Candlemass – “Chapter VI” (1992) | Você Devia Ouvir Este Disco

 

“Chapter VI”, quinto disco da banda CANDLEMASS, é nossa indicação de hoje na seção VOCÊ DEVIA OUVIR ISTOcuja proposta você confere nesse link.

Definição em um poucas palavras: Épico, pesado, conturbado, melancólico, fim de ciclo.

Estilo do Artista: Epic Doom Metal.

Candlemass - Chapter VI (1992, Music For Nations, 2020, Hellion Records)

Comentário Geral:  O Candlemass foi formado no início da década de 1980, na Suécia, por músicos que orbitavam a banda Nemesis, e rapidamente se tornou um dos pilares do doom metal, ao lado do Trouble, Saint Vitus, Pentagram e Witchfinder General.

Muito disso vem da originalidade impressa no clássico primeiro álbum, “Epicus Doomicus Metallicus”, lançado em 1986 e tido como o primeiro álbum de epic doom metal da história.

Nesse primeiro disco a banda contava com os vocais de Johan Lanquist, mas a grande voz do Candlemass sempre foi a de Messiah Marcolin.

Entender isso é parte importante na compreensão daquilo que ouvimos em “Chapter VI”.

Marcolin fez sua audição por telefone cantando a clássico “Solitude”, e com uma voz e uma imagem fortes acabou se tornado parte importante da excelência de discos como “Nightfall” (1987), “Ancient Dreams” (1988) e “Tales of Creation” (1989).

Estes três discos são obrigatórios na coleção de todo fã de doom metal, independente da digressão que o gênero tenha.

Grosso modo, o Candlemass elevava à décima potência o peso sinuoso e o clima épico do Black Sabbath, principalmente da fase Dio, afinal, os riffs sabáticos eram tocados com máximas distorção e psicodelia ocultista.

Partindo desses elementos criavam, com muita identidade, uma atmosfera sorumbática, épica, e dramática para o heavy metal tradicional.

Em “Chapter VI” isso tudo permanece igual, o único diferencial está nos vocais de Thomas Vikström, que substituiu Messiah Marcolin em sua primeira saída da banda por diferenças musicais, em 1991, quando se preparavam para gravar este álbum.

Essa é a versão oficial, mas se pegarmos o que a banda executou nesse disco e o que Marcolin fez do Memento Mori, banda que fundou junto com o guitarrista Mike Wead, pode ser que exista mais escondido debaixo do tapete.

O fato é que o Candlemass passava por sérios problemas com a gravadora, falta de dinheiro e vinham de uma problemática turnê nos Estados Unidos.

Apesar da troca de vocalistas, “Chapter VI” é um disco que merece ser redescoberto pois tem tudo o que sempre tornou o Candlemass brilhante: requintado tom arrastado, dobras melódicas épicas e lentas, clima macabro, além de refrãos marcantes e as letras mórbidas influenciadas pelo ocultismo medieval.

Essa sempre foi a essência da banda sueca, mesmo porque a mentoria intelectual sempre foi do baixista Leif Edling.

Se apelo dramático era parte dessa essência, então poucas seriam as apostas contra Thomas Vikström, afinal ele vinha não de uma banda de heavy metal, mas do teatro, da ópera sueca.

Acho que já deu pra entender que este é um excelente álbum de doom metal, dono de uma grandiosidade obscura, que a seu modo traz o Candlemass para uma volta às raízes dos anos 1980, da agressividade épica e do groove chapado, com uma produção crua, cheia de arestas e sombras.

Ou seja, doom metal em essência, como podemos ouvir em “The Dying Illusion” (muito próxima do que hoje chamamos de stoner/doom metal), “Julie Laughs No More” (onde Thomas Vikström mostra toda a sua versatilidade), ” The Ebony Throne” (com o melhor trabalho de guitarras do disco) e “The End of Pain” (com ritmo marcante e tom épico, além de ser inspirada nos quadrinhos do Conan).

“Julie Laughs No More”, inclusive soa como uma versão epic/doom metal do Savatage.

O Candlemass também trazia uma cama de teclados ainda mais proeminente no segundo plano, construindo climas e dando tridimensionalidade às músicas.

Isso é algo marcante na sinuosa e dramática “Where the Runes Still Speak” e no peso intenso de “Temple of the Dead”.

Talvez o grande problema por aqui seja a produção e isso pode ser sentido em faixas como “Where the Runes Still Speak”, “Aftermath” (uma ótima composição, com citações diretas ao Black Sabbath) e “Black Eyes” (a mais pesada do disco), que poderiam ser ainda melhores com um trabalho de estúdio mais apurado.

“A produção era meu problema, entende. Eu não gostava dela”, disse Leif Edling que continua: “Você pode dizer que ela reflete a atmosfera da banda naquele período, e eu digo que diversas vezes me arrependo até de ter gravado esse disco”.

A verdade é que o Candlemass deixou de existir após a turnê americana de 1991, mas a gravadora e o empresário da banda convenceram os músicos a continuar com promessas que não se cumpriram, como a de um trabalho em estúdio de primeiro escalão.

Com esse clima interno, as baixas vendagens desanimaram ainda mais os músicos e o Candlemass faria sua primeira pausa na carreira em 1994.

Pausa, aliás, que já era pra ter ocorrido anos antes.

O próprio Leif Edling admite que deixou suas melhores composições para o futuro disco de sua nova banda, o Abstrakt Algebra (aliás, um disco excelente!)

O hiato seria curto, pois em 1994 Leif Edling reativaria o Candlemas lançando discos interessantes como “Dactylis Glomerata” (de 1998 e com o gênio Mike Amott nas guitarras) e “From the 13th Sun” (1999).

Messiah Marcolin retornaria ao Candlemass e sairia novamente, mas a banda se manteria firme, lançando bons discos, como “Candlemass” (2005), “King of the Grey Islands” (2007) e o mais recente “The Door to Doom” (2019).

Recentemente, “Chapter VI” ganhou um relançamento no Brasil via Hellion Records, em slipcase, e como bonus, além de um DVD com apresentações ao vivo da banda em Uddevalla, no ano de 1993, ainda temos o EP “Sjunger Sigge Fürst” (1993), um material exclusivo para a Suécia com covers  de músicas originalmente gravadas pelo ator e cantor sueco Sigge Fürst (1905-1984).

Vá atrás, poque VOCÊ DEVIA OUVIR ISTO!

Ano: 1992

Top 3: “The Dying Illusion”, “Julie Laughs No More” e “The Ebony Throne”.

Formação: Thomas Vikström (vocais), Leif Edling (baixo), Mats “Mappe” Björkman e Lars Johansson (guitarras), e Jan Lindh (bateria)

Disco Pai: Black Sabbath – “Heaven and Hell” (1980)

Disco Irmão: Memento Mori – “Rhymes of Lunacy” (1993)

Disco Filho: Abstrakt Algebra – “Abstrakt Algebra” (1995)

Curiosidades: Nas notas escritas por Leif Edling para o relançamento ele diz existir um clipe gravado, mas nunca lançado para a música “Julie Laughs No More”.

Pra quem gosta de: Tentar mais uma vez, crer em promessas falsas, literatura épica e ocultismo.

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