Tristania – “World of Glass” (2001) | Você Devia Ouvir Isto

 

“World of Glass”, clássico terceiro disco da banda TRISTANIA é nossa indicação de hoje da seção VOCÊ DEVIA OUVIR ISTOcuja proposta você confere nesse link.

Tristania - World of Glass (2001, 2021 Hellion Records)

Definição em um poucas palavras: gótico, pesado, etéreo, sinfônico.

Estilo do Artista: Gothic Metal

Comentário Geral: Musicalmente, “World of Glass”, terceiro disco da banda norueguesa Tristania é seu mais rico trabalho. Uma verdadeira obra-prima do gothic metal!

As nove músicas que completam seu repertório ampliaram ainda mais o horizonte musical da banda que havia dado um gigantesco salto de maturidade já no disco anterior, “Beyond the Veil” (1999).

Nesse sentido, “World of Glass” é uma continuidade daquele segundo disco onde abriam mais espaço para os aspectos orquestrados e os vocais em coro.

Os arranjos riquíssimos estavam mais variados enquanto mantinham o atrito de luz e sombra, peso e melodia, requinte e agressividade.

Ou seja, as características que chamaram a atenção desde seu primeiro e auto-intitulado trabalho ainda permaneciam intactas, mesmo que retrabalhadas com um novo foco.

Características essas que faziam do Tristania um dos maiores nomes do gothic metal na virada do milênio, mesmo que seus integrantes não quisessem ser assim classificados.

Porém, existiam mudanças significativas, principalmente na formação, afinal Morten Veland (guitarra e vocal) já não estava mais na banda quando lançaram “World of Glass”.

Ao lado de Kenneth Olsson (bateria) e Einar Moen (tecladista), Morten era um dos fundadores do Tristania, no ano de 1995, em em Stavanger, na Noruega.

Vibeke Stene, a talentosíssima vocalista e rosto marcante do Tristania só chegaria em 1997, pouco antes de registrarem a primeira demo tape, financiada pela própria banda.

À partir dali tudo seria muito rápido e naquele mesmo ano, após assinarem com a Napalm Records, lançariam “Widow’s Weed”, seu primerio full lenght.

Porém, após a turnê de “Beyond the Veil”, em janeiro de 2001, Morten deixava a banda, segundo sua versão não por vontade própria:

“Tristania se tornou grande muito rápido. Foi um período muito emocionante e interessante, é claro, e então, em janeiro de 2001, tudo acabou muito rápido para mim na banda.

“Eu não decidi sair, fui expulso da banda. Obviamente, eu realmente coloquei meu coração e minha alma na banda por todos aqueles anos. Eu era um dos caras que fundaram a banda. Eu fui o cara que surgiu com o nome Tristania, escrevi a maioria das músicas para a banda e cuidei das coisas. Foi desagradável quando fui expulso. Quando eu finalmente comecei a ver todo o trabalho duro que coloquei na banda dando resultados, fui colocado pra fora. Foi um período bastante difícil. Depois de alguns dias, tentei sacudir a poeira dos ombros e disse: ‘Foda-se’, e passei para a próxima etapa.”

Morten era parte importante da sonoridade do Tristania, principalmente nos vocais agressivos masculinos, mas sua energia seria dali em diante colocada no Sirenia.

“Wold Of Glass” se comparado ao anterior, “Beyond The Veil”, mostra bem como o Tristania de Morten era mais enraizado no black/death metal.

Após sua saída, num primeiro momento, a banda não buscou por um substituto e trouxe diversos vocalistas convidados para registrar as músicas.

O processo de substituição de Morten foi descrito por Vibeke na época:

“O Morten nos deixou alguns meses antes das gravações. Em vez de sacrificar nosso tempo procurando e ouvindo um substituto para Morten, decidimos nos concentrar nas gravações. Então, desta vez, queríamos um vocalista convidado para os vocais extremos. Pegamos Ronny porque o conhecíamos da turnê com o Trail Of Tears, então sabíamos que ele era capaz de cantar bem as músicas. Nesse ínterim, encontramos um substituto para o Morten, seu nome é Kjetil Ingebrethsen e ele tem uma ótima voz.”

E quanto aos vocais limpos ela também explicou:

“Østen Bergøy, que cantou as partes masculinas mais limpas em ‘World of Glass’ agora também é um membro regular do Tristania. Ele contribuiu com partes para todos os nossos álbuns e se integrou cada vez mais à banda, principalmente no novo álbum. Portanto, era mais do que natural tê-lo como membro regular também.”

Até por isso, as maiores mudanças na musicalidade do Tristania vieram na construção dos vocais, sendo em “World of Glass” o primeiro disco onde, de fato, Vibeke Stene está com sua voz no centro das músicas.

Essa característica acabou dando uma impressão mais melódica e acessível ao Tristania.

Lembre que os vocais de Vibeke Stene antes eram usados em segundo plano nas músicas do Tristania, em sobreposições e cânticos.

Em “World of Glass”, ao lado dos vocais guturais de Ronny Thorsen, a voz de Vibeke Stene ganhava mais brilho, não só por seu talento, mas pelo contraste entre ambos que credenciava o Tristania a ocupar o espaço que o Theatre of Tragedy abria ao se distanciar do heavy metal na época.

“World of Glass” foi gravado no Sound Suite Studio, na França durante e primavera de 2001, sendo lançado em setembro daquele mesmo ano e o trabalho em estúdio chama a atenção pela limpidez.

Os timbres e os desenhos sonoros aqui são tão cristalinos quanto a arte de capa sugere. Mesmo nas guitarras e no baixo encorpado, ou nas linhas de bateria quase sempre aceleradas,

Musicalmente, mesmo com todas essas mudanças na formação, o Tristania mantinha sua identidade musical, ao mesmo tempo que olhava para um horizonte mais diversificado.

Ou seja, aquela proposta romântica do gothic metal, de atritar a beleza dos vocais femininos e dos arranjos trabalhado com as sombras do metal extremo, principalmente do doom metal e do black metal, era mantida.

Porém, além das melodias bem trabalhadas pelos violinos de outrora, o Tristania abria espaço para elementos acústicos e alguma experimentação com elementos eletrônicos e industriais em todo o oceano de peso e densidade, que dão mais personalidade ao gothic metal da banda, como desenhado nos pormenores da inventiva “Crushed Dreams”.

Em “World of Glass” temos um Tristania que buscava possibilidades para melhor se distanciar do tom black/doom de seus primeiros discos, ao mesmo tempo que também não queria se aproximar dos arroubos progressivos que seus congêneres começavam a buscar naquela época.

Fato corroborado pela cadenciada “Wormwood”, umas das melhores músicas não só do Tristania, mas de todo o movimento gothic metal.

Por essa música também observamos que a saída encontrada pelo Tristania para se destacar num cenário já saturado foi ampliar as tonalidades góticas das passagens climáticas e limpas.

Buscaram, então, inspiração no gothic rock de bandas como Fields of the Nephilim e Sisters of Mercy, principalmente pelo maior espaço dado aos vocais limpos de Østen Bergøy e pelos estranhos acordes de piano usados aqui e ali.

Pode-se observar isso, também, em partes de “Tender Trip on Earth” (pelo espírito roqueiro e as melodias dos vocais limpos), “Deadlocked” (pela dramaticidade e baixo marcado numa bela balada), “Selling Out” (na estrutura e nos timbres), e na própria faixa-título, enquanto em “Lost”, quem brilha é o vocalista Ronny Thorsen, numa das melhores e mais experimentais músicas do disco.

Além disso, o já citado protagonismo da voz de Vibeke Stenne trouxe um clima etéreo às composições, tirando os traços de morbidez e decadência e elevando a música para algo mais iluminado, impressão amplificada também pelo maior uso de elementos sinfônicos e coros “angélicos”.

“The Shining Path” (a abertura épica, com toques de black metal melódico), “Tender Trip On Earth” e “World of Glass” (que funciona bem ao vivo, pela vibração e pela intensidade) foram as músicas escolhidas para entrar nos shows da banda. Pouco depois do lançamento do disco o Tristania embarcou numa turnê de divulgação pela Europa, ao lado do Rotting Christ e do Vintersorg.

Essa turnê ainda passaria por países da América Latina, onde o Tristania já havia conquistado um nome forte, incluindo o Brasil no roteiro.

Em 2003, o Tristania já estaria trabalhando em seu próximo álbum de estúdio, que viria a ser o mediano “Ashes” (2004), mas aí já é assunto para um outro texto.

Acredito que você devia ouvir “World of Glass” principalmente para entender uma parcela do que foi o gothic metal em seus melhores dias.

Aproveite que ele foi relançado no Brasil recentemente em formato slipcase pelo selo Hellion Records e confira esse disco de uma das melhores bandas do gothic metal noventista.

Ano: 2001

Top 3:  “Wormwood”, “Crushed Dreams” “Lost”.

Formação: Vibeke Stene (vocais), Anders Høyvik Hidle (guitarra e vocais), Rune Østerhus(baixo), Einar Moen (sintetizadores e programações), Kenneth Olsson (bateria), Østen Bergøy (vocais limpos), Ronny Thorsen (vocais guturais) e Pete Johansen (violino).

Disco Pai: Theatre of Tragedy – “Velvet Darkness They Fear” (1996)

Disco Irmão: Trail of Tears – “Profoundemonium” (2001)

Disco Filho: Sirenia – “At Sixes and Sevens” (2002)

Curiosidades: “World of Glass” traz o primeiro cover gravado em estúdio pelo Tristania para um álbum de carreira, estou falando de “The Modern End”, originalmente gravada pela lendária banda norueguesa Seigmen.

Pra quem gosta de: Angeologia, vinho branco, mudanças, clima frio.

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