Black Metal Norueguês | O Que Era o Black Circle (ou Inner Circle)?

 

Descubra o universo provocador do Black Metal Norueguês, uma revolução musical marcada por extremismo e controvérsias desde os anos 90. Liderado por Varg Vikernes, o Inner Circle, com bandas icônicas como Mayhem e Burzum, desafiou normas e incendiou igrejas. Explore os bastidores do movimento em uma jornada única pela história da música e da infâmia.

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Black Metal Norueguês e o Inner Circle, ou Black Circle, estão unidos numa das páginas mais influentes e radicais do heavy metal, um gênero que já nasceu polêmico desde seu advento em 1970.

Evoluindo em diversos sub-gêneros ao longo dos anos, o heavy metal “pariu” o Black Metal, talvez o mais radical e polêmico dentre seus “filhos”, à começar pela retórica política extremista que marca alguns nomes que o praticam.

Varg Vikernes, líder do Burzum e um dos nomes mais reconhecidos da geração norueguesa do Black Metal, junto com alguns seguidores, chegaram a declarar a crença de que a Noruega vive regida por uma conspiração judaica, aos moldes do descrito nos “Protocolos dos Sábios de Sião” (sobre o qual você pode ler nesse artigo).

Num estilo musical que prima pelas blasfêmias e heresias em suas músicas brutais já causa incômodo, ainda mais quando aliada a toda a anti-música satânica temos atividades extra-musicais como assassinatos e terrorismo.

Diferentemente do que faziam as bandas dos anos 70, proclamadas satanistas pelos protetores dos bons costumes ocidentais, as bandas de black metal deflagraram a bandeira de Satanás de forma explícita.

Podemos dividir a história do Black Metal em duas fases principais, com uma intermediária que tem inserção com as duas.

A primeira é a fase onde foi forjada a temática do Black Metal, numa época em que não haviam consolidadas as sub-divisões do metal extremo, sendo a mola propulsora do que veríamos na segunda fase, no black metal norueguês.

Abaixo você encontra uma oferta do livro “Lords of Chaos”, de Michael Moynihan. Este é um título obrigatório se você quer entender a ascenção do black metal nos anos 1990.

O Black Metal Norueguês

A segunda geração do black metal emergiu como um resposta do underground à servidão que subgêneros do heavy metal ao mainstream, mais especificamente o thrash metal e o  death metal, que na virada dos anos 80 para os 90 eram parte do mainstream, e frequentes nas grandes gravadoras e na MTv.

A Noruega tomou para si o protagonismo do black metal, também como resposta à forte cena do death metal sueco. Todavia, a história nos mostra que o próximo passo da evolução do Black Metal foi também embrionada em outros países, como Grécia, República Tcheca, e o Brasil, principalmente, em nomes como Sarcófago e Vulcano, influências declaradas pelos noruegueses.

O que acontece é que a quantidade de bandas relevantes para o black metal advindas da Noruega a torna a meca do gênero, sempre primando por muita experimentação visual, nenhuma regra estílica em seu berço, e ideologias que que mudaram e se adequaram com o passar do tempo.

Junto com a cena norueguesa emergiu a revista Slayer, em 1985, publicada por Jon “Metalion” Kristianer, que por volta de 1986 garantia não existir  nada mais extremo no mundo do heavy metal que o Mayhem, que naqueles tempos havia acabado de registrar a demo “Pure Fucking Armageddon”.

Ou seja, Kristianer é praticamente um dos historiadores do movimento, e ele defende a teoria  de que Euronymous, líder do Mayhem, inspirou o visual, que depois se tornou padrão nas bandas de black metal, na banda brasileira Sarcófago, tirada da capa de “INRI”, seu primeiro disco de 1987.

Os quatro pilares do Black Metal norueguês, no início, eram o Mayhem, Burzum, Emperor e Immortal. Na sua gênese as bandas praticamente lutavam contra o sucesso e realmente, na Noruega, ao contrário do que parece ao mundo, a cena era basicamente um círculo de músicos e algumas poucas bandas.

Desta cena norueguesa também saíram nomes como Darkthrone, Arcturus, Gorgoroth, Enslaved, Satyricon e até o Dimmu Borgir, que logo se desvencilharam da marca violenta do Inner Circle, também referenciada como Black Circle.

Muitos integrantes das mais importantes destas bandas seriam acusados de queimar igrejas e de assassinatos, o que geraria o interesse das revistas de heavy metal que tratava assassinos reais, e adolescentes com pesados problemas psicológicos, em celebridades excêntricas, anti-heróis.

Como aconteceu mais especificamente com Varg Vikernes, que seria acusado no fim dos anos 1990 de planejar o assassinato de políticos progressistas e líderes religiosos em Oslo, capital da Noruega.

Em menos de uma década, Varg se tornaria o mais infame e controverso nome do black metal, mesmo quando falar no Inner Circle já era falar do passado. Ele, musicalmente, sempre propôs a revolução dentro da própria rebelião que ajudou a surgir.

O Inner Circle emerge nesta segunda geração do gênero, como um movimento pouco organizado, mas que rapidamente ganhou não só as páginas das revistas especializadas, bem como as páginas policiais dos jornais, que fizeram do Black Metal quase um sinônimo de fora-da-lei dentro do heavy metal.

Existiam inúmeras justificativas para estes atos, indo desde alegadas alianças com o tradicional inimigo do Deus ocidental, Satã, até a vingança pagã. O comportamento dos envolvidos com o Inner Circle ia além da música, ou cultura juvenil, chegando às raias do esoterismo, satanismo moderno e odinismo.

O Black Metal na Noruega era uma forma de se opor à censura que existia dentro da mídia em geral, com relação a temas como violência, o terror, e o macabro.

O cinema norueguês, por exemplo, escanteava filmes de horror e seu folclore que era permeado de trolls, bruxas e florestas assombradas em suas partes mais grotescas.

Quase como um reação da juventude “blindada”, no início dos anos 90, o black metal norueguês encontrou sua alma, sua forma, e sua personalidade, se opondo a tudo que era bom ou significante na vida.

Abaixo você encontra uma oferta do primeiro volume do livro “Black Metal: A História Completa”, de Dayal Patterson.

As Origens e a ideologia do Black Circle.

No centro do Inner Circle estavam Euronymous e Varg Vikernes. O jovem Øystein Aarseth, muito interessado em satanismo, no início dos anos 90, abriu uma loja de discos chamada Helvete (inferno em norueguês) na capital norueguesa.

O local se tornou, com o passar do tempo, o ponto de encontro e sede de festas, e seus frequentadores se auto-definiram como Inner Circle ou Black CircleA Helvete se tornou o ponto central da cena e foi aberta poucos meses após o suicídio de Per Yngve Ohlin, vocalista do Mayhem, em 8 de abril de 1991.

Dead, como Per era conhecido, se matou com um tiro de escopeta na cabeça. No bilhete de despedida só pediu desculpas pelo sangue espalhado. Este evento acabou atrasando o lançamento do primeiro full lenght do Mayhem, mas Euronymous continuava sendo o pilar ideológico e musical sobre o qual se ergueu a cena norueguesa, e por consequência o black metal moderno.

Ele se tornou um personagem poderoso entre músicos e fãs desencantados com juventude de um país quieto e conservador. O grande orador Øystein Aarseth, assumiu o pseudônimo Euronymous (assim como seu ídolos do speed metal), e com seu poder da oratória o grupo foi se tornando cada vez maior, muitos deles, integrantes e mentores de grandes hordas do Black Metal em volta do seu líder Euronymous.

Dentre os frequentadores estavam Faust e Samoth do Emperor, e Varg Vikernes do Burzum. Após a morte de Dead, Euronymous construiu no imaginário coletivo de seu entorno de que ele era o controle do underground extremo da Noruega.

Em meados de 1991, Darkthrone, Burzum, Immortal, Thorns, Enslaved, Arcturus, e o embrião do Emperor já orbitavam sua loja e seu selo, o Deathlike Silence.

A loja de discos Helvete em Oslo que era de propriedade de Euronymous evoluiu para um selo que lançou várias bandas do estilo no mercado fonográfico e, consequentemente, os clássicos desta segunda fase do Black Metal.

O grupo que se reunia para festas na Helvete se tornou uma organização anti-cristã composta de várias pessoas associadas com o movimento Black Metal, cujos objetivos principais eram erradicar o cristianismo da Noruega e lançar bandas do gênero que compartilhavam de sua ideologia .

Mas ele também alimentava o black metal em outros pontos do mundo, se correspondendo e encorajando bandas como Sigh (Japão), Abruptum (Suécia) e Monumentum (Itália).

Após Varg gravar o primeiro álbum do Burzum ele e Euronymous se tornaram amigos próximos, pois Euronymous achava o som que Varg fazia no Burzum novo e brutal.

Varg inclusive ficava no porão da Helvete quando visitava a capital Oslo.

O Burzum foi um pioneiro na estética e dinâmica da forma norueguesa do Black Metal, mesmo que tenha caminhado para o ambient music após o disco “Filosofem” (1996).

A hegemonia de Euronymous no Inner Circle é desfeita com a entrada do jovem Varg Vikernes no grupo. O grupo foi dividido em dois. A ideologia era dividida dentre o grupo e cada um dos principais frequentadores defendiam acirradamente seus ideais.

Euronymous liderava o Inner Circle satanista e Vikernes liderava o Inner Circle pagão que queria expulsar o cristianismo da Noruega e reaver sua cultura viking.

De um lado, Varg Vikernes (ironicamente batizado Kristian Vikernes) deflagrava a bandeira da glorificação da força, do guerreiro e da guerra, além de enxergar a violência com uma virtude, conhecidos ideais viking.

Varg se introduziu na cena norueguesa como um satanista. A “doutrina” satânica à moda medieval do black metal norueguês, foi introduzida na cena por ele, mas após sua primeira prisão em 1993, ele se virou para o nazismo.

Em entrevista, sobre o satanismo, ele declarou:

“Nos estávamos fazendo graça sobre satanismo. Eu conclui que se você é satanista, então vai contra tudo o que o cristianismo era”.

Além do violento ideal viking, o movimento Black Metal norueguês considera a idade Viking como um ideal, e o fim da cultura Viking se dá  pela romanização e posterior cristianização da Noruega.

Assim,  a invasão estrangeira destruiu a verdadeira cultura norueguesa e substituiu com os costumes inferiores. O norueguês atual, portanto, deve retornar à sua cultura original, rejeitando o estilo de vida moderno, e continuar a guerra contra os cristãos.

Por fim, a antiga religião politeísta nórdica era vista como o natural e própria da Noruega, uma religião que se baseia sobre os fenômenos astronômicos e naturais (movimento dos planetas, o ciclo da lua, o ciclo das estações, etc.) que foi destruído e substituído pelo cristianismo como parte da invasão cultural.

Portanto, como um símbolo do retorno à idade de ouro dos Vikings eles defendiam o dever de rejeitar e expelir o cristianismo como religião do seu país .  

Muitos, no entanto, só queria erradicar o cristianismo, e como um símbolo se auto-proclamaram satanistas, embora eles não tivessem um culto organizado e nenhuma relação com a Igreja de Satã de Anton LaVey.

O que não impediu que a “Bíblia Satânica” de LaVey foi proibida de ser vendida na Noruega, onde fez relativo sucesso antes mesmo dos problemas com a cena Black Metal.

É fato que o satanismo na Noruega precede a explosão de violência dessa segunda geração do Black MetalEm 1988 já existem registros de preocupação com a disseminação de grupos que se dedicavam ao satanismo em cidades pequenas.

E de forma objetiva, o satanismo da primeira fase do Black Metal norueguê era simplesmente uma inversão da doutrina cristã e nada tinha de satanismo de grupos luciferianos, setianos ou da Church of Satan.

Muitos acreditam que o alarde causado pela mídia com a crescimento do satanismo, e as constantes matérias que acusavam grupos ocultistas de envolvimento em sacrifícios e outras atividades criminosas,no fim dos anos 1980, motivou os adolescentes que formariam o Inner Circle.

Você pode adicionar aos alicerces do Inner Circle que eles não tinham um ideal político unitário. Euronymous, do Mayhem, era comunista – stalinista, enquanto Vikernes, do Burzum, em meados da década de 1990 chamava-se de Nacional-Socialista, porém, agora refere-se como um nazista e identificou sua ideologia com o Odinismo.

Existe a inferência de analistas do satanismo entre os jovens noruegueses da época de que o comportamento da cena black metal era influenciada pela propaganda contrária aos grupos ocultistas que cresciam na Noruega, como a Ordo Templi Orientis.

Não podemos esquecer que a religião nórdica vem banhada na tradição ocultista, e muitos nomes do Inner Circle buscavam retomar os aspectos nórdicos na Noruega.

O próprio Varg admite ser mutável em suas filosofias e crenças. Confessa ter sido skinhead entre os 15 e 16 anos, depois ocultista, satanista, tendo se interessado posteriormente por mitologia, até chegar ao nacionalismo. O mais certo é que suas crenças são uma fusão de paganismo, nacionalismo, totalitarismo e preconceito racial.

Na virada dos anos 2000, Vikernes negaria seu passado com o black metal, classificando sua música como genérica; heavy metal ruim. Segundo seu ponto de vista naquela época, o rock n’ roll seria uma herança da cultura negra, afro-americana, e distante da raça branca, e com capacidade de alienar essa raça branca.

Embora, levar os fatos pelas declarações de Varg seja um problema, pois ele se mostra um constante revisionista da própria história. Nesse cenário, Varg dizia, inclusive, que Euronymous não podia ser satanista, pois ele não acreditava em nada.

Segundo Bard “Faust” Eithun, baterista do Emperor, o Inner Circle era apenas um nome inventado para as pessoas que orbitavam em torno da Helvete. Não tinham exatamente membros ou reuniões. Nas palavras dele, a mídia tornou a coisa mais organizada do que ela realmente era.

O único consenso é que o Inner Circle foi composto por membros das primeiras bandas de black metal norueguês como Mayhem, Burzum, Emperor, Darkthrone, Immortal, Enslaved, e por alguns seguidores destes.

Abaixo você encontra uma oferta do segundo volume do livro “Black Metal: A História Completa”, de Dayal Patterson.

Os Boatos sobre Euronymous.

Euronymous era líder não só do Inner Circle, mas também da banda mais perigosa desta nova geração do Black Metal, o (The True) Mayhem, ou simplesmente Mayhem. Ele foi o primeiro a encontrar o corpo de Dead após o suicídio do vocalista, e antes de chamar a polícia foi até uma loja e comprou uma máquina fotográfica.

Uma das fotos tiradas nesta ocasião estampou uma das capas da banda. Circulam boatos que de que além das fotos, Euronymous teria retirado partes do crânio para fazer um colar e comido um pedaço do cérebro do seu vocalista morto.

Segundo a lenda, pedaços do crânio do vocalista foram enviados a bandas de Black Metal consideradas dignas pelo movimento. Evil, do Marduk, diz ainda ter os pedaços do crânio.

Existiam até mesmo rumores de que Euronymous havia matado o vocalista Dead, que se  suicidou com uma arma da casa do guitarrista e com a munição dada por Varg como presente de natal.

Curiosamente ele até impulsionava e não negava estes rumores acerca de si, de sua banda, e de seus integrantes, acreditando que isso traria mais atenção ao Mayhem.

A Violência do Black Circle.

Existia uma filosofia por trás do Black Metal, centrada na música, mas também existiam alguns loucos extremistas.

Antes da queima de igrejas, os membros do Inner Circle profanavam túmulos. Varg chegou a ser acusado deste crime, mas foi liberado por falta de provas.

A primeira igreja incendiada foi a de Bergen, pelas mãos de Varg. No dia 6 de junho de 1992, a Igreja de Fantoft, um marco cultural norueguês, foi a primeira de um série de quase dez incêndios no primeiro semestre daquele ano.

Na última delas, a Igreja de Sarpsborg, um dos bombeiros que tentava apagar o incêndio acabou morrendo. Gerando comoção na população e cobrança para que as autoridades punissem os responsáveis pelos incêndios.

Ironicamente, Varg possui um irmão mais velho que trabalhava vendendo alarmes de incêndios para igrejas.

Ao todo, entre tentativas, ataques, e incêndios efetivados, são creditados entre 44 e 46 crimes aos membros do inner circle. 

E no centro disso tudo estava Varg Vikernes, classificado como um piromaníaco com motivações de vingança. Ele culpava a Igreja por ter destruído tudo o que havia de mais belo na cultura norueguesa.

Mais tarde ele alegaria que ninguém associou a data da queima da Igreja de Fantoft ao primeiro cerco vinking da história, em 793, mas ao sexto dia da semana em que caiu 6 de junho daquele ano, ou seja, um simbolismo de 666.

A campanha da queima de igrejas sem dúvidas adicionava um terror psicológico e uma intimidação religiosa ao arsenal do Black Metal.

Muito mais do que em outros países da Escandinávia, as igrejas norueguesas eram construídas de madeira, o que amplificava a rapidez com que o fogo se alastrava.

Além disso, alguns integrantes queriam sacrificar padres em suas igrejas, mas apenas animais foram sacrificados nas igrejas antes de serem incendiadas.

Segundo Samoth, do Emperor, “não existiam reuniões antes dos atos” e a “maioria das ações eram mais ou menos do tipo ‘vamos fazer isso essa noite'”. Ele ainda continua dizendo que via sua conduto de queimas de igrejas como “um ato extremo direcionado à Igreja e à sociedade”.

A violência da cena norueguesa chegou a cruzar fronteiras, indo para a Suécia, que também experimentou pontuais incêndios em igrejas.

A banda sueca Abruptum chegou a ser lançada pelo selo de Euronymous, o que gerou alguns conflitos entre ele e Varg, afinal existiam fortes rivalidades entre as cenas dos dois países, tanto que as primeiras suspeitas dos responsáveis pelo assassinato de Euronymous recaíram sobre os membros daquela cena sueca.

Um exemplo desta rivalidade está no evento com a banda Therion.

Em 26 de Julho de 1992, Maria, uma integrante do grupo, atacou a casa de Christofer Johnsson, o líder do Therion.

O movimento queria controlar todas as bandas norueguesas, e se a banda não fosse suficientemente satânica o grupo a perseguia. Tal perseguição extrapolou fronteiras, indo para também na Suécia.

A casa de Johnsson foi incendiada e Maria ainda cravou uma faca na porta com uma mensagem “O Conde esteve aqui e voltará”. Na época, Varg Vikernes usava o pseudônimo de Count Grishnackh. Quatro dias após o incêndio, Johansson recebeu uma carta de Vikernes:

“Olá vítima! É o Count Grishnackh do Burzum. Acabo de voltar de uma pequena viagem a Suécia, mais precisamente em um lugar a noroeste de Estolcolmo e acho que perdi um isqueiro e um disco do Burzum, ha ha! Voltarei muito cedo e talvez, desta vez, não os acordarei no meio da noite. Darei uma lição de medo. Somos realmente muito loucos, os nossos métodos são a morte e a tortura. As nossas vítimas morrerão lentamente, devem morrer lentamente.” 

De acordo com o líder do movimento, eles se definiam como  um grupo de militantes que lidam com coisas que precisam ser resolvidas.

Os atos violentos caracterizaram o grupo que é lembrado até os dias de hoje pelas 52 igrejas que foram incendiadas, pelos 15 000 túmulos profanados e símbolos satânicos pintados por toda a Noruega.

As atividades do Inner Circle se repetiram em países como Alemanha (coma banda Absurd), Suécia (centrado no Abruptum e no Dissection, com consistentes provas do relacionamento da cena sueca com o Inner Circle norueguês), França (com Funeral e Order of the Emerald – com ligações com o grupo político Nouvelle Résistance, fundado por Christian Bouchet) e Inglaterra (onde houve ataques a igrejas que quase causaram o banimento do Black Metal na Inglaterra, impulsionado pela banda Necropolis).

O Artigo da Kerrang! | O Mundo descobre o Inner Circle

Logo a mídia especializada mundial começou aprestar atenção, de fato, na cena norueguesa e os crimes vinculados ao Inner Circle, após o artigo da Kerrang! de março de 1993, que anunciava a verdade odiosa sobre o black metal.

Este artigo basicamente apresentou o Black Metal norueguês ao mundo, trazendo Vikernes e Euronymous como os pilares da cena. Ambos referem a uma organização que estaria por trás da onda de crimes na Noruega, chamada de Terroristas Satânicos. a qual eles faziam parte.

Euronymous ainda menciona dez membros de um “círculo interno” (o tal Inner Circle), que tinha contato direto e manipulavam um grupo maior de “escravos” do black metal, e que a Helvete era o suporte econômico e base dos terroristas.

Sobre as acusações de crimes de ambos, Vikernes alega ser acusado de abuso infantil, colocar fogo em igrejas, alguns assassinatos e posse de armas ilegais, e diz que “Aske”, EP do Burzum lançado em 1993, era como um “hino ao incêndio de igrejas”.

Esse artigo da  Kerrang! é o primeiro a rotular uma cena Black Metal como neo-fascista.

O Assassinato de Euronymous

Em Janeiro de 1993, Varg Vikernes concedeu uma entrevista para um jornalista do Bergens Tidende a fim de divulgar a cena Black Metal e a loja Helvete, de Euronymous.

A entrevista resultou em uma investigação policial que levou Varg a ser preso por algumas semanas e forçou Euronymous a fechar a sua loja.

Em 10 de Agosto de 1993, Varg Vikernes e Snorre W. Ruch viajaram de Bergen até o apartamento de Euronymous em Oslo.

Após uma briga, Varg esfaqueou Euronymous. O corpo foi encontrado na parte de trás do apartamento com 23 facadas, duas na cabeça, cinco no pescoço e dezesseis nas costas.

A suspeita era de que o assassinato foi cometido após uma briga por dinheiro do álbum do Burzum e Varg declarou que tinha sido atacado primeiro por Euronymous.

Todavia, as motivações de Varg vão desde a disputa de poder pela liderança da cena até a dívida que Euronymous tinha com ele pelos royaltes não pagos pelos discos do Burzum.

Varg foi condenado a 21 anos de prisão por homicídio em primeiro grau, posse ilegal de armas e explosivos, e por ter colocado fogo em três igrejas. Em um julgamento tumultuado, Varg recebeu o veredito rindo e a foto do momento foi estampada em vários jornais.

Mais tarde, Varg declararia que Euronymous nunca participou ativamente de crimes cometidos dentro do Inner Circle, sendo apenas alguém usado por ele para espalhar  suas ideias, manipulando-o e usando sua influência dentro da cena norueguesa. Nas palavras de Varg “ele não era o que aparentava ser”.

O líder do Burzum ainda alega que havia matado-o como defesa de uma ameaça de morte do próprio Euronymous que havia virado forte rumor na cena.

A versão oficial do assassinato de Euronymous, dada pelos investigadores, é que Varg Vikernes planejou o assassinato, criando um álibi com um amigo que teria aluga uma fita cassete em Bergen, cidade natal de Varg, usando seu cartão de crédito, enquanto ele estava em Oslo, praticando o crime.

O filme escolhido era um que ambos já haviam assistido para que pudessem contar a mesma história

De acordo com testemunhas do julgamento de Varg, o assassinato de Aarseth foi premeditado.

Como cúmplices estariam Snorre “Blackthorn” Ruch (da banda Thorns) e o amigo de Bergen que criaria o álibi de Varg.

O fim do movimento Black Circle.

Durante o inquérito do assassinato de Euronymous, a polícia interrogou todos os membros do Inner Circle, obtendo informações de crimes cometidos no passado, condenando ainda Bård Faust por homicídio, Snorre W. Ruch por cumplicidade no homicídio de Euronymous e Samoth por incêndio.

Mesmo com toda pressão da polícia, no dia da sentença duas igrejas foram queimadas e um mês depois outra também foi incendiada.

Devido a estas prisões, muitas bandas não puderam dar continuidade a suas carreiras e assim, aos poucos a cena foi desaparecendo.

Após o assassinato de Euronymous, a cena, já combalida pelas prisões de integrantes importantes das principais bandas, se dividia em pro-Vikernes e pro-Euronymous.

No fim doa nos 90, tivemos outra onda de bandas norueguesas lideradas pelo Dimmu Borgir e pelo Old Man’s Child. Porém, ainda existem bandas como o 1349, Taake e Tsjuder que seguem os ideais do movimento Inner Circle.

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6 comentários em “Black Metal Norueguês | O Que Era o Black Circle (ou Inner Circle)?”

  1. Marcelo Lopes Vieira

    Olá Neuza!
    Essa é uma cena que sempre me causou fascínio, seja pela violência, quanto pela música.
    E nunca encontrei um texto que me desse mais do que o assassinato de Euronymous e as queimas de igrejas.
    Aí resolvi pesquisar e escrever o texto que eu gostaria de ler! kkkkkkkkk
    Saiu esse! Fico feliz que vc tenha gostado também!
    Logo, logo teremos uma lista de grandes discos de Black Metal.
    Abraços!

  2. Gostei bastante da forma em que foi escrito esta matéria. A cada frase lida eu queria ler mais e mais. Tanto por me interessar pelo assunto tanto pela maneira que foi discorrido o texto. Uma escrita leve e apreciante.
    Outro ponto positivo foi a quantidade de fatos contada, todos os outros sites são bastante superfícial, se prendendo aos mesmos fatos. Já aqui não, realmente foram além do assassinato de Euronymous e a queima de Igrejas por Varg.
    Parabéns!!!

  3. Obrigado pelo comentário que agrega muita à postagem… É sempre bom receber um comentário relevante em um texto. Realmente não sou fanático por Black Metal, gosto de algumas bandas pela sonoridade crua. Em nenhum momento quis dizer que existiu um hiato entre as duas fases do estilo, só quis enaltecer as duas fases mais notórias àqueles não se ligam no metal negro, pois convenhamos, quem é conhecedor do Black Metal, não precisa ler um texto cujo título deixa explícito que suas linhas trarão um resumo sobre um dos movimentos mais importantes, do ponto de vista da divulgação, do estilo. Agora, quando entramos em méritos subjetivos, como a infantilidade ou não, das letras de certas bandas, ou se a banda é ou não um lixo, por esse ou aquele motivo, por este ou aquele rótulo, aí já é sentença da cabeça de cada um… Quanto a minha visão do Diabo, podes acessar meu outro blog onde trago um pouco do que investiguei sobre ele no link http://oppriorado.blogspot.com.br/2014/07/lucifer-uma-entidade-do-mal-arquetipo.html . Abraços e volte sempre…

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