Sweet | O Glam Rock Britânico Na Essência!

 

O Sweet chamou muito a atenção na década de 1970, pela música mas também pela imagem andrógina, inspirada na fase “Ziggy Stardust” de David Bowie. Obviamente, o sucesso veio pela imagem aliada a singles de sucesso como “Alexander Graham Bell” (1971), “The Six Teens” (1972), “Block Buster” (1972), “Hell Raiser” (1973), “The Ballroom Blitz” (1973), “Teenage Rampage” (1974) e “Fox On The Run” (1974) fizeram do Sweet destacável dentro do glam rock.

Porém, eles tinham algo mais a dizer além de ser uma banda de singles ditada por produtores e compositores, e isso ficava claro nos Lados B destes singles.

Sweet - O Glam Rock Na Essência

OS PRIMEIROS ANOS DO SWEET

A banda foi formada em 1968 e até hoje é considerada uma das pioneiras do glam rock. Seu primeiro álbum, de fato, foi “Funny, How Sweet Co Co Can Be” (1971), após assinarem com a RCA, e onde o Sweet mostrava uma faceta mais leve, menos distorcida e explosiva, muito influenciada pelo T. Rex e também pelo Bee Gees. Porém, a faixa “Done Me Wrong All Right” esboçava aquilo que ouviríamos daqui uma trinca de anos.

Por outro lado, algumas músicas desse disco soam até ingenuas em alguns refrãos e arranjos, sendo que a pitoresca “Co-Co” pode estranhar aqueles acostumados apenas ao hard rock enfeitado pela estética glam dos grandes clássicos do Sweet nos anos 1970.

Mesmo assim, não dá pra ignorar pontuais bons momentos como “Tom Tom Turnaround”, “Reflections”, “Spotlight” e “Daydream”, tanto pela qualidade pop/glam rock, alinhada ao que convenciona-se chamar de bubblegum, quanto pela sintomática heterogenia das composições.

Além disso, nesse princípio já era possível vislumbrar a alta capacidade do quarteto para criar harmonias vocais brilhantes.

A FASE DE SINGLES COM NICKY CHINN E MIKE CHAPMAN

Nessa primeira fase surgem os compositores Nicky Chinn e Mike Chapman, que escreveram as primeiras composições que deram um relativo sucesso ao Sweet, como “Funny Funny”, “Little Willy” e “Wig-Wam Bam”. Muitas delas eram lançadas apenas em singles, e os lados-B eram muitas vezes preenchidos com as composições da banda, que eram bem mais pesadas.

Na verdade, de 1971 a 1974, até romperem com Nicky Chinn e Mike Chapman, o Sweet foi basicamente uma banda de singles, e teve uma corrente de hits entre 1972 e 1974. Com isso, em 1974 passam a governar o próprio destino, mesclando singles e álbuns de forma consistente e recorrente, porém, o sucesso nas paradas diminui com o passar do tempo. Apenas “Love Is Like Oxygen” entraria no Top 10 após essa ruptura.

Todavia, no que tange aos discos, pra quem gosta de um hard rock cheio de energia, enfeite glam rock e flertes com o heavy metal, a diversão começava agora, pois à partir de então eles apresentaram alguns discos interessantes na carreira. Vamos falar sobre alguns deles.

“SWEET FANNY ADAMS”(1974)

Este é o primeiro disco do Sweet sem a assistência da dupla de compositores Nicky Chinn e Mike Chapman. E se nos charts  a coisa não foi muito bem (estrearam na vigésima sétima posição, mas em duas semanas nem apareciam mais na lista), não podemos dizer o mesmo do álbum como um todo.

“Sweet Fanny Adams” chega três anos após o primeiro álbum e impressiona pela concisão das composições. Existe um fio condutor ao longo do trabalho que deixa a sensação de colcha de retalhos  do disco anterior definitivamente no passado.

Musicalmente, o Sweet está no seu auge (que iria até 1978), uma banda que gostava de solos de guitarra e os fazia muito bem, além de se estruturarem na segurança técnica e no feeling do baterista Mick Tucker.

Muito se fala, e com razão, de bateristas como John Bonham, Ian Paice, Keith Moon e Bill Ward, mas ouso dizer que baterista do Sweet estava no mesmo nível destes ícones (o que ele fará em “Man With the Golden Arm” no próximo disco é digno de mestres como Gene Kruppa e Buddy Rich).

“Set Me Free” abre o trabalho mostrando o peso proto metal que o Sweet imprimia em seu hard/glam rock, algo que se repete em “Sweet Fanny Adams” (com palhetas de dar orgulho ao Judas Priest da época) e no grande hit do disco, “Ballroom Blitz”.

E por falar em heavy metal, é sempre bom lembrar que o Saxon, um ícone da NWOBHM, regravou “Set Me Free” no seu clássico “Crusader” (1984).

Aliás, guitarras pesadas aparecem até mesmo em momentos mais melódicos e acessíveis, como na cadenciada “Heartbreak Today” (que até lembra os primeiros discos do Queen), na imperativa “No You Don’t” (essa com algo de The Who), “Rebel Rouser” e no outro grande clássico desse disco, “AC/DC” (um glam rock bem marcado e de refrão infalível)

Já “Peppermint Twist” se destaca por trazer as raízes do rock para o jogo, com batida pra dar orgulho a Chubby Checker e guitarras inspiradas no mestre Chuck Berry. A produção imprime um peso polido, mas obviamente orgânico, sem tirar o poder das guitarras vibrantes e da seção rítmica.

DESOLATION BOULEVARD (1974)

Ainda em 1974 o Sweet lança aquele que é o disco favorito de muitos dos fãs da banda: “Desolation Boulevard”, o disco que traria seu maior sucesso, “Fox on the Run”.

O material vem guiado por dois singles de sucesso, “The Six Teens” (que abre o trabalho mostrando um salto de maturidade na produção e antecipando algo que chamaríamos de AOR) e “Fox on the Run” (um hard rock de manual, com bom riff, melodias empolgantes e refrão certeiro!).

Além disso, se existiam dúvidas de influência do The Who sobre o quarteto, aqui temos um cover precioso para “My Generation”.

O timbre de algumas guitarras remetem diretamente ao que o Boston e o Reo Speedwagon apresentariam dali a poucos anos do outro lado do Atlântico, enquanto as influências de T. Rex do início eram trocadas por Queen e David Bowie, mas com a cara própria que o Sweet já tinha conseguido marcar no disco anterior.

Ouça “Solid Gold Brass” (com final que me lembrou o canadense Triumph) e “Medussa” (preste atenção na seção rítmica na hora do solo!) que você vai entender o que quero dizer. Essas faixas também mostram a evolução técnica e como compositores que o quarteto atingiu.

Alguns arranjos estão claramente mais ousados (o naipe de metais e o solo de bateria em “Man With the Golden Arm” são provas disso), os solos de guitarra melhor elaborados e aparecem nem nenhuma economia, e as estruturas firmes e por vezes imprevisíveis.

Não é exagero dizer que diversas vezes esbarras na estética progressiva.

Sem duvidas, em “Desolation Boulevard” o Sweet está mais coeso e definido, e até a oscilação constante do glam rock ao heavy metal soa equilibrada pelo fulcro do hard rock vibrante e indomado, como ouvimos em “Breakdown”.

Como se não bastasse, esse disco ainda traz “Lady Starlight”, uma das baladas mais lindas de todo o glam rock.

Antes de passarmos para o próximo destaque da discografia, cabe uma menção ao disco que viria na sequência de “Desolation Boulevard”.

Em 1975 o Sweet apresenta uma ideia interessante. Um disco duplo, onde a primeira parte era um registro ao vivo de sua turnê de 1973, na Inglaterra, e uma segunda parte sendo uma coletânea de seus maiores sucesso.

Batizado de “Strung Up”, esse material mostra uma fase da banda mais crua e poderosa, sendo que o repertório da parte ao vivo do disco é uma pedrada, com vários lados B de seus singles lançados até 1973.

Esse disco pode assustar quem acha que o Sweet é apenas uma banda glam, pois existe muito peso, principalmente nas guitarras.

Destaque à versão ao vivo de “Rock N’ Roll Disgrace”, que foi lado B do single “Ballroom Blitz” e só apareceu em um disco de estúdio da banda na reedição de 2005 de “Sweet Fanny Adams”. E obviamente a uma despojada e energética execução da própria “Ballroom Blitz”.

“GIVE US A WINK” (1976)

Os dois anos que se passaram desde os lançamentos dos dois discos anteriores podem ser sentidos na maturidade das composições deste álbum.

Não tão crú e agressivo em seu ataque, o Sweet se mostra mais elaborado e refinado em sua abordagem glam/hard rock, principalmente nos arranjos, com suas inserções de teclados e backing vocals.

As melodias de guitarra agora também estavam melhor trabalhadas, sem perder peso ou incisividade, mas sendo mais preciso e certeiro nos ataques, assim como as linhas do baterista Mick Tucker, que estava definitivamente muito inspirado neste trabalho.

Isso já pode ser sentido na abertura, com “The Lies in Your Eyes” ou no esbarrão com o heavy metal da ótima “Cockroach”, com uma cadência que lembra um Blue Oyster Cult mais pesado.

Todavia, a grande confirmação desta observação vem em “Action”, o grande clássico do disco!

Mesmo assim, como resistir à melodia cadenciada de “4th of July”, seu refrão e seu solo de hammond? Ou ao groove provocativo de “Healer” e seus detalhes funk/soul?

Nesse disco fica evidente que eles estavam acompanhando o trabalho de bandas como Led Zeppelin, Queen e Thin Lizzy.

Aliás, o Sweet encontrou aqui o perfeito equilíbrio entre as melodias aveludadas do glam e a tenacidade agressiva do heavy metal.

Uma das provas disse reside em “Keep It In”. Outras são “Yesterday’s Rain” (com um dos grandes refrãos do disco) e “White Mice” (com timbres e vozes lembrando muito o Queen).

OS DISCOS DE 1977 E 1978.

Ainda no ano de 1976, o Sweet começaria a trabalhar no que viria a ser seu próximo disco, “Off the Record”, sem dúvidas aquele com a melhor capa dentre seus discos.

No que tange aos singles, a banda já demonstrava cansaço e faixas como “Lost Angels” “Fever of Love” só conseguiram emplacar em mercados secundários, mas já iniciavam a transição de estilo que o Sweet definiria no álbum seguinte.

Aqui, as guitarras pesadas e a seção rítmica agressiva já se rendiam às facilidades do Europop do ABBA que explodia mundialmente, com um sucesso atrás do outro.

Entre “Off the Record” “Level Headed” o Sweet ficou longe dos palcos, tendo inclusive cancelado a turnê norte-americana ao lado do Aerosmith.

Para “Level Headed” o Sweet trocou de gravadora, migrando da RCA para a Polydor, em 1977.

Esse sexto álbum de estúdio do Sweet, “Level Headed”, chegou a ter influência do rock progressivo, tendo como influência óbvia o Electric Light Orchestra.

Ou seja, aquela orientação ao heavy rock de textura glam foi trocada pela estética musical mais pop, mesclando baladas com canções recheadas de orquestrações.

Isso á algo marcante em “Love Is Like Oxygen”, não por acaso o último single da banda a atingir o TOP 40.

Outra música divulgada do trabalho foi “California Nights”, mas ela não passou do número #76 das listas norte-americanas de sucesso.

Porém, o mais marcante nesse trabalho foi o fato de ser o último com a formação clássica da banda.

Logo após, Brian Connnolly foi demitido da banda por causa do abuso de álcool e o Sweet seguiu como um trio, mas o sucesso não veio e logo a banda acabaria, mas antes teríamos mais dois álbuns.

A CONTURBADA DÉCADA DE OITENTA E O FIM

A partir desse ponto a carreira do Sweet se torna uma sucessão de fracassos e muitas mudanças de formações.

O primeiro álbum desse período em que o trio remanescente dividia os vocais foi “Cut Above The Rest”, lançado em 1979, mas o resultado é tão medíocre quanto a posição do single para “Call Me”.

O fato é que o Sweet era uma banda perdida entre sua própria identidade e a indecisão de abraçar o europop do ABBA ou o art rock ELO ou do 10cc.

Esse disco começou a ser gravado por Brian Connolly, mas os vocais foram refeitos no TownHouse Studio, de Londres, por Steve Priest e guitarist Andy Scott. Algumas gravações com Connolly sobraram e foram lançadas mais tarde em coletâneas.

Seguem, na discografia do Sweet, “Waters Edge” (1980) e “Identity Crisis” (1981), que apesar de serem melhores que “Cut Above The Rest”, principalmente por faixas como “Sixties Man”, “Give the Lady Some Respect” e Hey Mama”, ainda sovam menores.

Porém, a banda já havia acabado quando estes discos foram laçados, se não oficialmente, ao menos era um processo iniciado em 1979.

O Sweet não tocou ao vivo no ano de 1980 e na virada para 1981 chegaram a gravar o disco “Identity Crisis”, que só foi lançado pela Polydor no Mexico e na Alemanha, dois mercados fortes da banda.

O último show acontece em março de 1981 e quando “Identity Crisis” é lançado, mais de um ano depois, a banda já estava desfeita.

Em 1984, Connolly ressuscitou sozinho o Sweet, mas teve que rebatizar sua banda como New Sweet, pois seus ex-companheiros Andy Scott e Mick Tucker logo reativaram o Sweet oficial.

Logicamente tivemos problemas judiciais que terminaram com as bandas sendo rebatizadas. Agora existira o Brian Connolly’s Sweet e o Andy Scott’s Sweet, esse último sendo o único que permanece ativo até hoje.

Em 1988, tentaram uma reunião do Sweet, mas o vício de Connoly cobrava seu preço e seu estado de saúde era decadente, tanto que ele morreria em 1997, com pouco mais de 50 anos.

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