Lá fui eu, sem grande expectativa, ouvir o novo disco do Bon Jovi, “criativamente” intitulado de “2020”!
Depois do que ouvimos em todos os seus discos da última década e meia não dá pra esperar algo além de autorrepetição e da tentativa frustrada de ser uma versão americana (no sentido do estilo musical) do U2 com a força épica e emocional do Bruce Springsteen.
Se bem que eu fiquei com uma pequena ponta de esperança no disco anterior, “This House Is Not For Sale”, ao ouvir uma ou duas composições que poderiam girar o horizonte musical para algo menos inofensivo e burocrático.
Ainda bem que não me iludi como elas.
“Limitless”, a primeira faixa deste disco, já nos deixa certos de que tudo está de acordo com o esperado, nada de surpresas.
Algumas faixas até demandam um esforço maior para serem ouvidas (“Unbroken” é desesperadora!), principalmente porque sempre se tem a sensação de que Jon Bon Jovi está tentando emular algo ou alguém.
“American Reckoning” (pelo jeito o disco “Nebraska”, do Bruce Springsteen, ainda inspira Jon Bon Jovi), “Let It Rain” (e dá-lhe mais referências a Springsteen, agora do “Born to Run”), “Lower the Flag” (a letra pode até passar uma mensagem emocionante, mas no geral é uma péssima canção), “Blood on Water” (algo como se uma banda cover do Dire Straits encontrasse uma versão sem inspiração de “Dry County”) e “Brothers in Arms” (cujo riff principal parece chupado de um clássico de David Bowie), são todas exemplos do dito acima.
E se alguém ainda duvidava de que a banda virou apenas a expressão de seu vocalista, agora a coisa é escancarada já na capa.
Pra mim, o último disco interessante do Bon Jovi foi “Lost Highway”, onde apesar de uma ou duas baladas terríveis tínhamos boas composições. Aqui ele até tenta recuperar algo daquela forma inofensiva de country rock em “Do What You Can”, mas falta honestidade e, principalmente, espontaneidade.
A voz de Jon Bon Jovi apresenta problemas desde a turnê de “Slippery When Wet”, mas agora o tempo já mostra sua ação até mesmo no lugar confortável que ele achou para encaixá-la à partir de “Crush”.
Sinceramente, a voz dele é um dos grandes problemas por aqui, principalmente nas faixas que se destacam no caldo de mais do mesmo insípido.
Ao longo da audição eu só me perguntava: onde está a bateria de Tico Torres? E pra que eles têm um guitarrista como Phil X se no disco, salvo pelos poucos solos pontuais (excelentes quando aparecem, diga-se), a guitarras são na maioria inexpressivas?
Só pra fechar os pontamentos sobre os músicos, David Bryan parece um tecladista de estúdio de Nashville que só executa linhas burocráticas escritas no manual do country/americana.
Não obstante, foram integrados à banda em estúdio os músicos de palco John Shanks (guitarrista, e parceiro de Jon na produção do disco e na composição de duas faixas) e Everett Bradley (percussão).
E eu me perguntando: esse monte de músico bom pra entregar isso?
O disco foi gravado em 2019, no estúdio Ocean Way Recording, mas a pandemia fez a banda adiar seu lançamento para outubro de 2020 (a data original estava marcada para maio).
Com isso, duas faixas do repertório foram trocadas. “Luv Can” e “Shine” deram espaço para “Do What You Can” (representando a luta contra a COVID) e “American Reckoning” (que faz referência ao assassinato de George Floyd), duas faixas compostas nos meses de isolamento.
Isso acabou alterando também a ordem das faixas no disco. A primeira versão do álbum deveria começar com “Beautiful Drug” e terminar com “Blood in the Water”.
Até por isso, se comparado aos anteriores, “2020” é um disco onde Jon Bon Jovi tenta se valer de críticas sociais em suas letras.
Além de “American Reckoning”, “Brothers In Arms” foi inspirada em Colin Kaepernick, jogador de futebol americano que teve postura contundente contra o preconceito, e “Unbroken” é uma composição que discute a condição dos veteranos de guerra no Estados Unidos.
Pra não dizer que tudo está errado por aqui, “Beautiful Drug” (com o primeiro solo de guitarra decente do disco) até que agrada, mesmo que lembre uma música perdida do Third Eye Blind, enquanto “Story of Love” traz bons arranjos de cordas (além de um “q” de A. J. Croce e um solo de guitarra interessante) e se destaca junto da já citada “Brothers in Arms” (uma forma apagada de um passado distante, mas seria um ótimo caminho para redirecionar a sonoridade).
Acredito que aqueles que criticavam o que Jon Bon Jovi fez em “Destination Anywhere”, não sabiam o que lhes aguardava duas décadas depois.
No fim, vai um conselho de amigo: não perca seu tempo ouvindo as duas faixas bônus!
Até aqui me mantive firme e adquirindo todos os lançamentos da banda para a minha coleção de discos, mesmo aqueles que eu não gostava, mas definitivamente tenho que ser honesto comigo mesmo e perceber que a música do Bon Jovi envelheceu mal, despida de personalidade e se tornando uma caricatura de si mesmo.
Definitivamente perdi as esperanças de ouvir um disco do Bon Jovi que me empolgue novamente. E esse deplorável “2020” não vai passar nem perto da minha coleção!
Demorou, mas, Bon Jovi… Adeus!!!
FAIXAS:
1. Limitless
2. Do What You Can
3. American Reckoning
4. Beautiful Drug
5. Story Of Love
6. Let It Rain
7. Lower The Flag
8. Blood In The Water
9. Brothers In Arms
10. Unbroken
FORMAÇÃO:
Jon Bon Jovi (vocal, violão, gaita)
Phil X (guitarra)
Hugh McDonald (baixo)
Tico Torres (bateria)
David Bryan (teclados, piano)
John Shanks (guitarra rítmica)
Everett Bradley (percussão)
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