a dura missão de suceder o clássico “Dookie”. O estilo era o mesmo e este é como uma continuação do predecessor. Poucos dão atenção a este álbum, mas canções como “Geek Stink Breath”, “Walking Contradiction”, “Westbound Signs” e “Armatage Shanks” são ótimas e pouco valorizadas na discografia do grupo.

Muitos acusam o Green Day de ser algo dirigido para o mercado fonográfico, mas é fato que poucas são as bandas de rock que representam tanto os jovens de sua geração quanto este trio norte-americano.

Se você cresceu nos anos 1990 e gostava de rock com certeza tem alguma memória afetiva com músicas como “She”, “Basket Case”, “When I Come Around” ou “Good Riddance (Time of Your Life)”.

Todas estas, junto as citadas anteriormente mostra que o Green Day em seus primeiros quatro discos era uma banda que queria trazer uma veia pop ao punk rock, trocando a crueza e a combatividade por melodias simples e refrãos certeiros. E não há como negar que nisso eles eram muito bons.

A fórmula não era nova. Conhecida como pop punk, este é um gênero que mistura o som alto, acelerado e crú do Punk Rock com as fórmulas cativantes da música pop. O pop punk existe desde o início do punk rock, permeando outros subgêneros e por isso muitas vezes é difícil de defini-lo e começou a entrar no mainstream na década de 1990 ficando em destaque até o início dos anos 2000.

Voltando ao Green Day, desde que ganharam algum destaque com “Welcome to Paradise” e a versão de “My Generation”  do The Who, ambas presentes no disco “Kerplunk!” (1992), lançado por uma gravadora independente, o Green Day escalou uma evolução musical que culminaria no genial “American Idiot” (2003).

Este primeiro disco trouxe a banda para uma gravadora multinacional por onde lançaram “Dookie” (1994) seu trabalho mais lembrado, e justamente, pois é um dos grandes momentos do rock naquela década.

Nos círculos de punks, as ondas de acusações causadas pela decisão do Green Day de assinar com a Warner Bros. em 1993 estava carimbando neles a pecha de vendidos, uma ofensa séria no underground. Pense o quanto Kurt Cobain, do Nirvana , quase da mesma geração e também vindo do underground punk, lutou contra e sofreu com o sucesso que sua banda fazia.

Mas no caso do Green Day era ainda pior, pois eles são filhos da cena punk da Bay Area e isso tinha um peso enorme na bagagem daqueles três jovens que haviam assinado com uma gravadora do mainstream. Vamos entender isso melhor, pois refletirá no que ouvimos em “Insomniac”.

Os pioneiros do punk da Bay Area de São Francisco foram bandas como Dead Kennedys, Avengers e Flipper, bem como o fanzine Maximum Rocknroll. Porém, quando a cena local tornou-se violenta, corrupta e racista, alguns punks da região responderam criando um estilo divertido e inclusivo de punk que também carregava a tradição de pensamento radical da região.

Unindo-se em torno do 924 Gilman Club, esse coletivo novo e diversificado de desajustados criou um ambiente experimental para arte e música do tipo “faça você mesmo” e sem espectadores, que mudou a cena punk da Bay Area e de onde saíram Green Day e Rancid. Após deixarem a Lookout! Records, gravadora que lançou “39/Smooth” e “Kerplunk!”, o Green Day foi banido do 924 Gilman.

O último show antes de assinarem o contrato foi em Petaluma no Phoenix Theatre”, disse Ben Saari, frequentador do Gilman Club em “Gimme Something Better”, a história oral de Jack Boulware e Silke Tudor sobre o punk da Bay Area. “Havia toneladas de pessoas. Todo mundo sabia que no dia seguinte eles estavam assinando o acordo com o diabo e tudo seria perdido. Eles seriam [tachados de] vendidos, ninguém poderia ser amigo deles, eles estariam em turnê para sempre, eles explodiriam.”

Essa carga emocional e mental junto ao estresse de uma banda que estava decolando cobraram seu preço. Em 1995, o Green Day,  completado por Billie Joe Armstrong (vocal e guitarra), Mike Dirnt (baixo), Tré Cool (Bateria) estava na capa de revistas ao redor do mundo e tocava na segunda edição do festival de Woodstock. A MTv passava seus clipes incessantemente e os números das vendas ultrapassaram a casa dos dez milhões ao redor do mundo.

Entretanto, eles viviam um dilema filosófico. “Acho que estava simplesmente perdido”, disse Billie Joe Armstrong, em entrevista a Larry Livermore. “Eu não conseguia encontrar forças para me convencer de que o que eu estava fazendo era uma coisa boa. Eu estava em uma banda que era enorme porque deveria ser enorme, porque nossas músicas eram tão boas. Mas eu nem conseguia sentir que estava fazendo a coisa certa, porque parecia que eu estava deixando muitas pessoas com raiva. Foi aí que eu fiquei tão confuso, e ficou realmente ruim. Eu nunca gostaria de viver essa parte da minha vida novamente.”

A forma com que as críticas vieram afetaram muito o líder do Green Day. Enquanto o nome da banda explodia durante a divulgação de “Dookie”, Armstrong escreveu uma música chamada “86″ em referência à sua banda ser personae non grata no 924 Gilman Club e parece um desabafo de quem a paciência já acabou. A faixa apareceria em “Insomniac”, quarto álbum do Green Day, no outono de 1995.

Neste contexto, “Insomniac” sai em 1995 mas não tem a repercussão de seu antecessor, apesar de musicalmente ser um disco melhor composto e produzido (o som da bateria e do baixo estão orgânicos e fortes), até mesmo que “Ninrod” (1997), este último, um disco que é por vezes lembrado como a chegada da maturidade para o Green Day.

Porém, pra mim, a verdadeira pérola perdida do Green Day é “Insomniac”, pela energia (“Brat” e “Jaded” são vertiginosas), pela qualidade das composições, pela ousadia em certos momentos (como em “Panic Song” e “Brain Stew”) e pelos refrãos. Mas, principalmente, pela honestidade enfurecida desta músicas!

Quando o Green Day entrou no Hyde Street Studios em San Francisco para começar a trabalhar no sucessor de “Dookie”, eles eram uma banda em estado de confusão e com muitos demônios para exorcizar e, até por isso, e por ter percebido que o sucesso é um lugar de contradições, “Insomniac” era a ressaca da festa promovida em “Dookie”.

Se “86” chamava para as vias de fato os seus detratores, “No Pride” pareceria uma auto-análise ao dizer que “é melhor você engolir seu orgulho, ou você vai engasgar com ele”. Já o personagem de “Brain Stew” sofre de insônia por estresse e está tão ferrado quanto os que aparecem em “Stuart And The Ave”.

É incrível como um disco tão intenso e furioso pode soar tão deprimente, ressentido, melancólico e mentalmente esgotado como “Insomniac”, bem resumido por Huw Baines como um “coquetel de más vibrações e um flerte final amargo com a cena punk direta que os gerou”.

Com toda esta carga emocional acumulada o Green Day não poupou esforços para registrar estas músicas. Em uma sessão desafiadora de gravação de “Panic Song”, Tré Cool chegou a rasgar os calos em sua mão e caiu, esgotado, contra uma parede entre as tomadas. “Eu realmente o admirava por ter se submetido a isso”, disse Rob Cavallo, produtor de “Insomniac”, lembrando as mãos do músico como sendo “uma bagunça sangrenta”.

O Green Day nunca repetiria em disco um desfile tão impiedoso de ganchos melódicos cativantes como neste conjunto de faixas (o baixo que abre “Stuart and the Ave” é surreal – esta música precisava ser mais valorizada) que completam “Insomniac”. “Geek Stink Breath” e “Bab’s Uvula Who?”chegam a esbarram no hard rock. 

Além disso, ao lado do produtor Rob Cavallo o trio deu uma carga grunge aos timbres da seção rítmica enquanto a guitarra ganhou corpo e impacto pelo projeto de Bob Bradshaw na Custom Audio Electronics.

Acredito inclusive que “Insomniac” foi o disco do Green Day que melhor envelheceu. Este magnífico conjunto de quatorze músicas representa bem a “saída da infância” da banda sendo aquele dentre seus cinco primeiros discos que melhor superou o teste do tempo. Se o punk rock é sobre honestidade, então a “Insomniac”  é punk rock até o último fio dos moicanos!

Ano: 1995

Top 3: “No Pride”, “86”, “Stuart and the Ave”.

Formação: Billie Joe Armstrong (vocal e guitarra), Mike Dirnt (baixo), Tré Cool (Bateria)

Disco Pai: Buzzcocks – “Singles Going Steady” (1979)

Disco Irmão: Offspring – “Ixnay On Hombre” (1997).

Disco Filho: Blink 182 – “Take Off Your Pants and Jacket” (2001)

Curiosidades: Antes do título “Insomniac”, a banda considerava a nomeação do álbum como “Tight Wad Hill” (nome da 13ª faixa do álbum). Depois de visitar o artista Winston Smith para a colagem da capa do álbum, Billie Joe Armstrong perguntou como ele conseguiu fazer peças tão complexas em um tempo tão curto. Smith respondeu: “É fácil para mim. Eu tenho insônia.”

Pra quem gosta de: Tênis All Star sujo com terno e gravata, Punk de Butique e Coca-Cola.

Ofertas de Discos do Green Day:

  1. Green Day – “Insomniac” (25th Anniversary Deluxe Edition) [Disco de Vinil]
  2. Green Day – “Nimrod” [Disco de Vinil]
  3. Green Day – “Dookie” [Disco de Vinil]
  4. Green Day – “American Idiot” [Disco de Vinil Duplo, 180 gramas]

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3 comentários em “Green Day – Insomniac (1995) | Você Devia Ouvir Isto!”

  1. Melhor banda dos últimos anos. Tenho muita coisa deles. Sempre sugeri para que reavivar o rock in rio… e parece que ressuscitaram o “maledito” ontem.

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