“Cancer Culture”é o oitavo disco de estúdio da banda de death metal Decapitated. Além da brutalidade inerente aos discos destes poloneses ainda temos participações de membros do Jinjer e do Machine Head.
Abaixo você lê nossa resenha completa deste disco lançado pela parceria entre os selos Nuclear Blast e Shinigami Records.
“Cancer Culture” não chega a surpreender pela forma ou conteúdo, afinal, de certa maneira, dá sequencia ao que o Decapitated fez em “Anticult” (2017).
Enquanto lidava com a exposição negativa das acusações de estupro e cárcere privado, a banda polonesa lançou naquele disco de 2017 uma renovação de sua musicalidade que tem os horizontes ampliados neste novo trabalho.
Agora, eles se desamarram de vez dos grilhões musicais mais primitivos do passado, mergulhando de cabeça num repertório pesado, técnico e agressivo, mas, principalmente, com uma versatilidade assustadora, enquanto deixa um pouco de lado o metal/deathcore e explora as possibilidades do technical death metal.
Os anos que separam os dois discos foram um tanto tumultuados para o Decapitated. Todas as acusações foram retiradas apenas em janeiro de 2018 e o julgamento agendado para o final daquele mês foi cancelado. Em dezembro daquele mesmo ano, a banda anunciou a saída do baterista Łysejko.
No ano seguinte, Vogg foi escolhido como substituto do guitarrista Phil Demmel, no Machine Head, para uma turnê, o que permitiria que apenas em 2020 eles começassem a trabalhar num material novo. Mas 2020 ainda trouxe a efetivação do ex-baterista de turnês James Stewart em tempo integral, enquanto o baixista Hubert Więcek abria espaço para a chegada de Paweł Pasek em 2021.
O novo álbum “Cancer Culture” seria lançado apenas em 27 de maio de 2022, junto ao single “Iconoclast”, mostrando que a banda queria esticar um pouco os tais horizontes musicais. Além disso, o Decapitated tem a participação de Robin Flynn, do Machine Head, nesta música, dando um toque diferente à sua sonoridade agressiva em mutação e evidenciando que a modernização da musicalidade do Decapitated iria seguir em alta velocidade.
A produção de “Cancer Culture” está brilhante, potencializando as qualidades e minimizando os defeitos. O trabalho em estúdio ficou dividido entre o engenheiro de som Tomasz Zed Zalewski, David Castillo, que foi responsável pela mixagem do álbum e Ted Jansen que deu o toque final na masterização.
Antes de falar das músicas em si, quero fazer menção às letras que criam uma espécie de conceito bem sintetizado pelo título. Nestas novas dez composições o Decapitated discorre sobre tema inerentes à modernidade pré e pós pandemia, tecendo críticas duras e diretas sobre questões sociais e culturais como a cultura de cancelamento, pandemia, conspiração terra-planista e anti-vacina, política, mídias sociais e dependência de drogas.
Musicalmente, o peso das formas mais modernas do death metal e as emoções vividas nos últimos tempos pela banda são as matérias-primas com que eles constroem partes explosivas entrecortadas por riffs incisivos e dinamizadas com alívios melódicos e atmosféricos de passagens sombrias ou com grooves bem alocados.
Dentre os destaques temos obviamente “Hello Death” com a participação de Tatiana Shmayluk, do Jinjer, uma faixa forte e pesada que fala sobre quais as coisas que valem a pena na vida realmente. E sejamos honestos, o talento de Tatiana faz brilhar qualquer composição.
Além desta, preciso dizer que “Suicidal Space Programme” (que me pareceu uma mistura instigante de Pantera com Deicide) e “Last Supper” (técnica e visceral) chamam a atenção, e junto com a demais citadas acima foram as que mais se destacaram para mim.
Enfim! “Cancer Culture” é o disco onde o Decapitated exorcizou toneladas de emoções acumuladas nos últimos anos e amplificadas pela dolorosa pandemia que vivenciamos, através uma explosão de technical death metal.
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