CHAOSFEAR | Entrevista com o baixista Marco Nunes.

 

A banda paulista Chaosfear lançou um dos melhores discos do metal nacional no ano de 2020.

“Be the Light In Dark Days” dialoga com o recente período complicado da humanidade desde o título, ao mesmo tempo que mostra uma expansão ilimitada de sua música fazendo com que o antigo rótulo death/thrash metal esteja um tanto desbotado para descrever sua música.

Nesta entrevista realizada por e-mail conversamos com o baixista Marco Nunes sobre a trajetória da banda iniciada em 1999 como Sick Mind, além de explorar todos os detalhes deste disco e essa tal ampliação identidade musical do Chaosfear.

Ele ainda nos contou detalhes interessantes dos bastidores da parceria com Steve “Zetro” Souza, do Exodus, na gravação de “The Toxic Waltz”.

Confira , à seguir, essa conversa na íntegra.

Chaosfear Entrevista

Antes de tudo, agradeço pela atenção e pelo tempo cedido a esta entrevista. Para começar, não como fugir ao tema, poderia dividir conosco como está sendo esse período para o Chaosfear frente à pandemia que ainda vivemos?

Marco: Primeiramente, nós do Chaosfear agradecemos a você, Marcelo, pela entrevista! Bem, nem em nossos sonhos mais loucos imaginaríamos que um dia iríamos passar por uma situação como essa. Mas se por um lado perdemos a possibilidade de nos apresentarmos ao vivo para uma platéia “física”, por outro, através de “Lives” chegamos a lugares que não havíamos chegado antes. Lançamos um CD full, o “Be The Light In Dark Days”, alguns singles, com destaque para o cover da música “Toxic Waltz”, do Exodus com a participação do vocalista Steve Zetro Souza. Então, diria que trabalhamos bastante, dada as circunstâncias.

Quero concentrar essa entrevista no mais recente trabalho de vocês. Contudo, creio que é importante entender o contexto da banda como um todo. Quais as lembranças dos tempos de Sick Mind? Li que vocês mudaram de nome por causa de uma marca de skate. Chegaram a ter algum problema legal com o nome da banda naquela época?

Marco: Bem, como um dos membros mais novos não cheguei a participar da banda nesta época, mas como expectador lembro que os meninos eram bem extremos e sempre se mostraram muito talentosos. Nunca foram acionados judicialmente pelo nome, até porque rapidamente fizeram a troca para o nome atual.

Nesse caminho percorrido desde que o Chaosfear surgiu em 2003, quais momentos você acredita que foram os mais marcantes para a evolução da banda, no palco e nas composições?

Marco: O lançamento de cada trabalho e a abertura de shows internacionais como Lamb of God, Testament, Cannibal Corpse certamente foram importantes para a evolução da banda em vários aspectos. E certamente, as mudanças de formação sempre contribuem de alguma forma para mudanças na sonoridade da banda.

“Be the Light in Dark Days” chega após mais de uma década do lançamento dos dois primeiros discos, “Image of Disorder” (2008) e “One Step Behind Anger” (2007). Por que tanto tempo entre o segundo e o terceiro álbum? O que aconteceu com o Chaosfear nesse período?

Marco: Neste período, o nosso vocalista e guitarra base Fernando Boccomino teve um grave problema de saúde. Após sua recuperação, ele e seu irmão Eduardo Boccomino (guitarra solo) resolveram retomar as atividades do Chaosfear.

Como você avalia o impacto deste intervalo de tempo no processo de construção de “Be the Light in Dark Days”?

Marco: Logicamente influenciou na construção do “Be The Light In Dark Days”. Pessoas mudam, e tudo o que passamos em nossas vidas nos influenciam também. As dificuldades que o Fernando passou modificou inclusive a parte lírica, que deixou um pouco de ser baseada em política, guerras e destruição para ser mais pessoal. Com isso, acredito que conseguimos tocar mais a fundo as pessoas. Tanto isso é verdade que pela primeira vez ganhamos de fãs video clipes, o que nos deixou extremamente felizes.

Mesmo com toda a ampliação e evolução na musicalidade deste novo disco, creio que vocês conseguiram manter a identidade bem definida. Como você acha que o Chaosfear daqueles primeiros discos dialoga com o que ouvimos em “Be the Light in Dark Days”?

Marco: Bem, isso se deve porque nossas influencias básicas sempre foram as bandas pesadas das décadas de 80 e 90, como Testament, Slayer, Death, entre outras. Essa base musical é nossa e natural, pois vivenciamos essa época em nossa adolescência. Só que acredito que hoje estamos mais abertos a influências mais diversas e menos presos ao passado.

Quando começaram a trabalhar em “Be the Light in Dark Days”? Como foi feito o trabalho de estúdio?

Marco: Nós já conversávamos um pouco antes da pandemia se estabelecer em gravar um novo trabalho. O Fernando já tinha mandado algumas demos de composições que poderíamos trabalhar. A partir disso, através de troca de arquivos fomos moldando essas composições. Nós temos a sorte de que todos nós temos como gravar suas partes em casa e eu sou Engenheiro de áudio formado, o que nos facilitou o trabalho. Cada um gravou em sua casa, seguindo alguns padrões que estabelecemos para organizar a bagunça toda. E o resultado é esse que vocês ouvem! Um trabalho gravado em plena pandemia e totalmente on-line.

O Choasfear soa em “Be the Light in Dark Days” uma banda livre, sem regras. Como foi o processo de composição? Essa expansão de horizontes musicais foi algo estabelecido previamente entre os músicos?

Marco: O Fernado trouxe as primeiras demos, mas todos nós fomos incentivados a colocar nossas influências nas composições . De modo explicito, não houve uma diretriz de mudança no direcionamento, mas uma coisa que sempre nos motivou foi fazer um trabalho que fosse relevante. A simples repetição do que havíamos feito antes já não era mais atrativo para nós. E pessoalmente falando, enquanto músico eu sempre me faço a pergunta: como eu posso fazer isso de outra maneira, de uma forma artística e mais excitante? Creio que todos da banda pensam desta forma.

Escrevi na minha resenha de “Be the Light in Dark Days” que classificar a musicalidade do Chaosfear como death/thrash metal não é errado, mas não traduz mais tudo o que ouvimos no disco. Como vocês se classificam nesse mar de gêneros que se tornou o metal moderno? Você acha que esses rótulos e estilos são importantes para quem não conhece a banda se interessar por ela?

Marco: Concordo com você, Marcelo. Dizer que somos Death/Thrash já não traduz mais a totalidade de estilos que tocamos, mas sinceramente, nem ligamos para isso. E não vejo problema algum também em ainda ser definido nestes estilos, pois os adoramos também. Talvez seja importante no quesito marketing, mas estamos realmente mais focados em fazer música que nos agrade. Deixamos o restante para nosso assessor de imprensa se descabelar!! KKKK

Outra observação que fiz na resenha de “Be the Light in Dark Days” é que ele possui uma musicalidade criativa e desenvolvida por músicos que parecem amar Ministry, Paradise Lost, Napalm Death, Testament e Slayer com a mesma intensidade. Estou certo? Quais seriam as atuais influências do Chaosfear?

Marco: Hahahaha!! Disse bem! Adoramos essas bandas que citou e posso eleger mais uma montanha de outras boas bandas que ficaram de fora! No meu caso, especificamente tenho escutado muito Opeth, Anathema, Beatles e Led Zeppelin. Sei que os meninos idolatram Kiss. O Fernando tem escutado Soen, Voivod… O Edu tem escutado Tesseract e Periphery. O Fábio está escutando Sabbath, Dio, Judas Priest, Led Zeppelin… E isso tem influenciado o nosso som de alguma maneira.

Corrija-me se eu estiver errado, mas até o momento “Be the Light in Dark Days” só teve lançamento digital, certo? Vocês acham que a música, mesmo num estilo historicamente mais apegado ao formato físico como o Heavy Metal, atingiu um maior caráter abstrato dentro da era digital? Ou seja, o formato físico para este tipo de arte já não se faz mais necessária?

Marco: É interessante. O fã de Heavy Metal gosta de ter o trabalho físico pelo aspecto colecionável do material. Mas não podemos fugir do fato que as plataformas de streaming vieram para ficar. Eu sou um defensor da mídia física pelo aspecto colecionável, mas a verdade é que infelizmente no Brasil não houve interesse de nenhuma gravadora em lançar o nosso material. Mas acabamos de fechar um contrato de lançamento físico por uma gravadora Russa chamada Careless Records. Já está em pre-order através do site  carelessrecords.bandcamp.com. Estamos muito felizes por esse lançamento.

Já estamos caminhando para o fim da entrevista, mas queria que contasse como se deu a parceria com o vocalista do Exodus, Steve ‘Zetro’ Souza, na gravação de “The Toxic Waltz”. Qual a sensação de ter uma parceria junto com um ícone do Thrash Metal como ele?

Marco: Foi surreal, mas preciso contar a verdade aqui!! kkkk!!! O Fernando estava receoso em cantar a “Toxic Waltz” por conta da letra extensa e sugeriu termos uma participação. Eu fui meio contra e em tom de brincadeira falei que só aceitaria uma participação no vocal se fosse o próprio Steve Zetro. Nos olhamos e falamos: porque não?? Acionamos nosso assessor de imprensa e assuntos aleatórios, Johnny Z e falamos sutilmente: se vira, queremos o HOMI cantando. E não foi que ele conseguiu?? Mandamos uma mix do som para ele e ele adorou. Ele mesmo escolheu as partes que queria cantar e nos enviou. E o resto é história! Pessoalmente tem horas que ainda não acredito… um dos caras que iniciou um estilo lá no comecinho da década de 80 está em um som nosso. Surreal e inspirador!

Sei que “Be the Light in Dark Days” tem pouco tempo de lançamento, mas vocês já trabalham no próximo disco? Existem projetos futuros que possam nos adiantar?

Sim, já temos material bem encaminhado para o novo trabalho do Chaosfear. Estamos bem empolgados com o andamento dos trabalhos! Esse ano teremos muitas novidades. Temos planos de mais um single, algumas participações em tributos e mais algumas que queremos manter em segredo. Ou seja, um ano cheio!

Agradeço novamente pela a entrevista e fique à vontade para fazer suas considerações finais.

Marco: Nós agradecemos imensamente a você, Marcelo, pela oportunidade de falarmos um pouco sobre nosso trabalho e nossa história! Agradeço a cada um de nossos fãs de nos darem a oportunidade de entrar em suas vidas através de nossas música. Agradeço a todos que de alguma forma ajudam a fortalecer nosso meio musical.

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