Válvera Cycle of Disaster Entrevista Interview Gaveta de Bagunças Cultura Pop e Underground
Com uma década de existência e três álbuns lançados, a banda paulista Válvera não é nenhuma novata na cena e o resultado obtido com “Cycle of Disaster”, seu mais recente trabalho lançado em agosto, é prova da maturidade e profissionalismo que atingiram.
O reconhecimento não vem apenas dentro de nossas fronteiras, mas também do cenário internacional. Além de ganharem o festival New Rock Bands, da Kiss FM, o Válvera assinou recentemente com a gravadora americana Brutal Records.
Aproveitamos o lançamento do “Cycle of Disaster” para entrevistar o baterista Leandro Peixoto e conversar sobre todos os detalhes que envolvem a banda atualmente, o novo disco e os planos futuros.
Antes de tudo, agradeço pela atenção e pelo tempo cedido a esta entrevista. Para começar, poderia dividir conosco como tem sido a experiência para você e para banda frente à pandemia que vivemos?
Leandro Peixoto: Esse período de pandemia é, obviamente, um momento muito difícil para o mundo, psicológica e financeiramente. Porém, o Válvera encontrou oportunidades incríveis durante esta época na qual tivemos que ficar isolados, sem viagens e shows. Conseguimos um contrato com uma gravadora americana, ganhamos o festival New Rock Bands, da Kiss FM, trabalhamos em materiais para divulgação e ampliamos nossa rede de contatos, para voltarmos ainda mais forte quando tudo voltar ao normal.
As composições de “Cycle of Disaster” possuem títulos como “Glow of Death”, “Born on a Dead Planet”, “Fight for Your Life” e “Bringer of Evil”, que dialogam bastante com esses atuais tempos difíceis. Você acha que de alguma forma a humanidade precisa ser confrontada com períodos como o que vivemos para enxergar o que de fato é valioso?
Leandro: Não acho que precise, necessariamente. Acredito que todo ser humano nasce bom, e alguns tomam decisões que os levam a serem maus. Mas infelizmente, no mundo moderno em que vivemos, esquecemos de valores fundamentais que são necessários para fazer um mundo melhor. Por isso, acaba sendo necessário um impacto maior para que a gente volte para a realidade e entenda o que é realmente importante na nossa vida.
“Cycle of Disaster” chega quando o Válvera está completando dez anos de fundação e confirma sua evolução crescente a cada novo disco de estúdio. Para mim parece que os mais de 200 shows nessa década somam um fator importante nessa evolução. Concorda?
Leandro: Com toda certeza. Esses mais de duzentos shows, não são apenas gigs. São experiencias importantíssimas pro desenvolvimento musical e pra maturidade da banda, além do aumento da visibilidade. A maioria das bandas novas da cena, juntas, não tem a quantidade de shows que nós temos. Se tivéssemos frescura, não estaríamos lançando o álbum que é o Cycle of Disaster, pesado, direto e agressivo. Não teríamos a mídia internacional em peso comentando positivamente sobre e álbum e, com toda certeza, não estaríamos tendo esta conversa.
Olhando músicas como “Bringer of Evil” e “Glow Death”, elas mostram uma banda preocupada com suas letras e de certa forma seus temas se amarram, pois narram problemas do nosso país, e também estabelecem uma correlação com o título do disco. Existe algum conceito mais amplo por trás de “Cycle of Disaster”?
Leandro: Existe. A ideia do Cycle of Disaster é contar, em cada música, casos verídicos que aconteceram no decorrer da história do Brasil (como o horrível caso do Hospital Colônia de Barbacena, o Césio-137 em Goiânia), para mostrar que as desgraças acontecem das mais variadas formas, mas são sempre causadas pelos mesmos motivos: ganância, preconceito, alienação politica, social e religiosa, entre outros. O álbum junta todas estas histórias em um único contexto, e a conclusão é que a humanidade vem cometendo sempre os mesmos erros, de formas diferentes.
O peso do thrash/heavy metal que o Válvera pratica foi aumentando de disco para disco. “Cycle of Disaster” pisa no death metal diversas vezes. Isso foi algo planejado ou surgiu naturalmente durante o processo de composição?
Leandro: Claro! As guitarras foram planejadas pra soar mais pesadas, e isso tem relação com o fato de que tocamos muito com bandas deste estilo, na estrada. Na Europa, por exemplo, nosso contato com bandas de death foi enorme, então a ideia de deixar com um pé em outros estilos, e no caso o death metal, veio por conta desse contato mais forte com este estilo.
A minha favorita de “Cycle of Disaster” é “O.S. 1977”, cujas variações quase progressivas e o trabalho brilhante de guitarras me lembraram um pouco da banda suíça Coroner. Poderia comentar um pouco sobre essa música e seu processo de composição? Qual o significado título?
Leandro: A sigla da música significa “Operation Saucer”, que é a tradução americana para “Operação Prato” que foi uma operação iniciada em 1977 pela Força Aérea Brasileira, para investigar alegações de OVNIs no estado do Pará. É um dos casos mais bizarros e ainda sem explicação da historia da Ufologia, e é um assunto pelo qual somos fascinados. A música surgiu a partir de uma ideia inical na guitarra. Queríamos uma música thrash, rápida e agressiva, então novas ideias surgiram após tocarmos juntos, visando este caminho. O resultado não poderia ter saído melhor.
Falando em conceito, a capa do disco é novamente de Marcelo Vasco. Vocês tiveram alguma participação no processo de concepção da arte? Como ela dialoga com as novas músicas?
Leandro: A maravilhosa arte do Marcelo Vasco foi concebida a partir do conceito do álbum. Nós passamos a ideia que queríamos retratar nas letras, e ele se baseou nisso para criar a arte presente na capa. A capa se relaciona das mais variadas formas com o conteúdo das letras, mas a interpretação de cada elemento da arte eu deixo para vocês!
O que pode nos dizer sobre o trabalho de estúdio com Rogério Wecko? Quais as contribuições você enxerga que ele deu à sonoridade do Válvera em comparação aos dois discos anteriores?
Leandro: O Wecko foi o melhor produtor que poderíamos ter para o Cycle Of Disaster. Nós expressamos a nossa ideia sobre como queríamos que o álbum soasse, e ele deu a cara certa para as músicas. Ele conseguiu uma sonoridade mais crua e visceral para o Válvera, sem deixar de evidenciar também as sutilezas presentes nas composições, e quando ouvimos o resultado final espetacular do álbum, não poderíamos ter ficados mais satisfeitos.
Poderia detalhar um pouco sobre as recentes mudanças na formação? Como isso impactou o processo de composição e gravação deste novo disco?
Leandro: Eu já estou há dois anos na banda, então já não me considero mais recente. A sonoridade banda ao vivo está mais afiada do que nunca, e o Gabes Prado chegou para ficar. Ele é a peça que faltava para o Válvera, com sua versatilidade absurda no baixo. Essa mudança não afetou em nada a gravação, pois o Jesiel foi o baixista do álbum.
Sem dúvidas, a sonoridade de “Cycle of Disaster” é moderna, mas creio que as bandas clássicas ainda são referências para vocês, certo? Pergunto isso por causa de músicas como “Fight for Your Life”, “Bringer of Evil”, “All Systems Fall” e “The Damn Colony” que parecem frutos de compositores que nutrem tanta admiração por Death e Testament quanto por Iron Maiden e Megadeth.
Leandro: Com certeza! O Válvera valoriza muito suas origens, e a influencia dessas bandas que marcaram nossas vidas sempre estarão presentes nas nossas músicas, de uma maneira ou outra.
Por fim, agradeço novamente pela entrevista e fique à vontade para pontuar algo que queira mencionar fora das perguntas acima.
Leandro: Primeiramente, muito obrigado a vocês pela oportunidade, do Gavetas de Bagunças! Escutem o Cycle of Disaster, que está em TODAS as plataformas digitais, e o CD físico está a venda no site oficial do Válvera. E o anúncio mais importante: dia 4 de outubro, a noite, vamos fazer o show de lançamento do álbum, no Manifesto Bar! Vai ser transmitido ao vivo pelo YouTube, e quem quiser ir presencial, também pode. Colem em peso para ver as músicas ao vivo!
+ Leia nossa resenha de “Cycle of Disaster” aqui.
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