Electric Mob – Resenha de “Discharge” (2020)

 

Com “Discharge”, o Electric Mob chega clamando pelo trono do hard rock atual no Brasil.

Fundindo eras diversas do rock, a banda chamou a atenção da gravadora italiana Frontiers com o EP de estréia, “Leave A Scar” (2017), por onde lançam este primeiro full lenght.

Construído sobre riffs instigantes, seção rítmica consistente e linhas vocais poderosas, “Discharge” abre a discografia do Electric Mob com força e determinação, marcando uma posição firme no cenário nacional e internacional.

Electric Mob - Discharge (2020, Frontiers Music srl, Hellion Records)
Electric Mob – “Discharge” (2020, Frontiers Music srl, Hellion Records)

As múltiplas faces do rock são desconstruídas e reconstruídas nessas doze faixas, refletindo o amor do quarteto pelo estilo e instilando toda a sua impetuosidade enquanto gira o horizonte musical para algo maus crú e primal.

Até por isso, é fácil associá-los a nomes que trazem a estética setentista para a modernidade de uma forma mais incisiva, como Rival Sons, The Drippers, Royal Republic e Monster Truck.

As múltiplas influências do passado coexistem a cada momento e são transformadas pela energia das músicas, por sua vez amplificada pela produção de Amadeus de Marchi, que tirou qualquer traço anacrônico da musicalidade do Electric Mob.

“Devil You Know”, que chega após a introdução, vai te cativar de imediato, principalmente se você é fã de um hard rock explosivo e lascivo, guiado por um vocalista que não tem medo de soltar o gogó!

Aliás, o vocalista Renan Zonta é o grande destaque individual do disco, com timbre cativante e múltiplas referências que vão de Myles Kennedy a Glenn Hughes pela forma com que desenvolve suas linhas.

Na sequência, enquanto o instrumental desenha seus grooves provocantes e harmonias de guitarra insinuantes (carregadas de ensinamentos do blues) ao longo de faixas como “King’s Ale” , percebemos o cuidado com os detalhes em cada composição.

Claramente eles se preocupam com todas as partes das músicas, inserindo efeitos modernos ou nuances de country/southern rock, blues rock e até um pontual e disfarçado tom psicodélico (como na ótima “quase-balada” “Got Me Runnin'”) entre refrãos grudentos e arranjos enérgicos.

Mas o diabo mora nos detalhes e nesse caso a sequência das faixas foi um “feitiço que se virou contra o feiticeiro”.

A primeira parte de “Discharge” se encerra com “Far off”, prometendo um dos grandes álbuns de estreia que o Brasil já ouvira.

Afinal essa faixa traz aquele hard rock provocativo, injetado de adrenalina nas guitarras (talvez o melhor momento do guitarrista Ben Hur Auwarter no disco), força na cozinha e poder nos vocais.

Porém, à partir daqui a banda mostra certa inconsistência nas composições.

Talvez pelo contraste provocado pelas primeiras quatro faixas, a sequência com “Your Ghost” (uma balada com abertura à moda western que ficou meio brega, apesar do talento de Renan Zonta brilhar novamente), “Gypsy Touch” (com um groove funk rock um tanto forçado) e 123 Burn” (mais morna apesar do ótimo trabalho de baixo) quebram o ritmo do trabalho.

Veja bem, não estou dizendo que sejam músicas ruins, muito pelo contrário, elas possuem suas qualidades, mas é que o sarrafo ficou tão alto no início do disco que se renderem a certos clichês menores foi meio frustrante.

Essa observação ganha ainda mais força quando percebemos que tudo o que é desenvolvido nessas três composições é feito de forma melhor mais à frente.

Em “Higher Than Your Heels” (com um groove genuíno, baixo exuberante e naipe de metais precisos), “brand new rope” (explorando e experimentando alternativas de sua proposta musical) e “We Are Wrong” (junto com as quatro primeiras músicas aquilo que pensarei quando ler o nome Electric Mob), responsáveis por fechar o disco.

O poder das quatro primeiras músicas é tão grande que até “Upside Down”, que retoma a alta octanagem do disco, perdeu um pouco do entusiamo que me despertou quando foi lançada como single. Apesar de ainda ser uma pedrada certeira do Electric Mob.

No meu caso, que demorei a conferir o álbum na íntegra e tomei contato com os singles antes, podemos justificar a impressão pessoal quanto a “Upside Down” pela perda do elemento surpresa.

Ao mesmo tempo, pensando friamente, isso não impediu “Devil You Know” e “King’s Ale” de me empolgarem novamente.

Enfim, “Discharge” é um grande trabalho de estréia, que certamente servirá de cartão de visita para uma banda talentosa e com um potencial incalculável de evolução.

Vá Electric Mob, e diga ao mundo que o Brasil também tem hard rock de qualidade!

FAIXAS:

1. awaken
2. Devil You Know
3. King’s Ale
4. Got Me Runnin’
5. Far Off
6. your ghost
7. Gypsy Touch
8. 123 Burn
9. Upside Down
10. Higher Than Your Heels
11. brand new rope
12. We Are Wrong

FORMAÇÃO:

Renan Zonta (vocal)
Ben Hur Auwarter (guitarra)
Yuri Elero (baixo)
André Leister (bateria)

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