Nirvana | Sobre “Smells Like Teen Spirit”, o hino do Rock noventista!

 

Antes de tudo, é bom deixar claro que não sou um fanático pelo Nirvana. Em verdade, não posso nem dizer que chego a ser fã desta banda. Enxergo a trupe capitaneada por Kurt Cobain, um príncipe feérico em trajes rotos, superestimada no meio musical, indo pouco além de um mimetismo “sexpistolsniano”.

Digo um pouco além, pois a discografia é mais extensa apesar das canções do “grandioso” “Nevermind” serem compostas utilizando a mesma fórmula da sua faixa de abertura. Talvez a única canção que fuja deste molde se torna uma das melhores composições do “gênio” Kurt Cobain, a soturna “Something In The Way”.

Alheio ao meu viés avaliativo, que tangencia meu gosto pessoal, a verdade é que aquela faixa, que abre o álbum, lançado em setembro de 1991, é o símbolo da geração que vinha saturada da melosa e afetada geração anterior, colorida pela new wave ou tomada da superficialidade das bandas de hard rock.

“Smells Like Teen Spirit” é o último grande hino do rock e hoje quero comentar um pouco sobre este marco, sem algumas blasfêmias (aos olhos de alguns) inspiradas por minhas predileções musicais e perpetradas nas linhas anteriores.

No dia 11 de janeiro de 1992, o álbum “Nevermind” já era aclamado como um novo clássico moderno vendendo rápido sua primeira tiragem. O Nirvana começava a galgar os degraus da fama que poucos nomes conseguiram atingir e nesta data tudo seria alavancado.

O vício em heroína já tomava conta de Kurt Cobain e os outros membros da banda temiam pela apresentação daquela noite no famoso programa de televisão Saturday Night Live.  Tendo se aplicado de modo controlado, com o objetivo de estar sóbrio na hora da apresentação, o líder do trio se mostrava melancólico, chateado e inacessível pouco antes de entrar em cena.

Porém, isso não iria atrapalhar o desempenho avassalador que culminaria em um beijo na boca entre Kurt e Krist Novoselic, ao fim do programa. Claro que este fato ficou marcado como um ato punk em sua melhor forma, mas a execução energética e sóbria para “Smells Like Teen Spirit” arrebatou a juventude que ainda não havia sido atingida pelo êxtase musical “nirvânico”, que se retirava do underground musical.

Menos de cinco meses após seu lançamento, o novo álbum do trio de Seattle atingia o público que clamava por microfonias e instrumentos quebrados no horário nobre, lembrando um The Who em trajes adolescentes.

Naquela noite, como que para celebrar a coroação da banda no melhor estilo sexo, drogas e rock n’roll, Krist e Ghrol foram à festa pós-show e Cobain, que não se fez presente à comemoração, se entupiu de heroína até ter uma overdose.

Tudo isto impossibilitou Courney Love de lhe contar o que era recém-descoberto por ela. O príncipe junkie do grunge iria ser papai. Assistindo àquela apresentação nos dias de hoje, ninguém imaginaria que pouco tempo depois a canção seria desdenhada pelo líder Cobain.

Segundo ele, ainda tinha apreço por ela, mas era embaraçante executá-la ao vivo, tendo declarado ainda: “eu nem me lembro do solo de ‘Teen Spirit’, demoraria uns cinco minutos para lembra-lo. Eu não estou interessado nisso.”

Esta declaração era motivada pelo seu julgamento de ter canções melhores que aquela para seus shows e que a plateia se concentrava tanto nela por sua exaustiva execução via MTv.

Em sua avaliação, “Drain You” era uma canção muito superior a “Smells Like Teen Spirit”. Esta atitude, apesar de parecer estranha, era completamente condizente com algumas das declarações de Kurt.

Por exemplo, ele teria dito que “muitos de nossos fãs são pessoas que não entendem nada do que é música underground. Não posso esperar que todos entendam a mensagem que estou passando”.

Sendo um representante do underground no mainstream (por mais contraditório que possa parecer), nada mais natural que renegar sua maior canção pop.

 Aos mais afoitos que bradam contra a qualificação pop para esta canção, lembremos que este termo é apenas uma corruptela do termo popular. Se isto não bastasse, as influências musicais para esta composição foram todas buscadas na cena pop.

Kurt era um fã de Beatles, Pixies, R.E.M. e ao compor “Smells Like Teen Spirit” buscava a canção pop perfeita. Para isso, juntou em seu caldeirão a transição de suavidade e calmaria para peso e alto volume que era usual nas canções do Pixies, com um riff grudento, fortemente inspirado pela canção “More Than a Feeling”, do Boston. Tudo isso moldado pela estética de “Louie Louie”, dos Kingsmen.

Nas palavras de Cobain: “eu estava basicamente tentando encarnar o Pixies. Nós usamos o seu senso de dinâmica, sendo suave e quieto e então pesado e alto”. A primeira impressão de Novoselic não foi das melhores e teria bradado que aquela canção era ridícula.

Com a confiança em suas composições que o fez abandonar o desejo de apenas tocar guitarra rítmica, relegado às laterais do palco, Kurt Cobain obrigou os dois membros do Nirvana a trabalhar na canção por uma hora e meia.

Acredito que se esta canção não houvesse sido composta, a derrocada do rock no mainstream teria se dado uma década antes. Inegavelmente, “Smells Like Teen Spirit” deu um sopro de vida ao rock e sua importância foi reverenciada, posteriormente, por Tori Amos, Melvins (banda que Cobain havia trabalhado como roadie), Paul Anka e Willie Nelson.

Quando, em 1991, a vocalista do grupo Bikini Kill escreveu numa parede a piada “Kurt Smells Like Teen Spirit”, o bater de asas da borboleta se iniciou e na cadeia de acontecimentos posteriores: Kurt Cobain gostou da brincadeira, tomou o nome para sua canção, lhe deu um refrão com uma de suas expressões marcantes (“here we are now, entertain us”), culminando no furacão avassalador para a indústria musical.

A partir daqui, cravaram o grunge como um estilo musical a ser respeitado. Pop, punk, juvenil ou antológica, a história nos mostrou que a ridícula canção (nas palavras do baixista) se tornou o hino da juventude noventista, como um Bart Simpson desenhado por notas musicais.

Seu impacto foi tão grandioso que esta canção levou não só uma banda ao estrelato, mas um conjunto delas por representar um estilo musical.

Leia Mais:

Dica de Livros Sobre o Tema:

Outros Artigos que Podem Ser do Seu Interesse:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *