U2 – “The Joshua Tree” (1987) | Você Devia Ouvir Isto

 

“The Joshua Tree”, clássico quinto disco da banda U2, é nossa indicação de hoje na seção VOCÊ DEVIA OUVIR ISTOcuja proposta você confere nesse link.

Definição em um poucas palavras: Adulto, Cru, Classudo, Sombrio, Contra Tudo Isso Que Está Aí.

Estilo do Artista: Pos-punk/Pop Rock.

U2 - The Joshua Tree (1987, Island Records)

Comentário Geral: Estou muito longe de ser um fã de U2, achando, inclusive, que em seus últimos quinze anos de carreira, eles têm abusado do direito de se alocar em sua zona de conforto, algo inadmissível a uma banda que transpirava ousadia em álbuns como War [1983], The Unforgettable Fire [1984] Acthung Baby [1991].

Todavia, também estou no ponto médio do diametralmente oposto ao flanco daqueles que odeiam inveteradamente a banda, achando, ainda, que possuem tesouros escondidos aos não iniciados que não se aventuram em composições menos clássicas e/ou famosas, principalmente em álbuns como Boy[1980], October [1981]All That You Can’t Leave Behind [2000].

Entre todos estes exemplos existe um ponto da discografia da banda indefectível para mim: The Joshua Tree.

Acredito que muito da versatilidade e múltiplas faces que o quarteto irlandês apresentava em cada álbum até a primeira metade da década de 1990, fez com que muitos proclamassem para eles o título de Beatles da sua geração, mesmo que eu ainda ache esta comparação descabível e exagerada.

Mas entrando na onda da comparação, tomadas as devidas proporções, este The Joshua Tree seria seu White Album, onde tentam fugir das experimentações, da produção rebuscada, para algo mais cru, menos megalomaníaco e mais envolvente, forjando, talvez, o álbum mais eloquente de sua carreira, que expõe toda a sua genialidade pelos detalhes.

Mesmo assim, este é o álbum em que descobriram as maravilhas da tecnologia de estúdio em prol da maturação de sua melancolia e exploração pos-punk, trazendo mais da sensibilidade honesta e sutil beleza musical do estilo, do que sua forma febril e de abrasiva contestação.

Além disso, as performances individuais de Bono e The Edge são louváveis.

Enquanto o primeiro amadurecia seu discurso inconformista e ousava em suas interpretações, o segundo desenvolvia seu trabalho mais relevante para o instrumento dentro do pop rock, amalgamando simplicidades num resultado incisivo, minimalista e genial, que foge ao comum e que seria a base do estilo para as próximas décadas.

Muito desse aspecto se deve à busca, inédita na carreira da banda até aquele momento, de fugir das raízes do punk rock e entender um pouco mais das raízes folk, tanto europeias quanto americanas, forjando uma costura de rock, blues, country, folk, gospel, punk, ambient (sob a influência do produtor Brian Eno) e música experimental.

Tomarei a liberdade, de por um instante, começar minha análise deste álbum desconsiderando suas três primeiras faixas e começando por “Bullet The Blue Sky”, com toda a sua rusticidade desértica, de guitarras experimentais e vertiginosas, linhas vocais de um Bono que já sabia encaixar com maturidade sua ira dentro da melodia, em meio a uivos lascivos à lá Robert Plant e lisergias à lá Jim Morrison, além de uma solidez das linhas de baixo\bateria que alicerçam as peripécias das guitarras de The Edge.

O peso psicodélico desta faixa é tamanho que até mesmo o Sepultura gravou uma versão para ela (que você confere aqui).

Fechando o lado A, temos “Running To STand Still” que traz a calmaria pós-tempestade, com muita introspecção, guitarra slide na abertura e harmônica no desfecho, esbanjando sensibilidade musical.

Abrindo o Lado B, uma das composições mais interessantes da discografia da banda, “Red Hill Mining Town”, com base pulsante, refrão emocional e um belíssimo trabalho de arranjos que mistura melancolia e elegância pop, enquanto “In God’s Country” funde o U2 de antes com a sonoridade que identificaria a banda até o álbum Acthung Baby [1991], com a palhetadas frenéticas de The Edge e a batida bem marcada e cadenciada.

Além disso, o refrão desta canção é um dos melhores que a banda já compôs, alocado numa formatação folk que se repete em “Trip Through Your Wires”, com um leve paladar de Blues e aroma sutil de country, que, ao ser lapidada com um pouco de gospel, é o embrião da genial “Angel of Harlem”, que viria no próximo álbum, “Rattle And Run” [1988].

“One Tree Hill” talvez seja a peça menos brilhante desta obra, mas tem seus atrativos, assim como “Exit” evidencia que certos cacoetes experimentais ainda não haviam sido esquecidos, numa belíssima faixa dissonante e tempestuosa, que contrapõe o desfecho do álbum com a bela, densa e melancólica “Mothers of the Disappeared”, que introduz, em doses homeopáticas, os sintetizadores tão comuns à época, principalmente no detalhe final.

Só por estas composições o álbum já seria um clássico absoluto, mas lembra-se das três faixas que ignorei inicialmente?

Pois bem, são as épicas “Where The Streets Have No Name”, “I Still Haven’t Found What I’m Looking For” “With Or Without You” (esta o primeiro single da banda a atingir o primeiro lugar nas paradas americanas, sem solo de guitarra, melodias com sustentação de violino, construída sobre acordes cíclicos, engrandecida por um arpejo de teclado de Brian Eno e a faixa que, segundo The Edge, melhor faria a transição do álbum anterior para este), que dispensam comentários, apresentações e correlatos.

Por isso, se ainda não o fez, VOCÊ DEVIA OUVIR ISTO!

Ano:1987;

Top 3: “Bullet The Blue Sky”, “With Or Without You” e “In God’s Country”

Formação: Bono (vocal, violão e gaita), The Edge (Guitarras), Adam Clayton (baixo), Larry Mullen Jr. (Bateria).

Disco Pai:  The Beatles – White Album (1968).

Disco Irmão: R.E.M. – Document (1987).

Disco Filho:  Radiohead – Pablo Honey  (1993).

Curiosidades: Este álbum, cujo título original seria The Desert Song, fez um sucesso tão grande que levou a banda até a capa da revista norte-americana Time, algo só realizado por mais três banda à época: The Who, Rolling Stones e The Beatles.

Pra quem gosta de: Auto-reflexão, lugares simbólicos, pesquisar raízes musicais, discursos conscientes, cerveja Red Ale e um pouquinho de amor.

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