“Plays Metallica By Four Cellos”, primeiro disco da banda Apocalyptica é nossa indicação de hoje da seção VOCÊ DEVIA OUVIR ISTO, cuja proposta você confere nesse link.
Definição em um poucas palavras: erudito, heavy metal, releituras.
Estilo do Artista: Symphonic Heavy Metal
Comentário Geral: Quem disse que não dá para servir a dois senhores? Tudo bem que o Apocalyptica pode ser a exceção que confirma essa regra, mas, de fato, em seu primeiro disco, “Plays Metallica By Four Cellos”, eles serviram tanto às regras da música clássica e quanto aos deuses do heavy metal.
A ideia era simples: tocar heavy metal com instrumentos eruditos! E como o próprio título do disco alude, neste trabalho um quarteto de cordas finlandês se dedica à execução de oito versões eruditas de clássicos do Metallica.
E a partir deste momento eles ficariam conhecidos mundialmente por tocar clássicos do heavy metal com instrumentos clássicos, como violas e cellos. Claro que após um tempo o Apocalyptica começou a trabalhar em composições próprias, mas os dois primeiros discos são dominados com covers de bandas como Metallica, Sepultura, Faith No More e Pantera
O Apocalyptica surgiu como um projeto de colegas de escola no início dos anos 1990, onde alguns quatro estudantes de cello se juntaram sem pretensão. Tanto que o nome da banda “veio de um cara da primeira gravadora que tivemos”, como contou Perttu Kivilaakso, um dos fundadores do Apocalyptica, mas que não gravou os primeiros dois discos.
Perttu Kivilaakso ficou no Apocalyptica até 1995 e retornaria definitivamente em 1999, e ele ainda conta que ideia inicial era apenas colocar o rock nos instrumentos eruditos. “O primeiro disco que ouvi acho que foi o primeiro do Skid Row. E logo após isso, foi o ‘…And Justice For All’, do Metallica. Estes foram os discos que me levaram a ouvir heavy metal”, lembrou ele em entrevista à saudosa revista Metalhead.
Quando “Plays Metallica By Four Cellos” foi lançado, a ousadia que chamou a atenção dos devotos da música clássica despertou mais do que curiosidade nos adeptos do heavy metal. “Estávamos tocando estas músicas em instrumentos que não deveríamos tocar”, lembrou Eicca Toppinen, que além de tocar cello era também co-produtor do trabalho.
Todavia, isso é menos importante, pois o resultado final não é menor que sublime. A proposta mostrou que a estrutura do heavy metal não é tão vulgar o quanto se alardeava e as versões de “Harvester of Sorrow”, “The Unforgiven” e “Welcome Home (Sanitarium)”, com camadas sobrepostas de harmonias e melodias, faziam nos lembrar vagamente de algumas peças de Schubert.
Já as bombásticas e intensas “Sad but True”, “Master of Puppets” e “Creeping Death” nos fazia questionar se a máxima de que a música erudita é o heavy metal sem eletrificação é realmente tão insensata? Pois ouvindo estas interpretações esta é uma conclusão até mesmo intuitiva.
Claro que o Apocalyptica não era apenas uma excêntrica banda cover do Metallica neste disco, eles impunham sua própria identidade nas releituras cruas e fiéis aos arranjos originais, mostrando uma nova forma de abordar o heavy metal.
Hoje, o terreno do heavy metal já foi tão explorado, conquistado e seus horizontes tão ampliados que é difícil entender a estranheza que o Apocalyptica causou quando lançou este primeiro disco. Era um grupo de violoncelistas de formação erudita que tocava heavy metal!
A impressão que dá é que nem mesmo os profissionais do estúdio sabiam bem como timbrar e produzir a proposta ousada. “Nós mostramos às pessoas que você pode fazer o que quiser com os instrumentos. Se você só quer, se você tem a mente aberta e se deixa fazer”, declarou Paavo Lötjönen em entrevista ao site Cello Bello.
A proposta seria melhor lapidada com o passar dos nos e o sucesso de “Inquisition Symphony” (1998) que veio na sequência mostrou que a atenção direcionada à banda formada por Eicca Toppinen, Paavo Lotjonen, Max Lilja e Antero Manninen com seu primeiro disco não era fruto apenas do ineditismo.
A proposta havia sido abraçada pelo fãs de heavy metal e, em 2000 eles lançariam “Cult”, um disco com a maioria das músicas inéditas e na sequência a participação do baterista Dave Lombardo (Slayer, Testament, Philm) em “Reflections” (2003) levaria a música do Apocalyptica para um novo patamar, mas aí é assunto para um novo texto.
Ano: 1996
Top 3: “Master of Puppets”, “Welcome Home (Sanitarium)” e “Creeping Death”
Formação: Eicca Toppinen (Cello), Paavo Lötjönen (Cello), Max Lilja (Cello) e Antero Manninen (Cello)
Disco Pai: Metallica – “…And Justice For All” (1988)
Disco Irmão: Wolf Hoffmann – “Classical” (1997)
Disco Filho: Primitivity – “Plays Megadeth for Cello” (2010)
Curiosidades: No relançamento de 2016, comemorando os vinte anos de “Plays Metallica By Four Cellos”, ainda incluíram versões de “Battery”, “Nothing Else Matters” e “Seek And Destroy”, que ficaram de fora do repertório original.
Pra quem gosta de: terno com all-star, quebrar regras, ler os clássicos num kindle e servir a dois senhores.
Leia Mais
- Metallica – “Kill ‘Em All” (1983) | Clássico da Música
- Iron Maiden | O Heavy Metal Influenciado Pela Literatura
- Wolf Hoffman – “Headbanger’s Symphony” (2016)
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