LOU REED | O Peregrino do Caminho Selvagem.

 

Lou Reed, o peregrino do caminho selvagem do rock, se foi!

Num domingo, 27 de outubro de 2013, o tempo nos mostrava que sua incansável ação é implacável.

O mundo do rock ficara abalado com as notícias que começaram a circular no princípio da tarde sobre possível morte de Lou Reed, confirmada por seu agente pouco depois.

Controverso, polêmico, vanguardista e, principalmente, influenciador, Lou Reed esteve presente em algumas das maiores transformações dentro do cenário roqueiro.

Participou de diversos clássicos do estilo e lançou vários  marcos musicais estampando seu nome nas capas largas do LP’s, mesmo que os mesmo só fossem compreendidos tempos após o seu lançamento.

E como acontece muitas vezes, após a sua morte foi reverenciado como ídolo cult.

Os últimos tempos não tinham sido muito acolhedores com Lou Reed.

Ele passou um transplante de fígado ainda em 2013, no mês de maio, tendo cancelado diversos shows após a intervenção cirúrgica, com retorno aos palcos agendado para abril de 2014.

A esposa do artista revelou que a situação era realmente tão séria o quanto aparentava e que a morte estava próxima antes do transplante e apresentava suas expectativas quanto à saúde do marido como uma recuperação incompleta, mas que o possibilitaria, segundo ela, de “continuar a fazer suas coisas“.

 

Lou Reed: “Walking On The Wild Side”

Sempre na contra-mão do que pregava a cartilha do contexto musical em que vivia, Lou Reed estreou no mundo da música liderando, ao lado de Andy Warhol, o Velvet Underground, umas das mais influentes bandas do rock sessentista.

Os ares de 1967 estavam carregados do borrifado discurso flower power e a máxima do “paz e amor” era o tema principal de músicas viajantes, doces e com acordes suaves.

O cenário era então, propício a um chacoalhar que veio em uma embalagem branca que continha uma banana e a singela assinatura de Warhol, um dos principais nomes da pop art e da contra-cultura americana daqueles dias.

Assinando versos que compunham histórias sobre travestis, sadomasoquismo, drogas e cirurgias de mudança de sexo, Lou Reed se destaca em meio a tamanho marasmo roqueiro não só por suas letras, mas por suas guitarras com distorções e afinações fora do padrão.

Esta sua primeira fase, com o Velvet Underground, credita o seu ingresso como um grande nome do rock, embasado por álbuns como Velvet Underground & Nico, White Light/White Heat  e Loaded que contém a atemporal canção Sweet Jane.

Lou Reed - Velvet Underground John Cale Nico
Nico, Andy Warhol e Velvet Underground.

A primeira incursão solo de Lou Reed,com relevância, se deu no álbum Transformer de 1971. Classificar o álbum como diferenciado seria diminuir uma obra máxima do rock, que influenciou tanto musical quanto visualmente.

O fluxo contrário continuava com as críticas depreciativas dos especialistas em contraste ao número crescente de fãs. Transformer ajudou a consolidar o movimento glam rock (ou glitter rock) como uma de suas principais cartilhas, mas a figura de Lou Reed ficaria associada quase “eternamente” ao visual adotado em Berlin, seu próximo álbum solo, datado de 1973, que conta a história de dois viciados que se amam e vivem na cidade que nomeia a obra.

O visual carregado trazia muito couro, espinhos, símbolos nazistas  e cabelo curto. Uma dos trabalhos mais difíceis de Lou foi se desligar desta imagem sado-nazista. Infelizmente, a crítica e o público não estavam preparados para um disco com canções tão violentas e aura tão soturna e melancólica, fazendo da obra um fracasso.

Lou Reed
Lou Reed e seu visual carregado da fase “Berlin”.

Ao contrário do que possam pensar alguns ignorantes (não no sentido pejorativo da palavra) da obra deste contraventor musical, Lou Reed tinha a imensa capacidade de antecipar vertentes musicais que seriam sucesso posteriormente.

Seus álbuns com o Velvet Underground foram determinantes para toda uma geração que seria intitulada alternativa (bandas como The Stooges, Jesus And Mary Chain, Sonic Youth, Nirvana, Pixies, Strokes e White Stripes) décadas depois, sem contar a importância do primeiro álbum (Velvet & Nico) para o surgimento das primeiras bandas de punk rock.

Sua carreira solo é, por completo, tão inspiradora e os seus dois primeiros álbuns, já supracitados, foram importantes para consolidar o glam rock e Berlin antecipava em quase uma década o que bandas como Joy Division, Bauhaus, Sisters Of Mercy e toda a geração batcave faria.

Como se não fosse o bastante, Lou Reed ainda contribui com grandes nomes do rock como David Bowie, Iggy Pop e New York Dolls, seja em parcerias ou simplesmente em influências.

Sua discografia oficial extrapola as três dezenas de lançamentos e tem como destaques Rock N’ Roll Heart (1976), The Blue Mask (de 1982 e que traz referência a James Joyce, um de seus autores favoritos ao lado de Allan Poe e Raymond Chandler), Legendary Hearts (1983), o clássico New York de 1989, onde já abusava do estilo spoken word e seu último lançamento The Raven de 2003.

Nos últimos anos se envolveu em parcerias (algumas com resultados interessantes e outras nem tanto) com nomes do quilate de Metallica, Gorillaz e The Killers.

Lou Reed, só se vive duas vezes…

Sim, o título está correto. Lou Reed já “morreu” antes.

A história tem seu início numa segunda-feira, 7 de maio de 2001. Uma mensagem eletrônica percorreu a grande maioria das redações dos principais veículos de comunicação dos EUA, onde anunciavam que no dia anterior, um domingo, Lou Reed teria morrido em seu apartamento.

Tal e-mail, travestido de mensagem oficial da agência Reuters, intitulado “Lou Reed, 57, sucumbe aos vícios”, informava que o astro do rock fora vítima de uma overdose de Demerol, um tipo de analgésico e trazia declarações de amigos pessoais como David Bowie e a secretária de estado americano, Madeleine Albright.

Foi justamente a declaração da secretária que levantou suspeitas quanto à inveracidade da notícia, apesar do erro crasso da idade de Lou Reed, que havia completado 58 anos, que fora desconsiderado pelos repórteres que acreditaram completamente em seu conteúdo.

Com a possibilidade de um furo jornalístico em mãos, alguns desconsideraram as comprovações necessárias para uma notícia tão séria e diversas rádios em território americano divulgaram a morte de Lou Reed, para retificar depois.

Mais tarde o agente do suposto morto famoso foi à público desmentir o boato e dizer que Lou Reed estava passando muito bem em Amsterdã.

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