“Cryptoriana – The Seductionness of Decay” é o décimo segundo álbum de estúdio da banda britânica de metal extremo Cradle of Filth, lançado em 22 de setembro de 2017, pela parceria Shinigami Records/Nuclear Blast Records no Brasil. Este é o segundo e último álbum a apresentar Lindsay Schoolcraft na narração antes dela deixar a banda em fevereiro de 2020.
Os ingleses do Cradle of Filth chegam a seu décimo segundo álbum, praticando o mesmo metal extremo, de nuances góticas e traços angustiantes. Segundo Dani Filth este álbum seria uma mistura de “Cruelty And The Beast” e “Hammer of the Gods”.
E de fato, em dados momentos, como em “The Night at Catafalque Manor” ou no cover para o clássico “Alisson Hell”, dos canadenses do Annihilator (duas bônus presentes na edição nacional), a pegada de “Cruelty And The Beast” se apura mais.
Mas se prestarmos atenção aos detalhes (por favor, preste, pois eles formam a personalidade do trabalho e são inseridos de modo inteligentíssimo), os riffs permanecem instigantes, e os solos pormenorizados e vibrantes, uma consequência imediata das linhas de guitarra muito bem trabalhadas e contextualizadas em termos melódicos.
Richard e Marek ‘Ashok’ Smerda conseguiram casar suas linhas com a alma sinfônica das composições, soando melódicas e agressivas com a mesma reverência (ouça “Wester Vespertine” que chega a esbarrar no thrash metal).
Além disso, os arranjos orquestrados que oxigenam e dão alma às canções por um viés gótico-fantasmagórico (a abertura de “Exquisite Torments Await…” é de arrepiar), estão casados com corais que dão mais espaço às linhas soprano de Schoolcraft, o que nos leva a crer (sendo compreensível até) que “Cryptoriana (The Seductiveness of Decay)” pende mais para “Hammer of the Gods” (2015) num panorama completo, onde ajustaram o único porém daquele trabalho (as parte mais extremas padeciam de alguma mesmice) com mais criatividade e intensidade.
Esta ambientação gótico-fantasmagórica (reforçada por um órgão que emerge periodicamente da massa sonora como silvos de almas penadas) contribui para a força do horror gótico do tema desenvolvido como um conto de terror que se passa na Era Victoriana, de clima sombrio, frio e macabro, sendo que o termo “cryptoriana” seria um neologismo que engloba o fascínio pela morbidez que este período possuía, numa visão quase romântica da morte.
Mesmo assim, não pense que ouvirás o mais do mesmo, pois “Cryptoriana (The Seductiveness of Decay)” já se diferencia dos demais por não ter uma intro ou um outro, além de investir na elasticidade das partes instrumentais por vias melódicas mais trabalhadas e menos cadenciadas que no álbum anterior, apresentando mais versatilidade técnica, explorando, inclusive, diferentes texturas sonoras aqui e acolá, mas sempre mantendo o requinte dramático e cinematográfico em alta conta na sua sonoridade pesada e agressiva.
O que consequentemente resulta em composições alongadas, desenhadas por caminhos multifacetados dentre de cada uma, em circunvoluções de mudanças de andamentos e arranjos, sendo exatamente neste fato onde acredito que resida a referência a “Cruelty And The Beast” feita pelo mentor intelectual Dani Filth.
Destaques para “Death and the Maiden” (uma das melhores do álbum, com cadencia climática e peso), “Vengeful Spirit” (com participação de Liv Kristine), “You Will Know the Lion by His Claw” (de agressividade primorosa), “Achingly Beautiful” (a melhor do álbum), “The Seductiveness of Decay” e para a produção de Scott Atkins (que assinou os últimos discos da banda e também do Devilment), responsável por costurar uma sonoridade exuberante, assustadora e de trejeitos britânicos. Além, é claro, da arte gráfica, de extremo bom gosto!
Enfim, o Cradle of Filth reforça a boa fase que a banda vive, ensaiada em “Godspeed on the Devil’s Thunder” (2008), após algumas mudanças consideráveis que comprometeram alguns pontos da discografia à partir de “Damnation and a Day” (2003).
Mas com “Hammer of the Gods” e, principalmente, com este “Cryptoriana (The Seductiveness of Decay)” podemos dizer que a banda reencontrou seu equilíbrio entre decadência, perversão musical, e requinte conceitual, sem soar como uma cópia de si mesmo, mas mantendo suas marcas registradas.
Um dos grandes discos da fase recente da banda!
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O album de 2015 chama Hammer of The Witches