Com o passar dos anos, após encerrar o ciclo com a banda que o consagrou, Max Cavalera indubitavelmente se tornou maior que o Sepultura.
Compositor e frontman de primeira, Max conseguiu chegar onde poucos conseguem.
Grande referência para a maioria das formações do Metal atual, o cara é incansável, um autêntico “workaholic”, que respira e vive música.
Capitaneando vários projetos, foi no Soulfly onde encontrou seu verdadeiro espaço, seu refúgio onde pode criar e experimentar ao seu bel prazer.
Em termos comparativos, certamente o Soulfly ocupa hoje posição de destaque na cena, até maior que o Sepultura, mas nem é meu intuito estabelecer comparações.
Ambas são importantes, cada qual com seu público fiel.
Mantendo um ritmo constante, entre lançamentos e turnês mundiais, o Soulfly segue seu caminho, e “Archangel”, seu último trabalho, é o reflexo de um momento promissor e inspirado, onde Max, acompanhado de seu parceiro de longa data Marc Rizzo (guitarra), seu filho Zyon Cavalera (bateria) e Tony Campos (baixo) constroem um álbum denso, pesado e brutal, deixando um pouco de lado as experimentações e subversões, dando ênfase naquilo que nos move: Metal!
“Archangel” não é tão cru e visceral quanto “Enslaved”, e nem tão polido e produzido quanto “Omen”, situando-se num meio termo entre ambos.
Em termos de composição, o álbum é grandioso.
A despeito de ser apenas um guitarrista correto e nada mais, Max brilha mesmo é na concepção de grandes canções.
O cara aborda guerra, religião, política e aspectos sócio-culturais com igual maestria, e esse talento vem sido aprimorado no decorrer dos anos.
Contando com uma produção indefectível, “Archangel” começa com uma ode não só a um tipo de música, mas a um estilo de vida. “We Sold Our Souls to Metal” é auto-explicativa.
O sonho, a vida e a missão de todos nós retratados em forma de uma composição explosiva, pesada e empolgante, que flerta implacavelmente com o Hardcore.
Só esse começo já vale por uns 10 discos!
E esse foi só o começo, amiguinhos. “Archangel”, a faixa-título, expõe o lado religioso, espiritual e místico de Max na seqüência, em uma composição pesada e cadenciada, repleta de grandiosos momentos, merecendo o cargo de título do álbum.
“Sodomites” traz fortes referências bíblicas: a notória passagem de Sodoma e Gomorra travestida em um Thrash pesadíssimo, quase Doom, com trabalho espetacular de Rizzo em palhetadas de desmoronar paredes, contando com o apoio essencial de Campos na concretização desta que é uma das faixas mais importantes de “Archangel”.
Os vocais do convidado Todd Jones (Nails), juntamente com nosso anfitrião Max, tornam a composição ainda mais assustadora.
Ishtar, deusa dos Acádios, renasce em “Ishtar Rising”, demonstrando o fervor de Max por mitologia e religiões diversas, em mais uma composição orientada pelo peso e cadência, com Zyon batendo com uma força advinda do além.
Sensacional!
Aguenta mais um pouco, pois vale muito à pena. Destacam-se ainda a inflamada ”Live Life Hard”, contando com a participação de Matt Young (King Parrot), que trouxe uma dose cavalar de bestialidade à música; “Titans”, focada na mitologia grega, enriquecendo uma composição que é naturalmente brutal, com Max botando os demônios pra fora, e “Mother of Dragons” que, segundo o próprio vocalista, é uma homenagem à sua esposa, Gloria, que seria a real “mãe dos dragões”.
Uma paulada de torcer o pescoço, intercalando adequadamente velocidade e calmaria (se é que podemos chamar isso de calmaria).
Richie Cavalera, enteado de Max, além de Igor Cavalera (seu filho), fazem as honras aqui, numa participação de encher o paizão de orgulho.
A versão nacional do álbum é uma coisa de doido. Embalada em um lindo digipack, que realça ainda mais a bela obra de Eliran Kantor, somos presenteados com 3 faixas extras: “You Suffer” (aquela mesma do Napalm Death).
Muito “complexa” de ser reproduzida, mas a banda se deu bem, “Acosador Noturno” (mini biografia de Richard Ramirez, o famoso serial killer conhecido como “Caçador Noturno”).
Tony Campos divide os vocais com Max, num confronto brutal, e a desnecessária e viajante “Soulfly X”.
Acha que acabou?
Que nada!
O pacote ainda traz um dvd com o show da banda no “Hellfest” de 2014.
Coisa de fã para fã mesmo.
O Soulfly definiu seu caminho com “Archangel”, e pra quem está meio por fora, ecoa a pergunta: é melhor que o Sepultura atual? Sensivelmente, eu diria.
Não dá pra renegar as raízes. Grande disco, que merece um cantinho “vip” na estante.
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