O Geordie foi a banda de Brian Johnson antes dele ser chamado para entrar no AC/DC. Isto todo mundo sabe! Todavia, o que pouco se comenta é a qualidade que o Geordie apresentava musicalmente, principalmente em seus discos de estúdio, com destaque aos dois primeiros: “Hope You Like It” (1973) e “Don’t Be Fooled By The Name” (1974).
Agora com o relançamento brasileiro dos quatro primeiros discos da banda, três deles com Brian Johnson nos vocais, creio ser um ótimo momento para falar sobre a trajetória de Geordie, um representante do hard rock vindo do norte da Inglaterra.
Cabe mencionar que estes relançamentos saíram pelo selo Hellion Records, que não só lançou os quatro discos do Geordie em formato slipcase, com direto a mini-poster, mas também ofereceu a opção de um box luxuoso com todos os quatro títulos, em edições exclusivas para o mercado nacional.
Geordie: Muito Mais Que a Ex-Banda de Brian Johnson
Brian Johnson, filho de um renomado sargento da infantaria britânica, muito antes de ser alçado ao estrelato como vocalista do AC/DC, absorveu toda a herança das bandas de rock inglesas dos anos 1960, principalmente as do norte do país.
Até por isso, não estranha a alta dose de british blues que banharia as músicas do Geordie, afinal este era o rock que dominava a cena inglesa até o fim da década de 1960.
Os jovens da sua geração nascidos no norte da Inglaterra eram chamados de geordie, uma gíria que começou a ser usada no século XIX e que reforçava o orgulho de sua terra natal, diferenciando-os dos ingleses nascidos no sul.
Na hora de nomear sua banda, o baixista Tom Hill, o guitarrista Vic Malcolm, o baterista Brian Gibson e o próprio Brian Johnson buscaram esta referência. Tudo bem que o Geordie começou em 1971, com o nome de U.S.A.
No ano seguinte, a banda já estava rebatizada e de Londres veio a proposta para assinarem com o selo Regal Zonophone, pelo qual sairia o single “Don’t Do That”, que chegaria na 32ª posição dos charts e chamaria a atenção da gravadora EMI, por onde lançariam “Hope You Like It”, o primeiro disco.
“Hope You Like It” (1973)
O primeiro álbum do Geordie foi destaque pelo single “All Because of You”, que chegou à 6ª posição dos charts britânicos, mas no todo se mostra uma festa de guitarras altas (Vic Malcolm dá a alma e a personalidade da banda), ritmos animados e vocais estridentes e impetuosos (mesmo que Brian Johnson se mostre um vocalista diferente do que ouviríamos anos mais tarde no AC/DC).
Lançado na primavera de 1973, “Hope You Like It” se fixava no baricentro do triângulo estílico formado por blues rock, heavy rock e o glam rock, exibindo referências claras de Slade, The Faces, Humble Pie e Led Zeppelin.
O disco mostrava composições guiadas por riffs certeiros e refrãos fortes, com destaques para “Ain’t Just Like A Woman”, “All Because of You”, “Old Time Rocker” (um rockabilly irônico), “Natural Born Loser”, a balada “Oh Lord” (belíssima, aliás), além da própria faixa-título (um blues rock malicioso e grande destaque do disco).
Além destas, “Geordie’s Lost His Liggie” chama a atenção pela abordagem de Brian Johnson, que carrega no sotaque cockney exagerado em suas linhas vocais e a faixa de abertura, “Keep On Rockin'”, antecipa algo do futuro AC/DC com o vocalista do Geordie.
A produção é típica da época, assim como as referências musicais. As timbragens são cruas e robustas, nada processadas, dando personalidade ao caminho entre o heavy rock e o glam gerando um clássico que é agora redescoberto aqui no Brasil pelo relançamento luxuoso à cargo da Hellion Records, com direito a quatro bônus, incluindo quatro imperdíveis faixas bônus.
Os próximos passos discográficos iriam mudar um pouco a sonoridade do Geordie, e até por isso, “Hope You Like It” é o melhor trabalho de sua discografia, de longe.
“Don’t Be Fooled By The Name” (1974)
Em 1974 o Geordie lançaria seu segundo disco, “Don’t Be Fooled By The Name”, com a banda mostrando uma evolução de sua sonoridade, mesmo que ainda reforcem as características principais estabelecidas no álbum anterior.
Sendo assim, tínhamos uma continuação de “Hope You Like It” com timbres de guitarra soando mais pesados e tradicionais, e os vocais de Brian Johnson soando menos peculiares e mais diretos. Até por isso, o Geordie soa mais sério e “domesticado” neste segundo trabalho, tirando as sacadas bem humoradas de outrora.
Faixas como “Going Down” (uma filha direta do clássico “St. James Infirmary”), “Got To Know”, “Mercenary Man” e “Ten Feet Tall” (um funk/blues pesadíssimo) mostram o Geordie direcionado ao hard/blues rock tipicamente setentista, mas numa forma poderosa.
Além destas, o grande destaque de “Don’t Be Fooled By The Name” vai para o cover de “The House of the Rising Sun” que se não iguala a versão dos Animals, também não faz feio, e ganhou certa notoriedade na época.
A edição nacional de “Don’t Be Fooled By The Name” lançada pelo selo Hellion Records também traz quatro faixas bônus. Cabe ressaltar que os dois primeiros discos do Geordie espantosamente chegaram a ser lançados no Brasil na época do lançamento.
“Save The World” (1976)
O próximo trabalho do Geordie, “Save The World”, chegou dois anos depois, em 1976, uma época em que o rock setentista estava perdendo força e espaço para a disco music e os primeiros ventos da do furacão chamado punk rock começavam a soprar.
Logo, os shows começaram a diminuir, assim como as vendas dos discos e o Geordie experimentou a primeira grande dificuldade: a saída do vocalista Brian Johnson para tentar uma carreira solo que não deu resultado.
O título e a musicalidade desenvolvida neste terceiro disco parecia clamar pela salvação do rock das sombras da disco music, enquanto se mostrava como o trabalho mais diversificado do Geordie.
Porém, “Save The World” também era aquele com menor personalidade entre os três primeiros discos do Geordie. De fato, parecia uma banda atirando para todos os lados, um pouco perdida quanto ao foco por causa da busca pelo lugar ao sol no disputadíssimo mercado fonográfico britânico, que não viera com os dois primeiros discos.
As músicas vão desde as referências primitivas de Chuck Berry e B. B. King até ao proto-metal à lá Judas Priest, passando pelo boogie-woogie, reggae, glam rock e hard rock, além de uma balada ao piano que rouba parte da cena.
Mesmo nessa falta de foco podemos encontrar como os destaques deste terceiro disco: “Momma’s Gonna Take You Home”, “Ride On Baby” e “Fire Queen”, faixas que fazem “Save The World” valer a pena estar na sua coleção.
A Fase Pós-Brian Johnson
Brian Johnson deixou o Geordie após o lançamento do terceiro álbum da banda, “Save the World”, de 1976, para embarcar em uma carreira solo que obviamente não era para acontecer.
O Geordie continuou com o vocalista Dave Ditchburn até 1978, que fez a turnê e a gravação de mais um disco, “No Good Woman” (disco que também tem várias linhas vocais de Brian Johnson), mas a banda nunca recuperou a atenção que recebeu no início.
Cabe reforçar que “No Good Woman” também está sendo relançado no Brasil no pacote oferecido pela Hellion Records, com três faixas-bônus e merece muito ser conferido, pois traz um classic rock de alto nível, com boas melodias, teclados interessantes (confira “Wonder Song”) à cargo de Alan Clark e alguns arranjos ousados.
“No Good Woman” é formado por faixas diferentes da marca estabelecida nos primeiros discos, mas algumas excelentes como as quase disco music “No Good Woman” (com um “q” de Doobie Brothers) e “Sweet Little Rockwroller” (inspirada pelo ABBA), além de “Going to the City” (um rockão instigante com vocais de Brian Johnson) e “Give It All You Got” (um funk/rock provocador), fazem o disco valer a pena.
O Geordie findaria as atividades ainda em 1978 após a fria recepção de “No Good Woman”. Brian Johnson até ensaiou uma reformulação a banda no início de 1980, mas um inesperado convite para uma audição e a futura confirmação de sua entrada no AC/DC adiaram o retorno.
Somente em 1982 o Geordie voltou à ativa com o vocalista Rob Turnbull e de cara gravaram uma versão de “Natbush City Limits”, curiosamente a música que Brian Johnson executou em sua audição para o AC/DC.
Logo lançariam o álbum “No Sweet”, pelo selo Neat Records, e nem a ligação com o gigante AC/DC e a efervescente NWOBHM conseguiu gerar interesse pelo Geordie, que mudaria de nome, para Powerhouse, em 1985, e lançaria um disco homônimo que passaria completamente despercebido novamente.
A partir dos anos 1990 Brian Johnson promoveu vários, mas esporádicos, reencontros do Geordie para shows, mas nada além disso.
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Excelente texto…muita informação completa, parabéns, vou pesquisar a banda, fiquei curioso skbre essa história. 😉
Excelente resenha e será certo eu comprar esse Box após comentários tão relevantes da banda!