“Erased, A cidade Onde Só Eu Não Existo” (2016) | Resenha

 

“A cidade Onde Só Eu Não Existo” é um mangá seinen escrito e ilustrado por Kei Sanbe e publicado na revista Young Ace da editora Kadokawa Shoten desde 2012. O primeiro volume do mangá foi lançado em 26 de janeiro de 2013 e finalizado em 4 de março de 2016 com oito volumes. Uma adaptação para anime intitulada “Erased”, produzida pelo estúdio A-1 Pictures, começou a transmitir-se na Fuji TV desde 8 de janeiro de 2016. Hoje, nossa colaboradora Laira Arvelos nos apresenta uma resenha deste clássico dos animes.

O que você faria se pudesse viajar no tempo? Muito já foi escrito e produzido sobre esta temática, a ideia de conseguir mudar algo no passado é um pensamento constante que faz com que compremos esta ideia.

Em Boku dake ga iani machi, este conceito é explorado em um foco mais centrado e também não é explicado como o personagem consegue a façanha, devemos aceitar que Satoru consegue voltar alguns minutos no tempo o que ele chama de ‘revival’ e embarcar na trama de buscas por mudança e aceitação do direcionamento da vida.

Não temos em nossa vida o poder sobre o passado, e talvez resida aí o fascínio por este tipo de ficção, onde nossos sonhos se concretizam nos personagens que a realizam.

O momento do revival é um espetáculo à parte da produção, sempre quando vai acontecer aparece uma delicada borboleta azul e as cenas vão se desenrolando e dissipando como em um rolo de fita de cenas, cenários e vultos.

A adaptação do mangá para anime foi produzida pelo estúdio A-1 Pictures com 12 episódios exibidos no ano de 2016. A música da abertura é cantada por Asian Kung-Fu Generation, banda conhecida pelas aberturas de animes famosos, como Bleach e Fullmetal Achemist.

O protagonista de 29 anos, Satoru Fujinuma, entregador de pizza, mangaká fracassado, desinteressado e triste possui o dom do qual não entende ou controla de voltar no tempo para evitar situações trágicas da qual pensa em não se envolver, mas se envolve.

A trama fica mais atraente quando uma pessoa próxima de Satoru é ferida e ele é enrolado na teia de fatos que o condiciona a principal suspeito, levado a um revival de 18 anos.

Agora no ensino fundamental em 1988, (choque para quem assiste, pois temos que rapidamente nos acostumar com o novo cenário e época da trama) Satoru criança com a mente adulta tem uma chance de mudar fatos que aconteceu no seu passado que mudarão a sua realidade. Um passado mal resolvido pode assombrar o presente.

A questão agora é descobrir como os acontecimentos estão interligados com a tragédia recente. Satoru usa de todas as informações e inteligência que possui para evitar cada passo do serial killer, é ele que tem a pesada missão de salvar seus amigos do perigo, da violência e da morte.

A animação trata a história com muito carinho e respeito, o grande diferencial está no tom imersivo da trama, o enredo bem amarrado e fechado é uma combinação bem-feita de tensão, densidade, leveza e poesia.

Não é tão somente um trabalho sobre viagem no tempo, é um hino de profundidade e lirismo que mexe com as nossas emoções mais básicas: como não sentir medo de um assassino frio? Como não ter raiva de abuso? Como não sentir alegria dos grupos e festas infantis? Como não sentir tristeza quando é tirada a vontade de viver de uma criança?

A construção de uma atmosfera de apreensão e leveza do anime nos deixa rendidos, uma trama vai se construído em volta do grande vilão, que é revelado apenas no final, mas que já é facilmente identificado por olhos mais atentos, e não, isso não estraga a trama. O porquê do estranho elo entre ele e Satoru foi desfeito com elegância no episódio derradeiro.

O peso da temática é equilibrado pela sensibilidade e doçura dos sentimentos da infância. Os momentos na escola de Satoru dão beleza a história com amizades que remontam um sentimento nostálgico de quem assiste; aquele amigo mais tímido, o mais engraçadinho, o inteligente, as histórias de heróis, brigas, esconderijos, pequenos gestos de gentileza, brincadeiras são as contribuições dos personagens secundários, que são facilmente bem quistos.

Os personagens são o grande ouro do anime, não apenas em toda trajetória de desânimo, força e reviravoltas de Satoru, mas no seu encanto, ternura e bravura. Na fortaleza e inteligência de sua mãe Sachiko, na ingenuidade de Airi e pessoalmente no drama de vida de Kayo Hinazuki; sua solidão, vazio, sua simplicidade, sua tristeza, sua fragilidade, sua amargura, seu sofrimento, são intensamente transferidos e sentidos, Kayo ‘tornou- se real” para mim.

O Mangá precursor do anime foi escrito e ilustrado por Kei Sanbe e publicado pela Young Ace, propriedade da Kadokawa Shoten. É cativante, positivamente no mangá acredito que a figura do vilão não fica tão óbvia, é mais construída e historicamente inserida, negativamente a primeira parte do mangá é exaustiva pois explora de modo excessivo a depressão e fracasso de Satoru, o seu pensamento perdido e colocado em demasia, o que fica visualmente cansativo.

O anime como acontece nestas adaptações corta algumas partes, porém ambas as obras são profundas e merecem ser apreciadas pela forma consistente de explorar ficção e sentimento.

Para fazer aquela maratona!

“_Iii, eu disse isso em voz alta”

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