Quando escrevi sobre “Sometimes The World Ain’t Enough” (2018 – e que você pode ler aqui), disco anterior do Night Flight Orchestra, o adjetivo que usei para a banda foi: um fenômeno!

E com a chegada de “Aeromantic” eu só posso reforçar isso, pois em cada lançamento eles conseguem se superar e criar algo diferente, mas sem mudar a fórmula. Aliás, reforçam cada vez mais a imagética oitentista e setentista com glamourosos motivos aeronáuticos.

A abertura “Servants of the Air” explode com palhetadas de guitarras sobre um ritmo frenético, como um aeronave executando manobras à toda velocidade, numa vibe que vai nos lembrar (eu disse lembrar, não copiar) o Kansas e o Styx.

Essa música traz um proto-metal, mezzo AOR, mezzo prog, que me fez lembrar do espetacular “Skyline Whispers” (2015), segundo disco da banda, e sua pegada mais crua. Isso, claro, sem deixar de lado a evolução que tiveram nos dois últimos discos.

Outra faixa que também nos trará essa impressão mais roqueira é a que dá título ao disco, com seu groove funkeado marcado no baixo e muita influência dos Rolling Stones nas guitarras, além da ótima “Taurus” e da pontualmente progressiva “Dead Winter”.

É impressionante a capacidade que essa banda tem de conjurar melodias à partir dos ecos do passado, aqueles que te dão a certeza já ter ouvido em algum lugar, mas não sabe onde, e ao mesmo tempo imprimir tanta identidade em suas composições.

Se bem que a melodia principal de “Divinyls” (esse título é sensacional) me lembrou muito a do refrão de “Good Karma”, faixa-título do último disco do Roxette. Ou seja, essa música com ganchos melódico delicioso mostra como os caras conseguem soar pop, mas sem perder a tenacidade hard rock.

Na sequência, “If Tonight Is Our Only Chance” traz algo ainda mais pop para o jogo, como se o ABBA se fundisse ao Foreigner, enquanto “Transmission” vai te lembrar uma música do Blondie (com direito a melodia disco music ao violino à cargo de Rachel Hall) tocada pelo Boston.

Como se isso não fosse suficiente, “This Boy’s Last Summer”, uma das melhores músicas do disco, funde o A-Ha com o The Clash e “Carmencita Seven” parece uma música tirada de uma trilha sonora alternativa de um filme como “Ruas de Fogo”, “Flashdance”, ou “Falcão – O Campeão dos Campeões”.

Por essas músicas, a impressão que tenho é que “Aeromantic” é a melhor parte de uma proposta iniciada em “Amber Galactic” (2017), ao mesmo tempo que soa como uma transmissão perdida de uma antiga rádio FM.

Aliás, fazendo um exercício absurdo de imaginação, me parece que o Night Flight Orchestra é fruto de algum abençoado que por um conjunção quântica, ou anomalia temporal,  conseguiu “sintonizar” alguma rádio FM de um universo paralelo que parou nos anos 1980, e decidiu montar uma banda para executar o que dali ouvia.

Claro que isso é um exercício absurdo (talvez eu esteja lendo muito Stephen King ou assistindo muita coisa de scifi), mas não deixa de ser um exercício interessante que define bem o que eles criaram em “Aeromantic”.

Outra coisa que chama a atenção é que se comparado aos dois discos anteriores eles estão mais sóbrios e até mais melancólicos em certos momentos nostálgicos. Fatalmente isso dá um senso de maturidade ao disco produzido pela própria banda e por Thomas ”Plec” Johansson,  também responsável pela masterização. Completando a ficha técnica, a mixagem ficou para Sebastian Forslund.

É uma sonoridade clichê a do NFO?

Sim, mas é também muito envolvente e elegante. Pode parecer paradoxal o que vou dizer, mas o Night Flight Orchestra possui uma forma muito original de usar os clichês. Entende o que quero dizer?

Pegue “Curves”,  por exemplo. Pra mim essa é a melhor música do disco! Não por acaso ela remete a duas das minhas bandas favoritas: Steely Dan e Ambrosia. Ou seja, elegância pop no mais alto nível! Outro destaque nesse sentido vai para “Sister Mercurial”, com seus teclados (cortesia de John Lönnmyr ) eletropop, guitarras inspiradas pela disco music, e tenacidade rock n’ roll.

O vocalista Björn Strid continua com seus vocais emocionais e dramáticos, sendo o destaque individual em “Golden Swansdown”, uma espécie de tributo ao lado mais emocional e radiofônico do Chicago ou do Jefferson Starship.

Resumindo: “Aeromantic” não tem nenhuma música ruim!

Continuando o comentário feito para o disco anterior: se “Amber Galactic” (2017) tem o posto de melhor dos três primeiros álbuns da banda, “Sometimes The World Ain’t Enough” (2018) virou o melhor dos quatro! Já “Aeromantic” ganhou de todos os cinco!

FAIXAS:

1. Servants Of The Air
2. Divinyls
3. If Tonight Is Our Only Chance
4. This Boy’s Last Summer
5. Curves
6. Transmissions
7. Aeromantic
8. Golden Swansdown
9. Taurus
10. Carmencita Seven
11. Sister Mercurial
12. Dead Of Winter

FORMAÇÃO:

Björn Strid »» vocal
David Andersson »» guitarra
Sharlee D’Angelo »» baixo
Sebastian Forslund »» guitarra, percussão, efeitos especiais
Jonas Källsbäck »» bateria
Anna-Mia Bonde »» backing vocals
Anna Brygård »» backing vocals

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