Michael Romeo War of the Worlds
O escritor britânico H. G. Wells, um dos pilares máximos da ficção científica clássica ao lado de Julio Verne, cuja obra discutia assuntos como a ética na manipulação de animais, guerras nucleares e a criação de um estado mundial, ganhou fama por seus escritos sobre viagem no tempo, homens invisíveis e cientistas loucos.
“Guerra dos Mundos” não é só um de seus livros mais importantes, mas sim um dos mais relevantes livros da ficção científica, como elencamos nesse texto.
Existe ainda uma história interessante envolvendo esse livro.
A primeira edição desta obra foi publicada na Inglaterra em 1898, mas ficou famosa de maneira interdisciplinar quando, em 1938, transmitiram pela rádio CBS um trecho do livro que seria assustador para os americanos dos anos 50 – inocentes e impressionáveis -, narrando, sem intervalos e patrocinadores, uma completa invasão alienígena, ainda rebuscando a infame piada com a música de Ramón Raquello e sua orquestra. Para saber mais sobre essa história acesse esse nosso texto especial.
A invasão alienígena de “Guerra dos Mundos” seria futuramente adaptada duas vezes para o cinema e influenciaria até mesmo bandas de rock progressivo.
O que tira o espanto quando vemos que Michael Romeo buscou inspiração para seu aguardado segundo álbum solo neste livro (seu primeiro álbum, intitulado “The Dark Chapter”, data de 1994).
Michael Romeo é guitarrista da banda Symphony X, um dos pináculos do rock/metal progressivo moderno, porém não espere que as dez composições de “War of the Worlds – Part I”, não se fiam apenas ao metal, introduzindo elementos variados de música eletrônica (com EDM e dubstep) e de música clássica.
A introdução orquestrada dá o tom de trilha sonora cinematográfica que será entremeada num álbum guiado pela guitarra técnica e pesada de Romeo.
Peso e dramaticidade tendo na exploração técnica seu fulcro, com dinâmica vertiginosa, que é retrabalhada para o heavy metal em faixas como “Fear the Unknown”, “Djinn”, “Differences” e “Oblivion” (de forma mais cadenciada).
E nestas faixas é ainda possível perceber os vocais bem trabalhados da determinação ora furiosa, ora melódica. Rick Castellano é um vocalista competentíssimo, com bom alcance e boa interpretação, mas com voz diferente do que costumamos ouvir ao lado da guitarra de Romeo. Algumas vezes seu timbre remete a James LaBrie (do Dream Theater), noutras a Michael Vescera.
Aqui cabe ressaltar que Michael Romeo chamou músicos gabaritados para ajudá-lo (em especial, destaque ao baterista John Macaluso, que impressiona), relacionados a bandas como Black Label Society, ARK, TNT e Yngwie Malmsteen, e criou algo não tão diferente do Symphony X dentro da estética progressiva, mas com suas particularidades.
A partir daqui prometo desviar as comparações de “War of the Worlds – Part I“ com o Symphony X.
As passagens orquestradas são grandiosas e bem encaixadas, sem nada datado ou clichê, e conferem uma tensão sombria que se encaixa perfeitamente no conceito explorado, principalmente em composições como “War Machine” e “Constellations” (cujo solo chega a lembrar os de Wolf Hoffman em seus discos solo).
Mas não pense que temos algo próximo ao metal sinfônico em “War of the Worlds – Part I”. Romeo chega a esbarrar no thrash metal em “Black” (um prog metal sombrio) e usa efeitos eletrônicos em “Fucking Robots”, que alimentam ainda mais o clima scifi do conceito do álbum.
O único problema por aqui é que em certos momentos Romeo exagera no tecnicismo e na “fritação guitarrística”, principalmente nos solos, o que alonga as composições em momentos desnecessários causando certo cansaço em quem não for músico.
Mas “War of the Worlds – Part I” é um disco solo de um guitarrista, e lógico que alguns excessos são compreensíveis, e até permitidos, e não há como negar que um instrumentista tão virtuoso quanto Malmsteen e tão técnico quanto Petrucci (Dream Theater), como é o caso de Romeo, criou um disco baseado em canções que exploram uma maior amplitude de texturas musicais.
Romeo ainda assina a ótima produção, que soa moderna, sem ser plastificada, imprimindo com excelência o exercício de experimentação musical liberto, com coerência, talento, e inspiração.
Nesse sentido, “Believe” se apresenta como a melhor faixa de “War of the Worlds – Part I”. Sendo onde a proposta desenhada no álbum mais se equilibra. Se você precisar de uma definição para o prog metal, pode mostrar essa faixa sem medo, pois a sonoridade, as passagens e os movimentos te permitem desenhar paisagens mentais.
“War of the Worlds – Part I”, no final, soa como se Michael Romeo quisesse fundir o Symphony X com uma trilha sonora de Thomas Newman.
Confira já!
FAIXAS DE “War of the Worlds – Part I”
1. “Introduction”
2. “Fear of the Unknown”
3. “Black”
4. “F*cking Robots”
5. “Djinn”
6. “Believe”
7. “Differences”
8. “War Machine”
9. “Oblivion”
10. “Constellations”
FORMAÇÃO
Rick Castellano – vocais
Michael Romeo – guitarras, teclados, orquestrações
John DeServio – baixo
John Macaluso – bateria
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