Resenha | Thievery Corporation – “The Temple of I And I” (2017)

 

“The Temple of I & I” é o oitavo álbum de estúdio do duo Thievery Corporation, lançado em 10 de fevereiro de 2017 nos Estados Unidos pela Eighthenth Street Lounge Music.

Thievery Corporation - The Temple of I And I (2017)

Um dos discos pelos quais mais esperava em 2017 suscitava duas confissões.

A primeira é que a música jamaicana nunca foi uma de minhas predileções e assumo que aquela guitarra percussiva do reggae me irritava.

Em segundo confesso que ao ser perguntado sobre gostar de Daft Punk, penso que o Thievery Corporation é bem melhor!

Sei que a comparação entre ambos é quase impossível, mas em termos de grandiloquência eletrônica o Thievery Corporation está anos-luz à frente.

Sendo assim, quando eu soube que a Jamaica seria o conceito musical do trabalho que se seguiria após o indefectível “Saudade” (2014), fiquei com uma pulga atrás da orelha, mesmo confiando na corporação da música eletrônica capitaneada por dois americanos oriundos de Washington.

O álbum de 2014 trazia como conceito a bossa nova, o que forjou um de seus álbuns mais interessantes, misturando o gênero com música eletrônica, jazz e intérpretes fora do eixo de língua inglesa, ganhando em personalidade e elegância musical, o que temia não encontrar em “Temple of I & I”.

Pois bem! Me enganei redondamente.

O que temos neste trabalho é uma reimaginação das sonoridades jamaicanas pelas texturas eletrônicas, com detalhes muito bem contextualizados por samples e uma mistura de Novo Dub, Hip Hop, Trip Hop e Ambient, que inclusive dialoga com o álbum anterior nas participações de Lou Lou Ghelichkhani, Elin Melgarejo e Shana Halligan, em faixas como “Time + Space”, “Love Has No Heart”, “Lose To Find” (a menor faixa do álbum), respectivamente.

Uma ponte bem vinda entre conceitos tropicais, mas de natureza musical diferentes, dentro da exploração Trip Hop dotada de lisergia Hip Hop, cadenciada e viajante em certos momentos, ou mais inquisitiva noutros, sem perder o requinte em ambos os casos.

E neste campo mais Hip Hop estão as melhores composições do álbum, principalmente quando temos as participações de Raquel Jons (com “Letter to the Editor” “Road Block”, mais cruas e de rusticidade envolvente em sua voz, fatalmente a grande estrela da companhia) e de Mr. Lif (nas modernamente requintadas “Ghetto Matrix” “Fight To Survive”, com um “q” de soul/jazz).

Instrumentalmente o duo mergulha estas particularidades musicais jamaicanas em suas experimentações de sonoridades e texturas, construindo um trabalho de cores bem psicodélicas e viajantes, mesmo nos momentos de maior teor pop/reggae, com destaque às parceria com Notch (como em “Strike the Root”, True Sons of Zion” “Weapons of Distraction”).

Os arranjos estão pincelados de detalhes nas músicas familiares e acessíveis, mas ao mesmo tempo soando investigativas e ousadas, principalmente nos temas instrumentais que trazem destaques como a faixa-título (com claras remissões ao Vangelis) ou no groove de “Let The Chalice Blaze” (uma das três melhores do disco).

Em suma, desta vez temos uma música eletrônica mais borbulhante, ao mesmo tempo que climática e contemplativa, por batidas viajantes, ecos vertiginosos e groove controlado pelo reverb perene, adornado por tonalidades estílicas da música jamaicana representada por músicos e letristas do país.

Pode não ser o grande álbum da carreira do Thievery Corporation, mas mantém a alta qualidade e maturidade dos últimos trabalhos, além de apresentar ao menos três músicas que brigam pelos lugares de destaque na carreira do duo, à saber “Let The Chalice Blaze”, “Road Block” “Fight To Survive”.

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