Do Metallica ao Exodus, passando por Testament, Death Angel e Forbidden, a cena Thrash Metal da Bay Area foi o lar de algumas das bandas mais influentes do heavy metal. Descubra 11 discos de bandas essenciais que você não pode perder.
Este artigo é para você que acredita que só existe o Big 4, quando falamos de Thrash Metal. A cena thrash metal da Bay Area na década de 1980 foi um foco de criatividade e inovação dentro do heavy metal, produzindo algumas das bandas mais icônicas da história do gênero. Dos sons pioneiros do Metallica à energia feroz do Exodus, passando pela técnica apurada do Death Angel e do Heathen até a classe agressiva de Testament e Forbidden, essas 11 bandas essenciais definiram o som do thrash metal e continuam a inspirar novas gerações de headbangers.
O que é o Thrash Metal da Bay Area
Antes da efervescência de velocidade e euforia do Thrash Metal, o cenário metálico estava forrado de cópias do Van Halen, ou bandas que faziam mais do mesmo dentro do heavy metal clássico. Foi então que o Venom apareceu e mostrou que novas abordagens musicais eram possíveis, chocando uma geração com seu álbum Black Metal, de 1982.
Mas isso era do outro lado do Atlântico e, nessa época, as bandas não cruzaram tão facilmente de um continente a outro. Além do mais, o Venom tinha uma carga satânica em sua mística que espantava alguns fãs de heavy metal, por seu caráter explícito. O lançamento do álbum “Kill ‘em All”, do Metallica, deu força a uma cena que daria muitas alegrias ao mundo do heavy metal, ao combinar a brutalidade do Venom com elementos variados da música mais agressiva, mas retirando, num primeiro momento, o caráter satânico das canções.
As bandas da Bay Area formavam um grupo bem diferente da afetada e enfeitada cena musical de Los Angeles, trazendo um visual inspirado nas bandas da NWOBHM e temas que fugiam dos clichês do heavy metal ou das exaltações às banalidades do hard rock. A base deste novo grupo de bandas ficava na cidade de São Francisco, que formava parte da região metropolitana que envolve nove cidades que se situam pero da falha de San Andreas.
A cidade de São Francisco sempre foi o berço de inovadores correntes culturais como a cena roqueira sessentista (Creedence Clearwater Revival, Santana, Sly Stone e Blue Cheer) e a comunidade do punk capitaneada pelo Dead Kennedys. Após a lançamento de “Kill ‘em All”, em 1983, várias bandas que coexistiam com o Metallica se sentiram impulsionadas a mostrar ao mundo seu andamento acelerado, agressivo e energético, com letras altamente urbanas e fugindo do satanismo gratuito. Após 1983, bandas como Exodus, Forbidden, Defiance e Testament viriam a sedimentar um dos caminhos para a prática do thrash metal.
11 discos essenciais do Thrash Metal feito por bandas da Bay Area que você precisa conhecer
Hoje, vamos selecionar onze bandas, em dez álbuns que formariam uma discoteca básica para o Thrash Metal Bay Area. Com o intuito de apresentar mais bandas além das costumeiras, a única regra imposta nesta lista é não destacar mais de um álbum da mesma banda.
1) Metallica: “Master Of Puppets” (1986)
Este álbum marca o ápice do Metallica, com composições bem ajambradas e mostrando como um som poderia ser melódico e ao mesmo tempo pesado. A estrutura musical fugia do óbvio e saltava aos ouvidos que realmente este é um clássico não só do Thrash Metal Bay Area, mas sim de todo o rock pesado. Desde a velocidade e brutalidade de “Battery”, passando por “Master of Puppets” (uma das melhores composições do rock em todos os tempos), até “The Thing That Should Not Be” (inspirada por um conto de H. P. Lovecraft), a certeza do momento de inspiração mágica em que viva o quarteto é inabalável.
A grande pérola deste clássico é “(Welcome Home) Sanitarium”, com seus quase 7 minutos onde a banda descreve a agonia de um interno em um sanatório, tudo envolto em uma composição belíssima com solos inspirados e um final apoteótico. Na versão em vinil, “Disposable Heroes” abre o lado B bombasticamente e se mostra a composição onde melhor se casa a técnica, peso, velocidade e melodia. O refrão é preciso e perfeito. O álbum ainda finaliza com as não menos clássicas “Lepper Messiah”, a instrumental “Orion” e “Damage Inc”.
2) Testament: “The New Order” (1988)
Esta banda é um dos pilares do Thrash Metal Bay Area, tendo começado com o nome de The Legacy, numa época em que Steve Zetro Souza ainda fazia parte de sua formação. O primeiro álbum, de 1987, batizado com o primeiro nome da banda, já trazia suas características básicas: guitarras incisivas e carregadas de técnica e versatilidade, vocal que alia brutalidade e atitude, além da seção rítmica quase tribal.
“The New Order” é o segundo álbum do Testament, que eleva estas características à máxima potência em clássicos como “Disciples Of The Watch”, “The New Order”, “The Preacher”, “Eerie Inhabitants” e “Trail By Fire”. Na época em que este álbum foi lançado, a forma como a banda conseguiu aliar peso e melodia e faziam-os únicos. Esta formatação musical vem da influência que o guitarrista Alex Sckolnick sofria do recém descoberto (por ele) mundo do jazz, resultando em arranjos mais intrincados e progressões pouco usuais ao estilo. Destaque ainda ao cover para “Nobody’s Fault”, do Aerosmith, que não saiu no vinil original, mas está presente nas versões em CD e K7.
Abaixo você tem ofertas de edições de “Master of Puppets”, do Metallica e “The New Order”, do Testament. | ||
3) Exodus: “Fabulous Disaster” (1989)
Sim, o primeiro álbum do Exodus, “Bonded By Blood”, é clássico, visceral e arrebatador. Mas “Fabulous Disaster” é meu álbum preferido da banda. Desde que ouvi a pedrada “The Toxic Waltz”, cheia de groove, peso e refrão potente, meu apreço por este álbum foi se tornando cada vez maior. Este segundo álbum com Steve Zetro Souza nos vocais (ele havia gravado o anterior “Pleasures Of The Flesh”), trouxe clássicos como “Like Father, Like Son”, “Fabulous Disaster”, “The Last Act Of Defiance” e os espetaculares covers para “Overdose” (AC/DC) e “Low Rider” (clássico funk da banda War), além da já citada “The Toxic Waltz”.
O grande brilhantismo deste álbum está na forma como aliaram a velocidade do primeiro álbum, com a cadência de riffs pesados e refrões grudentos. Neste sentido, “Fabulous Disaster” evidencia a qualidade dos músicos que não temem avançar suas fronteiras musicais, experimentando novas texturas sonoras. Vanguardista dentro do Thrash Metal Bay Area e, ao meu ver, melhor disco do Exodus.
4) Forbidden: “Forbidden Evil” (1988)
Uma da formações mais emblemáticas do Thrash Metal Bay Area é, também, uma das mais ignoradas pelas enciclopédias metálicas. Sua dupla de álbuns lançados entre 1988 e 1990 é discoteca básica para quem curte um heavy metal pesado, com linhas melódicas criativas e base empolgante. Um destes dois álbuns é “Forbidden Evil”, título este que era o nome da banda, alterado para não serem relacionados com o movimento Black Metal.
A alquimia entre as guitarras de melodias dilacerantes e os vocais impressionantes davam a tônica da música do Forbidden, fato que já podia ser observado nas primeiras demo-tapes. “Forbidden Evil” é um álbum difícil de ser descrito em consequência de seus ricos detalhes, que saltam aos ouvidos em cada audição, mas a bateria de Paul Bostaph brilha como poucas vezes se viu na história do metal, em faixas rápidas e recheadas de riffs como “Chalice of Blood”, “Forbidden Evil” e “As Good As Dead” que foram co-escritas por Robb Flynn, que manejou as seis cordas da banda nas demos anteriores e, mais tarde, seria o líder do aclamado Machine Head.
Um álbum que deve ser atentamente ouvido, pois é um dos poucos álbuns que conseguiu encontrar o ponto de equilíbrio entre agressividade, rapidez, melodia e técnica sem margem de erros. Não deixe de conferir ainda as canções “Through The Eyes Of Glass” e “March Into Fire”.
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5) Death Angel: “Act III” (1990)
Eis o álbum mais controverso da lista. Eis a maior pérola da lista em termos de musicalidade, maturidade e sensibilidade artística. “Act III”, como o próprio nome nos diz, é o terceiro álbum do Death Angel, banda que já havia conquistado o cenário metálico americano com dois clássicos, “The Ultra Violence” (1987) e “Frolic Through The Park” (1988), mostrando como praticar um Thrash Metal violento, rápido e agressivo, todavia, com maturidade e extrema consciência musical.
Liderados pelo guitarrista/compositor Rob Cavestany, a banda investia em um som dinâmico e extremamente técnico, que ganhou sua máxima exposição em Act III, um dos melhores álbuns da história do Thrash Metal Bay Area, colocando a banda como uma das pioneiras do estilo dentro das grandes gravadoras. A característica mais marcante deste álbum talvez seja falta de preocupação com as condições limítrofes que o estilo que praticavam impunha, adicionando doses de funk e fusion e investindo em passagens e composições acústicas.
Dentre os destaques, “Veil Of Deception”, “A Room With a View”, “Seemingly Endless Time”, “Stop”, “Disturbing The Peace” e “Falling Asleep”. Não deixe de conferir esta obra sem par. Um dos mais classudos álbuns da história do Heavy Metal.
6) VIO-LENCE: “Eternal Nightmare” (1988)
Pouco mais de meia hora de total destruição e brutalidade. É isto que o Vio-Lence nos oferece sem descanso e de modo impiedoso. Praticando uma sonoridade com um pé no Death Metal, a banda contava com Robb Flynn, egresso do Forbidden, nas guitarras quando registrou estas faixas históricas, três anos após sua formação na cidade de São Francisco.
Muito da energia e virilidade sonora advinha da dupla incansável de guitarristas que, além de Robb, ainda trazia Phil Demmel (dupla que mais tarde se juntaria novamente no Machine Head), formatando uma parede sonora que estapeia o ouvinte durante as sete clássicas faixas que compõem o álbum. Dentre elas, podemos destacar a furiosa “Serial Killer” (com inspiração punk), a épica faixa-título, a cadenciada e técnica “Calling The Coroner” e o desfecho de tirar o ar com “Kill On Command”.
O Vio-Lence se difere das demais bandas da cena por ser a que mais investe em peso, agressividade e brutalidade, deixando a técnica como veículo útil para irrigar sua música com estas características. Ou seja, não espere por partes acústicas ou power ballads, aqui é o peso quem manda.
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7) Heathen: “Breaking The Silence” (1987)
Ouvindo as canções deste clássico do Thrash Metal Bay Area, vemos que o Heathen bebeu muito nas fontes iniciais do estilo, principalmente em termos estruturais das canções e produção. Analisando friamente, a qualidade técnica da banda resultou em um melhor produto final do que o apresentado pelas bandas que desbravaram o estilo, manuseando melhor as influências da NWOBHM, tão latentes nas composições aqui presentes, principalmente no desfile incansável de riffs.
O grande diferencial do Heathen são as doses homeopáticas de linhas progressivas, diferenciando sua sonoridade das demais bandas contemporâneas. Basta uma primeira audição em faixas como “Goblins Blade”, “Death By Hanging”, “Open The Grave” e “World’s End” para enumerar este álbum como um dos clássicos indiscutíveis do estilo. Na formação, destaque a Lee Altus, guitarrista que mais tarde integraria o Exodus, e Carl Sacco, que viria a fundar o Metal Church.
8) Laäz Rockit: “Annihilation Principle” (1989)
A biografia do Laäz Rockit se inicia em 1982, sendo que lançou seu primeiro álbum em 1984, intitulado “Cities Gonna Burn”. A pressa da juventude fez com que registrassem um álbum ainda sem ter encontrado sua própria música, mesmo muitos críticos enaltecendo este como um dos clássicos iniciais do estilo. No início, a banda oscilava entre o hard rock e o speed metal, sendo que só viriam a encontrar suas características marcantes no terceiro álbum, “Know Your Enemy” (1987).
“Annihilation Principle” é o quarto e mais conciso álbum da banda, onde apresentam um peso acachapante, mesclado por elementos de heavy metal tradicional, principalmente em alguns riffs e solos, além de um leve tempero punk (evidenciado pelo cover de “Holiday In Cambodia”, do Dead Kennedys), que dá um paladar diferente às canções aqui elencadas. Canções como “Chain Of Fools”, “Mob Justice”, “Shadow Company”, “The Omen” e “Mirror To Madness” mostram uma banda amadurecida e com confiança, além de serem faixas onde o headbangin’ é quase involuntário.
9) Hirax: “Hate, Fear and Power” (1986)
Afirmo sem medo de injustiças a outros nomes do estilo que Katon W. De Pena, vocalista e líder do Hirax, é o maior guerreiro da história do Thrash Metal Bay Area. Contra todas as adversidades ele mantem a banda ativa, sendo referência na pioneira mistura de Thrash Metal com o Hardcore, mesmo a banda não sendo tão lembrada quanto S.O.D., D.R.I. ou Suicidal Tendencies.
“Hate, Fear and Power” traz oito canções, em pouco mais de quinze minutos, fundindo o Thrash Metal com o underground punk, muito influenciado pelo baterista que vinha do já citado D.R.I.. Os trinta segundos da faixa-título que abre o álbum são sintomáticos aos tempos que viriam para o Heavy Metal, onde a atitude, brutalidade e velocidade seriam itens imprescindíveis, desprezando a técnica mirabolante excessiva.
O assalto musical continua forte e direto em pedradas como “Unholy Sacrifice”, “The Plague” e “Lightning Thunder”, ou nas mezzo-cadenciadas “The Last War” e “Imprisioned By Ignorance”. São 15 minutos de pura energia metálica que credencia a banda como uma das mais injustiçadas dentro cena, tendo transitado livremente dentro das cenas da Bay Area e de Los Angeles. Como reconhecimento por tamanha importância é o Hirax quem figura na imagem que abre este artigo.
10) Mordred: “Fool’s Game” (1989)
Acredito que o Mordred seja a banda mais diferenciada dentro das elencadas nesta discoteca básica do Thrash Metal Bay Area. Apesar de terem modificado sua sonoridade com o passar dos anos, quando do lançamento deste primeiro álbum eles ainda investiam em um Thrash Metal com altas doses progressivas.
As canções são poderosas e não se limitam aos padrões do Thrash Metal. Ótimos exemplos são “State Of Mind”, que abre o álbum esbanjando técnica e criatividade, “Everyday’s a Holiday” com tempero funkeado, a metálica “Spectacle Of Fear”, que nos lembra de nomes como Testament e Anthrax, além da pancadaria de “Spellbound”.
Um álbum difícil de explicar em palavras, o que nos fornece uma urgência em ouvi-lo para experienciar todos os detalhes e texturas musicais que ele tem a nos oferecer. Para deixá-lo ainda mais impelido a conferir esta obra-prima do Thrash Metal, a revista Kerrang o enumerou dentro dos 100 álbuns que você precisa ouvir antes de morrer.
11) Possessed: “Seven Churches” (1985).
Este foi álbum responsável por avançar as fronteiras do Thrash Metal. Até por isso muitos creditam “Seven Churches”, primeiro álbum do Possessed, como o primeiro passo rumou ao death metal. Teria sido a primeira banda de death metal da história? Existem argumentos à favor e outros contrários, mas a verdade é que esse disco era pesado, rápido e blasfemo demais para o thrash metal, mas ainda não era definidor em todas as suas bases para o que viria a ser o death metal, como ouvimos nos primeiros discos de bandas como Master e Death, por exemplo.
O fato é que com “Seven Churches” o Possessed implementou vocais mais agressivos, acelerou o máximo as suas canções e influenciou 60% dos nomes elencados nesta lista. Petardos do metal extremo como “The Exorcist” (onde temos um prenúncio dos “blast beats”), a assustadora “Pentagram”, “Twisted Minds” e a violenta “Death Metal” mostravam que o Possessed poderia ser mais rápido e mais satânico que o próprio Venom.
O álbum não dividiu opiniões apenas quanto ao seu pioneirismo no death metal, mas também dos críticos de sua época e dos fãs. Era complicado descreve-lo e encaixa-lo nos rótulos da época. “O Possessed era extremo demais”, como bem disse o vocalista Jeff Becerra, e a verdade é que poucos entenderam o disco num primeiro momento, mas o tempo se encarregou de mostrar o tamanho da influência que aquele disco teria no mundo do heavy metal.
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