“The Gods Puts The Demons On Earth” é o segundo álbum da banda brasileira Funeral Sex, praticante de um stoner metal/rock mergulhado na fumaça psicodélica e tétrica dos filmes de terror europeus dos anos 1970.
Abaixo você lê nossa resenha completa deste disco lançado nacionalmente em 2022 pelo selo Heavy Metal Rock Records.
A Funeral Sex é uma banda que desperta o interesse antes mesmo de começar a ouvir. Pela capa de “The Gods Puts The Demons On Earth”, seu segundo álbum de estúdio este interesse fica ainda maior, pois ela evoca a aura noventista do heavy metal mais funesto. Isso aliado ao objetivo declarado de soar soturna e fúnebre, independente da forma musical usada para isso, gera curiosidade pelo que iremos ouvir nestas nove composições lançadas em 2022.
Confesso que antes de ter “The Gods Puts The Demons On Earth” nunca tinha ouvido a Funeral Sex e logo estes elementos começaram a criar uma expectativa das possibilidades interessantes que podiam ser exploradas musicalmente, transitando entre influências e referências diversas.
Expectativa confirmada desde “Genesis”, faixa de abertura deste segundo disco começar a rolar, até o desfecho do trabalho com “The Apocalypse”. Não por acaso, estas duas músicas são dois dos grandes destaques do repertório. A primeira pela síntese da musicalidade do Funeral Sex e a segunda pela pureza doom metal como há tempos eu não ouvia.
O Funeral Sex é um projeto do vocalista e guitarrista Vladimir Matheus, membro do veterano e excelente grupo paulista de prog/death metal Mordeth. Ao lado dele estão Thaís Pancheri (baixo) e Baxos Rokiaa (bateria), um trio formado em 2013, na cidade paulista de Rio Claro, e que lançou seu primeiro disco “Sex, Drugs and Rock n’ Roll” dois anos depois. No ano seguinte foi a vez do EP “Adoradores de Sangue”, porém, o segundo full lenght só veio em 2022.
O que chama a atenção de imediato neste “The Gods Puts The Demons On Earth” é que eles levaram as influências claras e esperadas de Black Sabbath, Witchfinder General e Coven para um lugar musical mais pesado e ainda mais obscuro, como o Paradise Lost, o Samael, o Tiamat e o Type O Negative esbarraram em momentos pontuais da carreira.
Tudo bem que de alguns cantos menos escuros surgem arranjos que beiram o peso alternativo noventista de Soundgarden e Alice In Chains (como em “The Most Demonic and Diabolical Creature of the Face of Earth” e me “It’s Time to Die”), mas, no geral, este disco mostra uma forma menos claustrofóbica e mais orgânica de se praticar o stoner/doom metal, sem dúvidas, muito própria e original.
Entenda bem, não falta um grama de peso, mas aquele ambiente megalítico que acompanha dos devotos modernos dos cânones do stoner metal não existe aqui em “The Gods Puts The Demons On Earth”. Isso cria um efeito interessante na abordagem da banda e permite que vários elementos pouco usuais ao stoner sejam diluídos de forma homogênea na musicalidade do Funeral Sex, como violinos, cellos e contra-baixos.
A faixa-título é um bom resumo disso, além de ser onde melhor percebemos como o trio paulista é capaz de criar uma arte musical mórbida, mas muito bela e bem feita, com a simplicidade da fórmula clássica, lasciva e psicodélica do heavy rock setentista, como ouvimos, também, em “Like Tears in Rain”, uma demonstração de reverência ao Black Sabbath da fase “Sabotage”, e na pesadíssima “Hell”.
No geral, “The Gods Puts The Demons On Earth” mostra a excelência da Funeral Sex na recriação da organicidade e da textura do heavy rock valvulado, com riffs bem elaborados, bateria presente e crua, além de baixo estonteante, mergulhado na fumaça psicodélica e tétrica dos filmes de terror europeus dos anos 1970.
Não é uma proposta nova, muito menos inovadora, mas muito bem feita, sem soar vintage demais ou super produzida, e se valendo do fascínio que o mistério profano causa na mente humana. Por isso tudo, “The Gods Puts The Demons On Earth” acaba sendo um disco extremamente envolvente e divertido. Um dos melhores que ouvi em 2022!
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Já li a matéria escutando!! Não os conhecia uma leve influência de Alice in chains. Obrigado pela dica e matéria.