Candlemass – “The Door to Doom” (2019) | Resenha

 

“The Door to Doom” é o décimo segundo álbum de estúdio da banda sueca Candlemass, lançado em 22 de fevereiro, 2019 via Napalm Records. É o primeiro álbum a contar com o vocalista Johan Längqvist desde o debut “Epicus Doomicus Metallicus” de 1986.

Candlemass - The Door to Doom (2019, Napalm Records, Hellion Records)

Durante os últimos anos, Leif Edling, mentor intelectual de bandas como Candlemass, Abstrakt Algebra, e Avatarium, usou o processo de composição como terapia para combater a síndrome da fadiga crônica.

Uma patologia que “se apresenta como uma série de anormalidades dos sistemas neurológico, imunológico e endócrino” e o acometeu, afastando-o dos palcos.

O fruto deste processo foi o primeiro álbum do Doomsday Kingdom, um projeto delimitado pelos classicismos metálicos da década de 1980, com um pouco de Hard/Psych Rock, e elementos da NWOBHM sobrepondo uma estrutura básica do doom metal.

Isso é uma informação importante para entender o que ouvimos em “The Door to Doom”, mais recente disco do Candlemass, a entidade suprema do doom metal épico.

Não é exagero dizer que criou-se uma expectativa de que a presença de Johan Längquist novamente nos vocais trouxesse de volta o Candlemass para a proposta de seu clássico debut, “Epicus Doomicus Metallicus, de 1986.

A história nos conta que antes deste primeiro álbum o responsável pelos vocais do Candlemass era o próprio Leif Edling, que inclusive registrou as demos da banda.

Quando se dirigiram para o estúdio  ele teve a boa iniciativa de chamar o cantor Johan Längquistdono de um timbre vocal de alto potencial dramático, para registar as composições que se tornariam antológicas e pioneiras dentro do doom metal épico.

Porém, Längquist logo retornaria ao seu trabalho com a música mais acessível, e ainda em 1986 Messiah Marcolin assumiria os vocais do Candlemass, que sempre seria um posto problemático na formação da banda.

Bom, fiz todo esse preâmbulo só pra dizer que “The Door to Doom” não é uma segunda parte “Epicus Doomicus Metallicus”! 

Apesar de ambos os discos terem lá suas semelhanças.

Creio que faixas como “Splendor Demon Majesty” ” The Omega Circle” sejam os exemplos ideais para explicar isso. Ambas soam como uma fusão da sonoridade do emblemático primeiro álbum com as ideias que Edling vem desenvolvendo em seu outros projetos, como o Avatarium e o já citado Doomsday Machine.

A própria capa do disco, uma releitura da que vemos estampando o trabalho de 1986, nos entrega isso!

E são justamente essas ideias, que fazem a receita do disco não ter o gosto datado, renovando o tradicional peso sombrio das guitarras épicas, o senso dramático dos vocais, e até as letras mórbidas e influenciadas pelo ocultismo medieval.

Ok! Isso não é nenhuma novidade na discografia da banda. O mesmo detalhe de órgão que aparece em “House of Doom” e cria um clima ritualístico obscuro em “The Door to Doom” já era usado na faixa-título do indeciso “Psalms For The Dead”, de 2012.

Porém cabe ressaltar, e para isso “House of Doom” é o exemplo perfeito, que  o diferencial está nos vocais de Johan Längquist. É como unir passado e futuro de uma banda sem escalas. Até por isso, “House of Doom” ganha ainda mais força e se apresenta como uma das melhores do disco.

Outros destaques vão para “Under the Ocean” (com o legado do Black Sabbath ainda mais proeminente e pulsante) e “Black Trinity” (talvez a que mais traga ecos do primeiro álbum), que mostram os esperados riffs e vocais dramáticos, com as sombras ainda mais intensificadas.

Ao mesmo tempo, vez ou outra desaceleram as passagens para os limites de possibilidade de realizar as dobras melódicas enquanto o solo de guitarra se desenvolve com tenacidade, ou inserem uma experimental e psicodélica passagem percussiva, inserem um órgão aqui e arpejos melancólicos acolá, mostrando uma banda que não deseja praticar uma cópia de si mesma.

“Bridge of the Blind”, por exemplo, é uma balada sombria, mas sem dúvidas com sua parcela de psicodelia melancólica.

Acho que já deu pra entender que este é um excelente álbum de doom metal, dono de uma grandiosidade obscura, que a seu modo traz o Candlemass para uma volta às raízes dos anos 1980, da agressividade épica e do groove chapado, com uma produção crua, cheia de arestas e sombras.

Ou seja, doom metal em essência! E a presença de Tony Iommi no disco, pra mim, só reforça isso tudo, pois ele é a fonte de onde o Candlemass bebeu para formatar sua musicalidade, e “Death’s Wheel”, com o melhor riff do disco, está aqui pra nos lembrar de tal fato.

Aliás, Tony Iommi insere sua guitarra lendária na melhor faixa do disco: “Astorolus – The Great Octopus”. O título me lembrou obviamente do mestre H. P. Lovecraft e seus monstros ctônicos que se arrastam como o arranjo desta que, pensando melhor, é a grande composição da banda nas últimas duas décadas!

Cabe lembrar que a banda chegou a afirmar, após o disco “Psalms For The Dead” (2012), que não fariam outro álbum. E até cumpriram isso com dois bons EPs, “Death Thy Lover” (2016) e “House of Doom” (2018), que somados me faziam crer que já era passado da hora do Candlemass apresentar um álbum completo com Mats Levén nos vocais.

Mas creio que os últimos projetos de Leif Edling o levou ao apelo clássico do Candlemass. Daí, a agradecer Mats Levén pelos serviços prestados e convidar novamente Johan Längquist para a banda foi apenas consequência.

Como fruto temos “The Door to Doom”, um disco novo e inspirado, com a duração perfeita para empolgar e não ser enfadonho, estrutura de LP na disposição do repertório, e sem músicas dispensáveis.

Pra mim, apesar de gostar muito dos discos com Robert Lowe nos vocais, este é o melhor disco do Candlemass desde o auto-intitulado de 2005.

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