Deathgeist – “Procession of Souls” (2022) | Resenha

 

“Procession Of Souls” é o terceiro disco de estúdio da banda paulista de heavy/thrash metal Deathgeist, formada por músicos ligados a nomes como Panzer, Bywar e Woslom. Este disco, o sucessor do ótimo “666” (2019), traz novas oito faixas do melhor que o gênero tem a oferecer, e foi lançado num luxuoso formato slipcase pela parceria entre os selos Mutilation Records e Thrash or Death Records. O disco também tem distribuição mundial pela Punishment 18 Records, da Itália.

Deathgeist - Procession of Souls

Numa primeira ouvida nas faixas deste álbum já fica claro que o quarteto formado por Adriano Perfetto (guitarra/vocal), Victor Regep (guitarra), Fernando Oster (bateria) e Mauricio Cliff (baixo) resolveu pisar um pouco fora de sua zona de conforto e nos entregou um disco que vai além do thrash metal ouvido nos dois discos anteriores.

Claro que as bases canônicas do thrash metal oitentista, principalmente da Bay Area, mescladas ao speed/thrash metal alemão, estão por aqui, mas eles vão além e usam de criatividade e ousadia para quebrar as paredes do thrash metal old-school erguidas pelas referência clássica e óbvias que estão marcadas na identidade do Deathgeist.

Se nos dois discos anteriores o Deathgeist soava como uma continuação do Bywar, agora a banda parece buscar um pouco mais sua própria voz dentro do thrash/heavy metal, num contexto mais aberto e explorador sem fugir de sua proposta, mas rompendo com alguns anacronismos e olhando para as possibilidades que o heavy metal abre, assim como já fizeram nomes como Annihilator e Metal Church, além dos compatriotas do The Mist (que aliás seria uma referência ótima para o som do Deathgeist).

“Procession Of Souls” foi gravado entre Junho e Setembro de 2021 nos estúdios do Deathgeist e Aquarela Studios, ambos em Sorocaba/SP, e a produção permanece crua, as timbragens orgânicas, apenas algumas das melodias que rasgam a agressividade inerente à proposta agora são desenhadas com maior ousadia pela dupla de guitarras que entregam riffs e solos muito bem elaborados e executados.

Nesse sentido, é fato notório que eles tentaram criar músicas melhor trabalhadas, tirando um pouco do clima intuitivo de outrora, mas sem tecnicismos exagerados, principalmente nas guitarras que oferecem alívios melódicos empolgantes em meio à agressividade. Tudo claro, bem definido, mas muito longe da polidez insípida.

A objetividade outrora empregada nos arranjos também foi deixada um pouco de lado, e o quarteto explora facetas proto-progressivas aqui e ali, como se bebessem na fonte da NWOBHM, ao mesmo tempo que mantém o princípio da polaridade ativo quando esbarra pontualmente no minimalismo sombrio e áspero do black metal. Isso é algo que ajuda a equilibrar a proposta e aumenta o poder de cativar do constante atrito entre peso e melodia (como nos refrãos certeiros que impregnam – no bom sentido – todo o disco).

A impressão que eu tenho é que o quarteto resolveu diminuir um pouco das influências europeias de Kreator e Venom, e aumentaram a ascendência de nomes mais técnicos do metal norte-americano, como o Megadeth, Testament e Death Angel, por exemplo. Claro, isso apenas para situar o leitor em termos de referência, pois a identidade própria existe em cada movimento.

Essa será uma característica marcada desde a excelente abertura com “The Greed’s Inferno” (o refrão desta música chegou a me lembrar o saudoso Cryhavoc), passando por “Living Dead Melody” (com inteligentes e envolventes quebras na estrutura, lembrando o Megadeth) e “Nightmare’s Chamber” (com um riff inicial e a passagem do solo bebendo na fonte do rock setentista, chegando a lembrar algo do Alice Cooper. Sensacional!), até no final com “Depressive Thoughts” (direta e agressiva como uma boa peça thrash metal) e “Fear” (mais cadenciada que o usual para uma faixa que encerra um disco de thrash metal, mas não menos excelente. O timbre e as melodias das guitarra até me lembraram o Paradise Lost).

Até por isso, “Procession Of Souls” me parece um recorte de uma banda em pleno processo de amadurecimento artístico, que não entrega experimentalismos à esmo, mas também não carrega consigo crenças estéticas limitantes. Com isso, o Deathgeist claramente é uma banda que deixa de ser instintiva para ser cerebral.

E uma faixa como “Morlocks” (em dado momento, ela me soa como uma fusão de Slayer com Ghost) me dá a sensação de “Procession Of Souls” poder vir a ser encarado como um disco de transição na sonoridade do Deathgeist, num ponto equidistante entre o passado e a próxima etapa da sua mutação que a faixa-título, com seus teclados sombrios e experimentações, nos aponta. Se é realmente este o caso só o tempo vai nos dizer.

Esse processo de amadurecimento é também sentido na forma com que exploram os temas do disco. A faixa título, por exemplo, junto com a capa, é inspirada em um dos “Contos da Galiza”, uma de suas lendas mais populares, a “La Santa Compaña” que é a Procissão dos Mortos. As demais músicas versam sobre ficção científica, contos de terror de H.P Lovecraft, e até temas mais profundo como medos, traumas psicológicos, ganância e ambição do ser humano.

Em suma, “Procession of Souls” é o álbum de uma banda em franco crescimento, que vem lapidando e desenvolvendo seu potencial prometido nos trabalhos anteriores, e deve ser obrigatoriamente conferido por quem gosta de um thrash/heavy metal de qualidade, pois é um discaço!

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