O trio Gosotsa, formado em torno de Drannath (Baixo, piano e voz), ex-Bastardz, se apresenta como agente de uma revolução artística. E, de fato, não se privam da ousadia no que tange ao visual, à estrutura musical e às mensagens das letras, em busca de seu objetivo, assumidamente ambicioso. Mais do que isso, a proposta artística do Gosotsa é multidisciplinar. Música, poesia, e teatro, numa rebelião inconformista!
Para entender mais sobre essa abordagem artística, o lugar da banda no cenário nacional e os projetos que extrapolam a música, conversamos com Drannath. E os pormenores desta conversa você confere na entrevista à seguir.
Desde que ouvi e resenhei “O Sol Tá Maior III”, fiquei realmente impactado. E até agora não sei se absorvi a plenitude da estética do Gosotsa. Mas antes de falarmos do conceito, Drannath, poderia nos contar como foram os primeiros passos do projeto Gosotsa? Como foi a formação do trio?
Drannath: Quando fui expulso do Bastardz, passei três longos anos apenas discutindo exaustivamente o que viria a ser o Gosotsa, com um grande amigo, Leandro Akio. Neste processo, rompemos a parceria (eu queria chutar o balde e ele algo mais comercial) e então comecei a compor e a gravar sozinho “O Sol Tá Maior I”, recentemente lançado (mas gravado em 2011).
Passei uns 4 ou 5 anos sozinho (com uma breve passagem de Leandro Akio e Canhão) até encontrar Élitra, o batera, que conheceu a banda através do seu primo e me contatou para “fazer qualquer coisa” comigo.
Passamos um ano ensaiando sozinhos, Lippaus passou na banda como guitarrista (gravou o Sol II) e depois encontramos a Malu, nossa atual guitarrista.
O conceito artístico do projeto é extremamente complexo. Poderia nos explicar de uma forma simples este conceito?
Drannath: Em resumo, O Sol Tá Maior trata-se de um movimento de subida (estético, verbal e formal) onde começamos extremamente magnetizados e vazios, jogados às traças da matéria, passamos pelo distante idealizado (onde estariam as religiões, ciência e filosofia) até chegar no vívido e pleno, vasto e quadridimensional.
Qual o simbolismo do nome GOSOTSA neste conceito?
Drannath: Absolutamente nenhum. Estava há uns dois ou três anos procurando um nome, tivemos vários antes desse, mas este veio num erro de digitação. Quando ele surgiu em minha tela, EURECA! É esse. E esse ficou.
Olhando o material promocional do Gosotsa, vemos que existe uma preocupação com a arte em todas as suas formas. Como as outras formas de arte, além da música, se entrelaçam neste conceito?
Drannath: Através da linguagem estética. O mesmo peso dos acordes podem ser percebidos nas cores dos quadros ou no vocabulário do livro. Pra mim, música, texto e pintura é tudo a mesma coisa, portanto é muito natural que as diferentes expressões artísticas do Gosotsa provoquem as mesmas sensações no público. Estão interligadas mas também funcionam sozinhas, de maneira independente.
Musicalmente, o Gosotsa apresenta uma música difícil de rotular. Se você tivesse que indicar bandas/artistas cujos fãs certamente gostariam de “O Sol Tá Maior III”, quais seriam?
Drannath: Putz, pergunta difícil. Honestamente, não sei dizer sobre bandas de rock. Talvez algo entre o Hard Rock e o Heavy Metal. Indo pelo caminho da música erudita é mais fácil, com compositores do século XX, como Charles Ives, Béla Bartók, Jocelyn Pook e Alfred Schnitke.
Quais as diferenças entre as partes II e III de “O Sol Tá Maior”? Aliás, por que ambas saíram antes do “I”? Já pode nos dizer algo de como será esta primeira (terceira) parte?
Drannath: Acho que a principal diferença entre o II e III é na sofisticação. No II, compus tudo ainda como banda de um homem só, e o III foi muito mais coletivo, ficou muito mais rico. Conceitualmente, o II é mais leve e global, enquanto o III traz questões mais profundas e individuais.
O I está gravado desde 2011 e seu lançamento foi segurado até agora – acabou de ser lançado e já está disponível nas plataformas digitais – porque julguei que ele precisava de maior respaldo artístico para ser melhor compreendido, devido ao choque estético e formal que ele provoca.
Fechamos a trilogia e já estamos gravando o próximo lançamento, que será realizado no segundo semestre de 2019.
Existem metas de longo e médio prazo com os próximos lançamentos?
Drannath: Sabemos que temos uma barreira enorme para quebrar, que talvez o reconhecimento só venha depois da morte, ou não venha nunca… mas a meta é conquistar o mundo, sacudindo as esfinges corroídas pelo tempo e que consolidaram a pasteurização e ortodoxia da produção de arte em geral, tirando este mundo (e principalmente o Rock) deste museu saudosista e pondo-o pra frente, num futuro de muita liberdade artística.
Como funciona o processo de composição de vocês? É tudo desenvolvido em conjunto como um exercício livre de criatividade ou existe algum planejamento?
Drannath: Não há regra muito bem definida. Boa parte das músicas novas estão sendo escritas direto na partitura, com baixo, guitarra e voz definidos no papel. Mas temos muitas outras músicas que foram compostas no violão, no piano, no baixo, ou que a banda toda participou, como em “Caminhão de Salto Alto” ou “Que Babe”.
Tenho escrito músicas em partitura pela praticidade, mas também deixo algumas sem guitarra, para que possamos criar juntos. Mas, de um jeito ou de outro, tudo é feito com planejamento.
E como tudo funciona ao vivo com toda essa complexidade musical e multidisciplinaridade artística?
Drannath: Infelizmente nunca conseguimos unificar artes plásticas, teatro e música no mesmo lugar. Musicalmente, a gente se fode muito nos ensaios, mas depois fica tudo na mão e nosso show flui redondo, bem tocado. Nem é tão complexo assim, tem coisas muito mais complicadas por aí.
O público roqueiro é um tanto ensimesmado, ortodoxo, e encastelado em torno dos nomes canônicos. Um conceito tão ousado não dificulta ainda mais que a mente do público esteja aberta a uma banda autoral como o Gosotsa?
Drannath: Com certeza! Nossos shows mais decepcionantes, em termos de resposta do público, foram em casas de rock. Eu cresci em meio aos rockeiros mais sujos e nos lugares mais hostis, mas infelizmente essa galera dá de ombros para o que ela não reconhece como familiar. Entretanto, nossos melhores shows foram em locais abertos onde o tipo de público não é muito bem definido.
Com isso em mente, qual sua opinião sobre a cena atual do rock brasileiro? Qual o papel do Gosotsa na atual cena nacional?
Drannath: Sinceramente, não tem muita coisa por aí que chame minha atenção. Vejo não só o rock brasileiro mas também o internacional numa estagnação angustiante. Creio que o papel do Gosotsa é mostrar que é possível fazer algo original, corajoso e vibrante.
Qual é a resposta de crítica e público até agora? Você acha que realmente captaram a mensagem do Gosotsa?
Drannath: A resposta é relativamente satisfatória. Temos fãs fanáticos, temos boas críticas, e temos também muitas críticas negativas, principalmente do consumidor comum de música.
Mas, mesmo entre os que nos admiram, sinto que não captaram totalmente nossa mensagem ainda, talvez leve mais um tempo, talvez precisem de mais alguns lançamentos para que tudo faça sentido. Tudo isso foi previsto desde o princípio do Gosotsa e seguiremos em nossa missão fielmente, tendo reconhecimento ou não.
Poderiam comentar um pouco sobre o musical “O Sol tá Maior” para teatros?
Drannath: É uma adaptação do livro. O monólogo traz o mesmo movimento de subida dos seus capítulos (Astral Térreo, Astral Inferior, Astral Superior e Apoteose) e as falas são intercaladas com as músicas da trilogia fonográfica, executadas ao vivo. É um espetáculo muito forte emocionalmente.
Antes de finalizarmos, Drannath, poderia comentar sobre a história em quadrinhos e o livro baseados nas músicas do Gosotsa? Como está o processo de publicação destes materiais?
Drannath: O livro é uma obra literária que não tem nada com as letras das músicas, a não ser o conceito. Entretanto, são muito mais densas que a letra das músicas, e apresenta uma linguagem gramatical e formal totalmente diferente do que é cantado nos discos. Já os quadrinhos trazem a letra de Olhar Pavimentado, a música de trabalho do Sol I.
O processo de publicação é bem complicado, pois o livro também bate na mesma barreira das músicas, no sentido comercial. É totalmente diferente do que já foi lançado, então os “donos da arte” (empresários e investidores) tem muito medo da imprevisibilidade de retorno imediato. Estamos negociando com algumas editoras, mas ainda nada de concreto. Até o segundo semestre será lançado, mesmo que de forma independente, em versão digital. Os quadrinhos já estão impressos (de forma independente) e logo estarão disponíveis para venda através de nossa página no Facebook.
Obrigado pela atenção em responder esta longa entrevista. Sinta-se à vontade para fazer um comentário final.
Drannath: Valeu Gaveta de Bagunças! O trabalho de vocês é muito importante, e o conteúdo de vocês é demais! Obrigado galera, sigam nossas redes sociais e também sigam-nos em suas plataformas de streaming. Grande bjoo a todos.
https://youtu.be/K-M2mDaylU0
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