Em “Queen of Time: Live at Tavastia 2021”, temos uma performance ao vivo excepcional da banda finlandesa Amorphis, que mostra a força e a criatividade de um dos seus álbuns recentes mais aclamados. Esta resenha aprofunda como o Amorphis continua a influenciar o metal extremo com pesronalidade diferenciada, honestidade e conexão emocional.
Introdução
Já veteranos dentro do metal extremo, a banda finlandesa Amorphis é daqueles nomes que sempre estão forçando as barreiras de sua identidade musical. Sua abordagem única mescla melodias folclóricas com riffs de guitarra poderosos, além de vigorosas pinceladas de ousadia progressiva e uma tirdimensionalidade gótica nas ambientações e climas.
O álbum ao vivo “Queen of Time: Live at Tavastia 2021” é uma celebração de um de seus mais recentes e marcantes trabalhos de estúdio, oferecendo uma experiência que não só destaca a maestria musical da banda, mas também a conexão profunda com seus fãs.
Lançado originalmente em 2018, “Queen of Time” foi marcante para a biografia da banda por reunir parte importante da formação que gravou o clássico e definidor “Tales From The Thousand Lakes”, álbum de 1994. A performance ao vivo em Tavastia captura a banda exatemente neste momento da carreira, pois ali eles tocam as dez composições daquele disco de 2018 com rigor e feeling.
“Queen of Time: Live at Tavastia 2021” foi lançado em 13 de outubro de 2023, e chegou ao Brasil pela parceria entre os selos Shinigami Records e Atomic Fire Records. Mas antes de falarmos sobre este disco ao vivo em questão, vamos mergulhar na trajetória do Amorphis e como “Queen of Time” figura nesta biografia.
Amorphis: Uma Jornada Através do Metal Extremo
O Amorphis é uma das bandas mais emblemáticas do metal extremo, conhecida por sua habilidade em combinar elementos de death metal, folk e progressivo de uma forma que praticamente define um subgênero próprio. Originária da Finlândia, a banda foi formada em 1990 e rapidamente se destacou por sua abordagem única à música.
Nos primeiros anos, o Amorphis adotou o estilo puro do death metal escandinavo. No entanto, sua música sempre teve um diferencial, focando em melodias melancólicas com leves toques de folk e usando teclados e efeitos especiais para criar ambientes únicos. Isso ficou evidente em seu álbum “The Karelian Isthmus” e o EP “Privilege of Evil”.
A verdadeira transformação veio com o álbum “Tales From a Thousand Lakes” em 1994, que misturava death metal com elementos progressivos e folk, criando um som distintamente melódico e atmosférico. Este álbum não só estabeleceu o Amorphis como uma força inovadora no metal extremo, mas também influenciou o desenvolvimento do gênero como um todo.
Continuando a expandir seus horizontes musicais, o Amorphis lançou “Elegy” em 1996, onde exploraram ainda mais os elementos de música folclórica finlandesa e integraram novos instrumentos, como o sitar e o acordeão. Este álbum marcou uma maior adoção de vocais limpos, com a adição de Pasi Koskinen como vocalista, ampliando as capacidades vocais da banda.
O álbum “Tuonela” de 1999 foi outro marco importante, com a banda adotando uma abordagem ainda mais progressiva e alternativa, afastando-se dos vocais guturais e explorando novas texturas com instrumentos como saxofone e flauta.
Em 2006, com a chegada do vocalista Tomi Joutsen, o Amorphis lançou “Eclipse”, que uniu com sucesso a agressividade do metal extremo com um apelo mais melódico e acessível. Este álbum iniciou uma nova fase de ouro para a banda, culminando em “Under the Red Cloud” em 2015, que sintetizou todos os elementos explorados anteriormente, entregando um som que era tanto tradicional quanto inovador.
O Álbum “Queen of Time”
O lançamento de “Queen of Time” em 2018 consolidou ainda mais a posição do Amorphis no topo do metal extremo. Este álbum foi um testemunho da capacidade da banda de continuar evoluindo enquanto mantinha a essência de sua identidade musical única.
Todas as músicas de seu repertório não apenas mantém o alto nível de complexidade e criatividade que se espera do Amorphis, mas também traz inovações significativas no uso de orquestrações e participações especiais, como Anneke Van Giersbergen e a Orphaned Land Oriental Orchestra, adicionando novas camadas de profundidade ao som da banda.
A produção do álbum destaca-se por seu equilíbrio entre diferentes texturas, velocidades e pesos, trazendo um som grandiloquente que é ao mesmo tempo melódico e contundente. A faixa “The Bee” é um exemplo claro dessa dinâmica, com seus contrastes vocais marcantes, riffs de guitarra com groove e um refrão cativante.
Em suma, “Queen of Time” é um álbum que evidencia o Amorphis cruzando novas fronteiras em sua evolução musical. Com uma mistura de instrumentação diferenciada, que inclui desde órgãos gravados em igreja até instrumentos folk tradicionais, e estruturas de composição complexas, o álbum representa uma continuidade da jornada da banda em direção a um som cada vez mais progressivo e emocionalmente ressonante.
Este álbum não apenas confirmou o lugar do Amorphis como uma das bandas mais inovadoras do metal, mas também como uma daquelas que está constantemente procurando revitalizar e expandir sua sonoridade sem perder a dinâmica que se tornou sua marca registrada.
Ouvindo e Analisando “Queen of Time: Live at Tavastia 2021”
Em resumo, o Amorphis não apenas moldou o metal extremo com sua música inovadora e experimentações audaciosas, mas também provou ser uma das bandas mais criativas e influentes do gênero. A jornada da banda até “Queen of Time” é um exemplo brilhante de como eles continuaram a se reinventar e a empurrar os limites do que é possível dentro do metal extremo.
Até por isso, quando a pandemia chegou em 2020 e o mundo parou, eles se viram impossibilitados de ir aos palcos e mostrar ao mundo que estava em uma das melhores fases da carreira. Decidiram então rumar ao Tavastia Club, em Helsinque, e tocar seu mais recente trabalho de estúdio na íntegra, mesmo que ele estivesse completamente vazio.
Em 2023, quando entraram em turnê ao lado do Soltafir e da banda Lost Society para divulgar o álbum “Halo” (2022), eles presentearam seus fãs com aquela apresentação no Tavastia num registro oficial de sua discografia. Um material de áudio e vídeo filmado de vários ângulos e em áudio de extrema qualidade.
Apesar de parecer estranho tocar num local vazio, o líder da banda, Esa Holopainen deu uma declaração dizendo o contrário: “Na verdade, não foi estranho”, diz ele. “Já gravamos videoclipes como ‘Against Widows’ em um Tavastia vazio antes. Também já tocamos em shows quase vazios no passado”. Já o tecladista Santeri Kallio confessa que foi um pouco estranho: “Embora tenha sido uma experiência diferente, ainda foi muito divertido”.
Resenha de “Queen of Time: Live at Tavastia 2021”
Com o CD que registra o áudio desta apresentação podemos perceber como a escolha de interpretar o álbum “Queen of Time” na íntegra ao vivo é uma demonstração de confiança na força desse material, através de uma performance tecnicamente impecável e emocionalmente carregada das faixas do álbum.
Cada membro da banda demonstra uma habilidade excepcional em trazer as complexidades das composições de estúdio para o palco, algo que eleva significativamente a experiência auditiva. Enquanto o vocalista Tomi Joutsen é o comandante da intensidade e da emoção (ouça o que ele faz já na abertura com “The Bee”) pela maestria com que equlibra vocais melódicos com guturais, temos Esa Holopainen brilhando permamentemente pela precisão e profundidade emocional de suas linhas (ouça “The Golden Elk” com atenção).
Dentre as faixas notáveis deste “Queen of Time: Live at Tavastia 2021”, posso incluir “The Golden Elk”, que combina grandiloquência melódica com vocais guturais e arranjos de cordas complexos, e “Message In The Amber”, que segue a alegoria temporal da letra de “The Bee” e se destaca como um dos grandes momentos do álbum. A faixa “Daughter of Hate” é particularmente progressiva, misturando elementos de death metal com um arranjo de saxofone e spoken word em finlandês, mostrando a capacidade do Amorphis de fundir gêneros e estilos de forma coesa e inovadora.
“Wrong Direction” é outro ponto alto do álbum ao vivo, onde a banda como um todo cria uma tempestade de energia e drama. A execução desta música ao vivo é uma explosão de lirismo e drama épico, demonstrando a capacidade do Amorphis de construir e manter uma tensão quase cinematográfica através de sua música.
Por fim, a presença de Anneke Van Giersbergen em “Amongst Stars” eleva a música a um patamar celestial, afinal, ao vivo, as emoções vívidas tornam tudo mais intenso. A interação entre seus vocais e a banda não é apenas um complemento ao que já é uma faixa excepcional, mas uma transformação que enriquece a experiência ao vivo, tornando-a mais dinâmica e emocional.
A qualidade do áudio de “Queen of Time: Live at Tavastia 2021” mostra todo o cuidado que a banda teve com a captação, além de claramente podermos perceber uma mixagem e masterização cuidadosas que conseguem preservar a grandiosidade do som ao vivo do Amorphis.
Os instrumentos são registrados com uma clareza que ressalta cada nuance da performance e, claramente, a captura de áudio foi meticulosamente planejada para garantir que todos os elementos sonoros fossem distintos e impactantes.
Conclusão
“Queen of Time: Live at Tavastia 2021” serve como um reflexo do compromisso do Amorphis com a evolução contínua e a autenticidade na música. Neste álbum ao vivo, a banda não apenas reinterpreta suas canções, mas também destaca sua habilidade em criar uma experiência compartilhada com seu público.
Aproveite que a Shinigami Records lançou este disco por aqui e vá atrás, pois este é um trabalho que reitera o lugar do Amorphis no mundo do metal extremo, não apenas como músicos que executam suas obras, mas como artistas que continuam a buscar novas formas de engajamento e expressão através de suas performances.
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- Amorphis – Resenha de “Queen of Time” (2018)
- Amorphis – “Live At Helsinki Ice Hall” (2021) | Resenha
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