Eu já até me pergunto se algum dia a assembléia que atende pelo nome de Tedeschi Trucks Band vai entregar um disco ruim?
Em “Signs”, seu quarto álbum de estúdio, Susan Tedeschi e Derek Trucks escreveram uma carta de amor ao rock n’ roll, à soul music e ao blues, imprimindo com notas musicais a essência do estilo hoje em dia batizado de americana.
“Signs, High Times”, faixa de abertura, já faz esse disco valer a pena, o que vier depois é lucro. Um soul/rock inspirado na tradição do sul, com groove, rusticidade e vocais magníficos.
Tudo bem que mais à frente “Shame” mostrará ser também um tesouro do repertório pelas guitarras encharcadas de tenacidade bluesy, os vocais dramáticos e os naipes de metais inflamados.
Os vocais de Susan estão ainda mais poderosos e emocionais, enquanto as guitarras de Derek estão ainda mais afiadas, com timbres empoeiradas e cheios de feeling.
Verdade seja dita, a Tedeschi Trucks Band sabe como colocar emoção numa música, algo provado nas envolventes baladas guiadas pelo timbre sensual de Susan intituladas “I’m Gonna Be There” e “All The World”, ambas compostas em parceria com Doyle Bramhall II.
“Signs” é um disco mais cadenciado, triste e sentimental sem comparado aos anteriores.
Entretanto, cabe observar que ele é fruto da perda, da redenção, da reflexão e do inconformismo em reflexo aos problemas de saúde que acometiam o tecladista Kofi Burbridge desde 2017 e do sentimento de luto pela morte de Butch Trucks, tio e mentor de Derek.
Certamente esse não é o disco que esperávamos após “Let Me Get By” (2016), mas a evolução é ditada pelo que o artista experimenta no universo ao seu redor e, sendo “Signals” claramente um disco liderado pela aura de Susan, é normal que vejamos mais sentimento que energia.
A balada “When Will I Begin”, composta por ela é a maior pista que temos disso.
Com um arranjo de violino discreto, mas eficiente, essa música é um exorcismo dos sentimentos gerados pelas mortes de amigos e familiares que aconteceram no espaço entre os dois últimos discos.
As músicas, no geral, não estão tão rústicas, os arranjos se mostram mais polidos e radiofônicos, mas isso é reflexo do ambiente em que o disco foi criado.
Até por isso, e pelo fato de terem gravado “Signs” ao vivo no estúdio do casal, de forma analógica, na cidade de Jacksonville, na Flórida, percebe-se muita sinceridade, organicidade e honestidade no trabalho.
Sim, “Signs” é um disco um pouco mais melancólico e introspectivo que seu antecessor, algo bem demarcado nas letras ou pontualmente em músicas como “Strengthen What Remains” (que soa como uma carta de despedida) e “They Don’t Shine” (que carrega certa melancolia mesmo sendo um soul/pop instigante).
Mesmo que já tenha deixado isso implícito, é preciso aqui registrar que esse é o disco de Susan Tedeschi.
Sua performance está estupenda, como podemos constatar nos momentos mais intimistas, onde soa como uma irmã roqueira de Diana Krall.
Garanto que se você chegar até a penúltima música sem se render à voz de Susan, ao menos que você esteja morto por dentro, “The Ending” irá te emocionar, simplesmente por ser uma expiação brutal de sentimentos dolorosos.
O que não significa que Derek Trucks não chame a responsabilidade para si.
Ele se mostra inventivo nas linhas de “Still Your Mind”, nos agraciando com um solo dilacerante e carregado de ensinamentos do blues, e na verve sulista de “Hard Case”, que levanta o astral do disco, mesmo que momentaneamente, com seu groove aconchegante.
No geral, a instrumentação é variada, mas o grande trunfo de “Signs” reside nas camadas sobrepostas de simplicidades.
Os mais atentos poderão perceber duas ou três citações ao Beatles enquanto exploram detalhes diferentes, mas sem perder a essência que os caracteriza.
Enfim, “Signs” é um disco que demanda mais audições para ser captado, pois sobre a camada superficial dos arranjos existe uma sobreposição complexa de sentimentos, ideias e conceitos.
Certamente um dia a Tedeschi Trucks Band entregará um disco ruim, mas não foi agora!
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